por Pedro Sousa Tavares, in Diário de Notícias
Há muitas famílias que, não sendo consideradas pobres, vivem com grandes dificuldades. Com a subida dos impostos e a perda de apoios, já há quem tenha de cortar até no essencial
Uma família numerosa, em que os pais fazem todos os sacrifícios para dar aos filhos um "empurrão para a vida", em colégios privados, mas cujo orçamento limitado poderá obrigar a tomar outra opção.
Um casal com três adolescentes em casa, uma delas deficiente, que ainda não sabe se terá orçamento para mandar o filho de 19 anos para a universidade.
Um pai, com 60% de incapacidade, que já começou a cortar em alguns medicamentos e vai tentar comprar a prestações os manuais de que a filha, "aluna de quatros e cincos", vai precisar no 10.º ano.
Situações que irão agravar-se a partir de amanhã, dia em que entram em vigor os aumentos de impostos (ver exemplos).
Os três casos relatados pelo DN nestas páginas (ver textos) não encaixam no perfil de "pobreza", pelo menos segundo as definições estatísticas. Os rendimentos mensais destas famílias, entre os 900 e os 1500 euros, não lhes dão acesso aos abonos destinados aos mais desfavorecidos, nomeadamente na educação. Mas as dificuldades com que vivem não são menos reais por isso.
António Carvalho, Cristina Costa Dias e António Mendes têm realidades distintas. Há quem tenha assumido a opção de viver com menos regalias para realizar o sonho de ter uma grande família. E quem, por circunstâncias da vida, como a doença ou a perda de emprego, se tenha encontrado subitamente numa situação muito difícil, ampliada pelos aumentos de bens essenciais e a perda de alguns apoios. Todos partilham a experiência comum de viver com pouco, de procurar os produtos brancos e as promoções nas prateleiras do supermercado. Mas nem todos estavam preparados para as circunstâncias actuais, nem para o que aí vem.
"Quando pensamos nos produtos que vão aumentar, desde bens essenciais, como o pão e o leite, às energias, talvez não pareça muito", diz Albino Almeida, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais. "Mas, se juntarmos tudo isto às dificuldades que muitas famílias já sentem, a situação complica-se", acrescenta.
O líder da Confap diz que há em Portugal "milhares de famílias a passar dificuldades" cujos rendimentos, "às vezes por uns cêntimos", as excluem dos apoios da Acção Social Escolar, que comparticipa os livros e as refeições escolares. Somada aos "anunciados cortes nas deduções à colecta nas despesas de Educação", essa realidade já está a ter consequências: "Há muitas famílias que tinham os filhos em colégios e os vão tirar. E muitas com dificuldade para pagar as despesas até do ensino público."