Há quem "adore" procrastinar – adiar ou prolongar uma tarefa, compromissos ou atividade – e quem, pelo contrário, sofra da síndrome oposta: o da “precrastinação”. Trata-se de pessoas que levam muito a sério o ditado “não deixes para amanhã o que podes fazer hoje” e vivem obcecadas em riscar da lista de tarefas as coisas que têm para fazer. Mas será que o querer fazer tudo demasiado depressa comporta riscos? A verdade é que a máxima eficiência também tem um lado negativo.
Estar acordado até à meia-noite a fazer algo para o qual ainda se tem uma semana, significa, por exemplo, roubar tempo ao sono ou ao lazer desnecessariamente. E a verdade é que essa vontade de fazer tudo o mais rápido possível pode gerar mais stress. Além disso, mais tarde podemos chegar à conclusão de que a tarefa em questão poderia ter saído melhor se tivesse sido ponderada ou realizada com mais tempo.
Tal como explica o El País, o psicólogo David Rosenbaum, investigador da Universidade da Pensilvânia, batizou em 2014 este fenómeno, ainda pouco estudado, de “precrastinação”. "Consiste na necessidade compulsiva de realizar todas as tarefas pendentes antes que seja realmente necessário, mesmo que isso signifique um esforço adicional", explica a psicóloga Eva María Rodríguez, do Centro de Psicologia Vitei. “A pessoa que precrastina tem necessidade de realizar rapidamente as tarefas da sua lista, sem parar, por exemplo, para discernir o que é urgente do que é importante, avaliar o esforço exigido, o tempo ou os recursos disponíveis”, refere a responsável ao jornal espanhol.
Quais os sintomas da “precrastinação”?
Joaquín T. Limonero, da Sociedade Espanhola para o Estudo da Ansiedade e Stresse (SEAS), deixa alguns exemplos:
Comprar a primeira coisa que se encontra por um bom preço nos saldos, sem esperar para ir a mais lojas e comparar;
Comprar presentes de Natal o quanto antes, sem pensar muito se as pessoas vão gostar;
Num novo emprego, esforçar-se para ser muito rápido, mesmo que isso afete a qualidade do que entregamos;
Responder a emails assim que os recebemos, mesmo que não sejam urgentes;
Etc..
Em geral, explica o especialista, o problema subjacente é o mesmo dos procrastinadores: existe uma situação que a pessoa vive de uma forma diferente, que causa angústia e desconforto. Na prática, os “precrastinadores” querem parar de sentir ansiedade ou outra emoção negativa, e isso também pode ser confundido com uma falsa produtividade. Ser uma pessoa rápida, nem sempre é sinónimo de eficiência.
Carmen González Hermo, vice-secretária do Colégio de Psicólogos da Galiza (COP Galiza), concorda com esta avaliação. “Parece que valemos mais, quanto mais fizermos”, diz ao El País.
Como resolver o problema da “precrastinação”?
Para os especialistas é importante, antes de mais, tomar consciência do problema que se tem, seja por “precrastinação” ou procrastinação, e quais os efeitos no estilo de vida. É fundamental o autoconhecimento, ou seja, conhecer os nossos padrões, porque é que fazemos determinada coisa, como pensamos, sentimos, e de que forma isso afeta o nosso bem-estar.
Será por isso importate, por exemplo:
Fazer uma lista de tarefas com prioridades e horários – há coisas que não são realisticamente urgentes;
Tentar trabalhar com calma e evitar descargas emocionais negativas;
Aprender técnicas de regulação emocional, consultando um profissional para o efeito;
Parar de se sentir culpado por fazer ou não fazer algo que não podemos riscar de uma lista.