Por Isabel Arriaga e Cunha, Bruxelas, in Jornal Público
Entrevista a Paul De Grauwe, professor da Universidade de Leuven
O corte do rating da dívida portuguesa é justificado?
Não, mas é o comportamento típico das agências de notação, que reagem aos mercados. Como as taxas de juro aumentaram nos últimos dias, as agências cortam os ratings, o que só desestabiliza os mercados. Fazem sempre isto, é uma vergonha. O poder desta gente deveria ser restringido.
Pensa então que não se pode comparar a situação portuguesa com a grega?
Claro que não. Portugal está em muito melhor situação que a Grécia. O défice orçamental é elevado, mas no Reino Unido ou Irlanda ainda é maior. A dívida também é muito mais baixa que na Grécia, é comparável à da Bélgica. Só que as agências não reparam na Bélgica, só reparam em Portugal.
E porquê?
Porque há um preconceito no mercado, do tipo: "Ah, são do Sul da Europa? Então deve haver alguma coisa errada, não são de confiar".
Isso é racismo?
Não sei como lhe chamar, mas é um comportamento típico. Quando se é do Sul, é-se menos credível. As agências são muito anglo-saxónicas.
Se a Alemanha tivesse sido mais positiva desde o início dos problemas da Grécia, teria sido possível evitar esta crise?
Claro, mas a Alemanha não quer fazer nada. Angela Merkel não quer dar um euro antes da eleição de 9 de Maio, e nem sequer é claro o que é que fará depois. Os alemães estão completamente contra dar dinheiro [à Grécia]. Não se opuseram a dar dinheiro aos bancos alemães que fizerem coisas bem piores que os gregos.