Por José Manuel Rocha, in Jornal Público
Num quadro de crise global e com um severo plano de austeridade em curso, o consumo cai e o investimento mantém-se negativo
A economia portuguesa só deverá sair da recessão em 2012, a confirmarem-se as previsões de Verão da Ernst & Young, a que o PÚBLICO teve acesso. Apesar do "inesperado" crescimento de 1,1 por cento registado no primeiro trimestre, avisa a consultora, esta dinâmica económica não irá manter-se no resto do ano nem no próximo, influenciada negativamente pela crise da dívida na zona euro e pelo programa de consolidação orçamental que o Governo colocou em curso.
O outlook para Portugal que a Ernst & Young hoje divulga aponta para um recuo de 1,1 por cento do produto interno bruto (PIB) este ano, a que se seguirá uma recessão ainda mais profunda em 2011 (1,5 por cento). O regresso a um cenário de crescimento só acontecerá em 2012, com a riqueza gerada em Portugal a conseguir um incremento de 1,1 por cento face ao ano precedente.
Este quadro constitui um completo banho de água gelada face às previsões do Governo e do Banco de Portugal. No Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) que entregou em Bruxelas, o executivo aponta para um crescimento de 0,7 por cento este ano e de 0,9 por cento em 2011. Já o banco central é menos optimista, apontando para um ganho do PIB de 0,4 por cento no ano em curso e de 0,8 por cento no que vem.
Numa primeira apreciação ao PEC português, a Comissão Europeia levantou dúvidas precisamente sobre a capacidade da economia portuguesa, num cenário de crise global e, em particular, do seu principal cliente (Espanha), conseguir níveis de crescimento como aqueles que o Governo previa. E o executivo Sócrates acabou por reforçar o pacote de austeridade com que conta colocar o défice público abaixo dos 3 por cento até 2013.
A confirmarem-se os números da consultora, Portugal será um dos três países da zona euro que se irão manter em recessão este ano e no próximo. Espanha (-0,6 por cento em 2010 e -0,2 por cento em 2011) e Grécia (-4,3 e -3,2 por cento) são os parceiros na desgraça.
Uma das ameaças que a Ernst salienta como entrave ao desenvolvimento do quadro macroeconómico é justamente o plano de austeridade que o Governo foi obrigado a implementar. A consultora refere que as medidas ao nível fiscal e social vão reduzir o rendimento disponível dos portugueses e, numa situação de desemprego a atingir o pico máximo de 11,8 por cento, o consumo privado vai sofrer as naturais consequências.
Este ano, segundo a consultora, o consumo privado deverá ter um crescimento residual, mas deverá cair mais de 2 por cento no próximo. Nos anos subsequentes deverá continuar a ter ganhos ainda marginais, a exemplo do que irá acontecer com o consumo público.
O investimento irá recuperar do tombo de 11,9 por cento, mas vai manter-se em terreno negativo - este ano a cair 3,6 por cento e, no próximo, a recuar 1,1 por cento.
Num quadro de crise generalizada a quase todos os países-membros da zona euro (destino da maioria das exportações portuguesas), as vendas ao estrangeiro escapam ao vermelho, mas irão ter aumentos a rondar os 3 por cento, insuficientes para suportarem uma retoma mais extensa da actividade económica.