27.4.10

Para quando o enterro do neo-liberalismo?

por Telmo Cunha, in Diário de Notícias

O Neo-liberalismo é uma corrente de pensamento e uma ideologia, acabando por ser uma forma de ver e julgar o mundo social.


Todos temos assistido nos últimos decénios à sua aplicação nos diversos domínios da vida social. O declínio do liberalismo clássico foi vertiginoso a partir de 1929, aquando da quebra da Bolsa de Valores de Nova York. Desde então, ganharam forças, as teorias da intervenção do Estado na economia. O período de pós-guerra até à década de 60, foram os anos de maior desenvolvimento das economias capitalistas.

Depois desta época de forte intervenção estatal, a partir dos anos 80, regressaram em força as correntes liberais. A solução proposta foi a redução do poder do Estado, diminuição generalizada de tributos, privatização das empresas estatais e redução do poder do Estado de fixar preços. Margaret Thatcher destacou-se no espaço europeu, ao abraçar com determinação esta ideologia neo-liberal. Quando saiu do poder os resultados falavam por si, a pobreza infantil havia triplicado, colocando a Inglaterra no último lugar da Europa, relativamente a este índice, ao mesmo tempo que a classe mais alta via subir os seus rendimentos cinco vezes mais que a classe mais baixa, isto é, a desigualdade social aumentou então drasticamente.

A mais recente onda liberalizante teve início com a queda do muro de Berlim, tendo sida fundamentalmente promovida pelo FMI e, os economista liberais, que viam nesta corrente ideológica o remédio para reduzir a pobreza e acelerar o desenvolvimento global.

Pois bem, após todos estes anos de forte implementação destas medidas liberais, as mesmas não reduziram as desigualdades, antes pelo contrário, acentuaram-nas, e a pobreza tem aumentado de forma dramática. A desregulação dos mercados teve como consequência uma maior concentração do poder económico nas mãos de empresas monopolistas, cujo fim é apenas o lucro, não tendo a mínima consideração pelo bem-estar da pessoa humana.

Surpreendentemente, a liberalização do fluxo de capitais financeiros internacionais, que era apontada como um modo seguro de fazer jorrar o dinheiro dos países ricos para os países pobres, não aconteceu, e o que se passou foi precisamente o oposto, os países ricos passaram a receber investimentos dos países em desenvolvimento! Tudo ao contrário daquilo que os “brilhantes crânios” haviam imaginado!

E o que se passa agora com a total desorientação financeira e económica do mundo, diz bem da falência desta ideologia, que apenas se mantém pelos benefícios que dela auferem os homens que dominam o poder político – financeiro a nível global. Como não podia deixar de ser, o nosso país, sem grande expressão e poder, segue as pisadas dos que se encontram no pelotão da frente.

O recente PEC até aos próprios socialistas indignou (ler declarações de Manuel Alegre e Mário Soares, p. exemplo) Para acentuar todo este clima adverso que nos “desgoverna”, o PSD acaba de escolher Passos Coelho, que numa recente entrevista, afirmou o seguinte sobre o problema da droga: “não sei qual é a solução, mas o caminho certo é a sua distribuição pelo Estado”! Quer dizer, este senhor não sabe a solução, mas defende um caminho certo! E fazem assim com todos os problemas sociais, que exigem estudo aprofundado, coragem, discernimento e conhecimento! Estamos a viver, sem sombra de dúvidas, num tempo a que podemos chamar a “era do vazio”, num tempo em que as ideias faliram! O homem, sobretudo o político, o que dirige a sociedade, o que tem responsabilidades acrescidas, é um homem que enveredou decididamente pelo caminho do “facilitismo”, que se demitiu de pensar, de ter coragem para perseguir a verdade! Já o fizeram antes com o Aborto, com o Casamento homossexual, com a descarada mentira da Educação, com a destruição das pequenas e médias empresas, com a uniformização do Pensamento, com a alienação televisiva, a promoção do Consumismo, etc, etc, e vão continuar assim, encaminhando o “rebanho que os segue”, até ao precipício! A liberalização é sobretudo um acto demissionário, de quem não está para tomar decisões, por vezes desagradáveis e impopulares! O “deixa andar”, é mais fácil, popular e ilusório!