Por António Carneiro, in RTP
Os portugueses são um dos povos da União Europeia que dizem estar a sentir mais dificuldades em pagar as contas e as prestações dos créditos no final do mês. Esta é uma das conclusões do inquérito Eurobarómetro, realizado em torno da evolução da percepção de pobreza nos 27. Um em cada seis europeus declara ter dificuldades em pagar as despesas correntes e três quartos consideram que a pobreza aumentou no seu país no último ano.
No entanto, quando o questionário acrescenta o pagamento de dívidas anteriormente contraídas, 39% dos portugueses reconhecem ser "uma luta constante". Um numero que os coloca nos primeiros lugares da lista, só ultrapassados pelos gregos (44%). De registar que, no que diz respeito a esta alínea, a média europeia se fica pelos 15%.
No que se refere a saber se "algumas ou muitas contas" ficam por pagar no final do mês, apenas 7% dos inquiridos portugueses responde que sim. Também aqui o valor se aproxima da média europeia de 5% sendo mais favorável do que o apurado na Irlanda (6%), Espanha (8%) e bastante melhor do que o da Letónia (17%), Bulgária (15%) ou Grécia (14%).
Já os cidadãos nacionais que dizem ter "por vezes" dificuldades em pagar as contas são 32%, enquanto que 22% respondem não ter quaisquer problemas e 7% admitem deixar dívidas por pagar. A média europeia no que respeita a estas alíneas é de, respectivamente, 34%, 46% e 5%.
Um em cada seis europeus afirma ter sistematicamente dificuldade para pagar as despesas. Os romenos são os que mais dizem já terem estado, nos últimos 12 meses, numa situação em que o dinheiro não chegou para pagar as contas correntes (43%). Muitos outros países do Leste da Europa, como a Hungria, Bulgária, Lituânia e Letónia aproximam-se destes números, com 30% a 37% dos inquiridos a declarem que os seus agregados familiares passaram por uma situação do género.
Portugueses encaram o presente com pessimismo
O inquérito do Eurobarómetro também investigou a percepção que os europeus têm da evolução da situação económica dos seus países. Os resultados do inquérito mostram grandes assimetrias entre as respostas dadas nos países europeus e, sobretudo, pouco optimismo, pois três quartos dos europeus consideram que a pobreza aumentou no seu país no último ano.
Também no que respeita a esta última alínea os portugueses são um dos povos que revela mais pessimismo: 91% tem a percepção de que a pobreza aumentou em Portugal nos últimos 12 meses.
Destes inquiridos, 61% consideram que a pobreza em Portugal aumentou muito, e 30% respondem que aumentou ligeiramente. Números que só são superiores na Grécia, onde 94% dos inquiridos considera que a pobreza aumentou nos últimos 12 meses.
A média dos 27 estados-membros da União Europeia (EU) é de 73%, com 38% a considerarem que a pobreza aumentou muito e 37% a dizerem que cresceu ligeiramente.
Gregos e romenos mais pessimistas quanto ao futuro
Questionados sobre a evolução das finanças familiares nos próximos doze meses, romenos e gregos destacam-se pelo pessimismo, com 76% e 69% dos inquiridos, respectivamente, a responderem que antecipam dias piores.
Em Portugal, esta previsão pessimista fica-se pelos 42%. Um numero mais em linha com o dos restantes países europeus, em que menos de metade dos entrevistados disse esperar este resultado, sendo que os menos pessimistas são os países nórdicos Dinamarca, Finlândia e Suécia, com resultados a variarem entre os 9 os 14%..
Por outro lado, os países onde mais inquiridos disseram esperar melhorias foram a Suécia (30%), a Hungria, (27%) a Estónia e a Lituânia (ambos com 25%.
De notar que, quanto mais jovens os inquiridos, mais provável é que tenham antecipado uma situação financeira melhor nos próximos 12 meses. O mesmo se passa com a diferenciação de opiniões entre os sexos, com os homens mais optimistas do que as mulheres quanto ao futuro financeiro, e os habitantes de áreas urbanas mais optimistas do que os das áreas rurais.
O inquérito revela ainda que os portugueses são o quinto povo europeu mais pessimista, no que respeita à evolução do mercado de emprego e das reformas.
Para a sondagem foram tomadas as opiniões de amostras representativas dos cidadãos dos 27 paises europeus, com idade igual ou superior a 15 anos.
Em Portugal foram questionadas 1005 pessoas, 695 através de telefone fixo e 310 via telemóvel. As entrevistas foram feitas pela Consulmark, entre 18 e 22 de Maio.