Filipe Morais, in "Diário de Notícias"
São os mais ricos que tomam a iniciativa de querer pagar mais para aumentar investimento no ensino e infraestruturas.
Queremos pagar mais impostos. Foi o que um grupo de 51 milionários do estado de Nova Iorque pediu ao governador, o democrata Andrew Cuomo, num abaixo-assinado organizado pelo think tank de esquerda Fiscal Policy Institute e pelo Responsible Wealth Project. Em causa não está qualquer sentimento de culpa destes milionários, mas a vontade de garantir a viabilidade económica de Nova Iorque a longo prazo.
No fim deste ano terminam as taxas mais reduzidas para famílias mais pobres, mas estes milionários defendem que os impostos para os mais ricos devem ser aumentados em 1%, para que haja mais "justiça fiscal". E como mais ricos, ou sujeito a estas taxas, entenda-se quem tenha rendimentos superiores a 665 mil dólares anuais (583 mil euros). Esta verba extra, defendem, tem de ser aplicada não só em infraestruturas, mas também em ensino, no combate à pobreza e apoio aos sem-abrigo. "Como nova-iorquinos, temos beneficiado da capacidade económica do nosso estado e temos tanto a responsabilidade como a capacidade de pagar a nossa quota-parte", afirmam. No abaixo-assinado, mostram-se ainda "profundamente preocupados com a situação de muitos nova-iorquinos, que enfrentam uma luta económica e com a situação das infra-estruturas do estado a precisar de atenção desesperadamente", pelo que apelam ao governador e legisladores para que aprovem o aumento de impostos de 1%.
Entre os apoiantes deste plano estão Steven Rockefeller, já na quarta geração da família Rockefeller, Elspeth Gilmore, que recolhe donativos de milionários abaixo dos 35 anos com objetivos filantrópicos, e Joshua Mailman, filho do inventor e filantropo Joseph Mailman. Na carta sublinham que "é uma vergonha que a pobreza infantil no estado de Nova Iorque esteja num nível recorde, ultrapassando os 50% em alguns dos centros urbanos. O estado tem um número recorde de famílias sem-abrigo, mais de 80 mil pessoas, que lutam para sobreviver. E há muitos adultos sem qualificações necessárias para poderem sobreviver na economia do século XXI". A carta acrescenta ainda que "agora é o momento de investir na viabilidade económica de longo prazo de Nova Iorque, com um forte sistema de ensino", de investir em pontes, túneis, edifícios públicos e estradas "de que todos dependemos".
O aumento de impostos de 1% é classificado como "um sacrifício partilhado" que vai acabar por resultar "na criação de emprego, trabalhadores mais qualificados e uma redução da desigualdade. "Entre os que têm o 1% dos rendimentos mais altos, há a obrigação de contribuir para o setor público com uma taxa mais alta do que os outros", defende Lewis Cullman, um dos signatários.