Virgínia Alves*, in Jornal de Notícias
A criação da taxa bancária global, defendida por alguns países europeus não foi aceite pelos 20 países mais ricos e países emergentes, o G20, que estiveram reunidos em Toronto, Canadá. Aceite foi a redução dos défices públicos, para metade, até 2013.
A proposta de vários países europeus, como a Alemanha, França e Reino Unido, de criar uma taxa bancária global não vingou na cimeira do G20, prevalecendo a ideia já anteriormente avançada pelo Canadá de que a imposição de um imposto sobre transacções financeiras deve ser definido e aplicado por cada estado e não uma imposição global. Salientando que os contribuintes não devem pagar pelas falhas dos bancos.
A crise, os défices públicos e as dívidas públicas de muitas economias, em particular europeias, foram o centro dos debates na cimeira que terminou ontem. E o consenso foi conseguido na aceitação de reduzir os défices públicos para metade até 2013.
O anfitrião da cimeira, o primeiro ministro da Canadá, Stephen Harper, que já defendia esta medida, ontem frisou a importância da redução dos défices "e que os rácios da dívida face ao Produto Interno Bruto (PIB) devem estabilizar-se em 2016 ou pelo menos encetarem um trajecto de descida", acrescentando, que as metas agora apontadas são apenas "mínimas".
Mesmo este consenso tem vozes criticas. O ministro da fazenda brasileiro, Guido Mantega (em representação de Lula da Silva que cancelou a participação na cimeira após as inundações no noroeste brasileiro), criticou essa medida, dizendo ser favorável "a que se trabalhe com finanças sólidas, desde que não comprometa o crescimento".
As medidas de austeridade foram igualmente motivo de forte tensão durante a cimeira, com os países a divergirem depois de terem falado a uma só voz quando lançaram medidas de estímulo económico para sair da crise.
Enquanto os Estados Unidos e os países emergentes defendem a manutenção de medidas de estímulo à economia, muitos países europeus apontam no sentido contrário, aplicando medidas de austeridade fiscal.
No documento final da cimeira, os países do G20 apelam a que os estados emergentes com superavit assumam reformas destinadas a flexibilizar as suas moedas, a fortalecer os gastos sociais e em infra-estruturas.
Um apelo que surge uma semana depois da China anunciar a intenção de flexibilizar o regime de cambio, retirando a moeda nacional da cotação invariável que tinha há quase dois anos.
Manifestações
Como em todas as cimeiras do G20, os protestos sucedem-se, e como referia ontem a polícia do Canadá, alguns elementos aproveitam as manifestações pacíficas para praticarem actos de violência.
A polícia foi obrigada a intervir em diversos pontos da cidade de Toronto, e acabou por efectuar mais de meio milhar de detenções. Numa justificação dada à imprensa as autoridades referiram que os detidos se "encontravam na posse de tijolos e outros objectos que podiam colocar em perigo a segurança dos cidadãos".
* com Agências