23.4.10

Especuladores atacam Portugal "porque cheirou a sangue"

por Ilídia Pinto com Lusa, in Diário de Notícias

Portugal entrou no 'top ten' dos países com maiores probabilidades de incumprimento. Risco da dívida não pára de crescer.

Portugal entrou ontem no top ten dos países com maiores probabilidades de incumprimento com os Credit Default Swaps sobre a dívida pública a superarem os 250 pontos, atingindo novo máximo histórico. O risco das obrigações - que viria a recuar, ao fim da manhã, para os 235,40 pontos - mantém-se também como o terceiro mais alto entre os países europeus emitentes de dívida, só superado pela Grécia e pela Islândia.

Para os economistas portugueses, são estes os resultados dos ataques especulativos de que Portugal está a ser alvo e não há risco de falência da economia.

Portugal está numa situação "incomparavelmente melhor que a Grécia", mas os especuladores "viraram-se para nós porque lhes cheirou a sangue", afirmou ontem o ex-governador do Banco de Portugal Silva Lopes à RTPN. Apelidando os especuladores de "piranhas", Silva Lopes diz que a UE tem de tomar medidas "mais objectivas" para ajudar os países e que Portugal tem de "atacar a falta de poupança" e combater o aumento do endividamento externo.

Já Vítor Bento, presidente da SIBS, rejeitou que "Portugal esteja em risco de não conseguir pagar as dívidas", considerando até que, em termos de rating e spreads da dívida, "Portugal está mais próximo da Alemanha do que da Grécia".
Sobre uma eventual saída da Zona Euro, Vítor Bento diz: "Não acho que seja uma solução sequer ponderada. "O importante é a concentração na resolução do problema do elevado valor do endividamento face ao PIB, que cresceu 100% na última década."

Também Pina Moura acredita que "Portugal não está nem corre o risco de estar na bancarrota". "Parafraseando o senhor Presidente da República, seria necessário fazerem-se muitas asneiras para que isso acontecesse e não se fizeram nem se estão a fazer", diz.

Para estabilizar a economia e gerar confiança nos mercados financeiros internacionais, o ex-ministro da Economia diz que é "fundamental que se concretizem os compromissos dos planos de estabilidade e crescimento".
Pina Moura lembra que "estamos a enfrentar um movimento especulativo" porque "há sempre quem use a especulação como um instrumento para ganhar dinheiro", mas defende que "a isso há que contrapor as forças sãs das economias que integram a UE e a Zona Euro". "Estamos a travar uma batalha pela defesa do euro, a maior criação da nossa geração como europeus", sublinha.

Patinha Antão defende, igualmente, que Portugal está "mais próximo da Alemanha do que da Grécia" e considera que "há uma subavaliação das qualidades e do potencial da economia nacional". O País tem de "saber demonstrar que é capaz, como já fez antes de resolver o problema da consolidação da dívida", diz.