25.6.10

D. Manuel Clemente: Igreja deve estar “na primeira linha” da luta pela igualdade

Por António Marujo, in Público On-line

O bispo do Porto e presidente da Comissão Episcopal da Cultura, D. Manuel Clemente, defendeu esta tarde, em Fátima, que a Igreja Católica deve estar “na primeira linha” da defesa de princípios como a igualdade, a solidariedade, a subsidiariedade e o desenvolvimento.

Em declarações ao PÚBLICO, durante as jornadas da Pastoral da Cultura sobre o tema da igualdade, o bispo Clemente acrescentou que estes temas “não se podem deixar cair”. E defendeu o papel da educação como “a única maneira de quebrar o círculo da pobreza hereditária”.

O bispo do Porto acrescentou que, na actual situação de desemprego e pobreza que atinge tantas pessoas, são as redes sociais de vizinhança que têm valido a muita gente. “O desemprego de meia-idade e os idosos, dos quais muitos no centro das cidades já não conseguem sair à rua” subsistem graças ao apoio de amigos, vizinhos e familiares.

O filme A Ilha da Cova da Moura, de Rui Simões, passou no início da manhã e a experiência deste bairro da periferia de Lisboa foi tomada como exemplo, por Manuel Clemente, de como a educação e a subsidiariedade podem ser importantes na mudança social.

O cineasta, que esteve presente nos debates que decorreram durante o dia, afirmou que o objectivo do seu documentário foi “mostrar o outro lado da Cova da Moura”, um bairro tido como problemático. “Só a cultura consegue mostrar a riqueza da pessoa em todo o seu esplendor”, defendeu.

Falando também após a projecção do filme, Alfredo Bruto da Costa, pioneiro dos estudos sobre a pobreza em Portugal, afirmou que se vive “uma cultura condescendente” com a desigualdade. “Não damos conta do que a igualdade significa”, acrescentou, referindo-se ao modo como são tratadas pessoas de estratos sociais considerados inferiores, como empregadas domésticas e de profissões desqualificadas socialmente.

“Os três princípios da Revolução Francesa estão ligados entre si: só podemos ser irmãos de iguais; e somos livres na condição da igualdade”, acrescentou.

Já no debate da tarde, Artur Santos Silva, presidente das comemorações da República, e o cientista Carlos Fiolhais defenderam também a importância do sistema educativo. Santos Silva destacou o pré-escolar e a criação do Rendimento Mínimo Garantido (actual Rendimento Social de Inserção) como factores que ajudaram a quebrar o ciclo da pobreza – o RMG foi a primeira acção explícita de combate ao fenómeno, defendeu.

Carlos Fiolhais afirmou ser necessário “quebrar a igualdade” do ensino, promovendo o ensino diferenciado. “Precisamos de ensino para todos, sim, mas não o mesmo ensino para todos. É preciso enfrentar a questão não menos vital da diferenciação da escola.”

Santos Silva citou ainda o antigo primeiro-ministro espanhol Felipe Gonzalez, que afirmava ser necessário, na Europa, um salto semelhante ao que se deu após a II Guerra Mundial.

No final da iniciativa, o bispo do Porto entregou, em nome do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, da Igreja Católica, entregou o prémio “Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes” ao Departamento do Património Histórico e Artístico da diocese de Beja. O prémio distingue personalidades ou instituições que se destacam no diálogo entre a fé e a cultura e já premiou o poeta Fernando Echevarria, o padre e cientista Luís Archer, o cineasta Manoel d’Oliveira e os professores universitários Maria Helena Rocha Pereira e Adriano Moreira.