O país deve apostar na investigação, na prevenção e na literacia para um envelhecimento mais saudável, concluiu o painel de mais uma webtalk sobre os desafios associados à longevidade
A ciência e a literacia na área da longevidade e a preparação de Portugal para promover um envelhecimento saudável foram os temas centrais abordados em mais uma webtalk do projeto do Expresso dedicado à Longevidade.
Dividido em três conversas, o painel desta quarta-feira contou com a participação de Cláudia Cavadas (líder do grupo de Neuroendocrinologia e Envelhecimento do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra), Helena Canhão (diretora da NOVA Medical School), Daniel Riscado (responsável do Centro de Transformação da Fidelidade), Pedro Pimentel (diretor-geral da Centromarca), Maria do Rosário Zincke (presidente da Alzheimer Europe) e Sofia Sousa Roque (coordenadora executiva da Digital Health Portugal). O diretor-adjunto do Expresso, Martim Silva, moderou o debate.
Estas foram as principais ideias em discussão:
INVESTIGAÇÃO
Na Universidade de Coimbra, o grupo liderado por Cláudia Cavadas dedica-se à análise da forma como as células envelhecem, isto é, “perceber os processos” para que seja possível intervir, de forma a que as doenças surjam “o mais tarde possível”. Pretende-se que o trabalho em laboratório venha, no futuro, a ter impacto nas políticas públicas.
Já na NOVA Medical School, Helena Canhão destaca o trabalho de investigação centrado no indivíduo e nas populações. Trata-se de perceber quais são as características para, depois, “tentar modificar padrões e comportamentos”, algo que é “muito difícil”. Está em causa uma “validação clínica” de inovação e novas tecnologias, avaliando o impacto e repercussão na qualidade de vida.
APOIO
Para Cláudia Cavadas, é necessário mais financiamento para a investigação dedicada ao envelhecimento, área em que há agora um maior interesse. É também preciso investir no apoio domiciliário, segundo Helena Canhão: a tecnologia existe no nosso país, mas há desigualdade no acesso.
Por exemplo, há países em que dispositivos como luzes que se acendem com sensores ou apoios para a casa de banho são comparticipados, “enquanto cá, quem não pode pagar essas ajudas, tem uma qualidade de vida completamente diferente do que quem pode”.
PREVENÇÃO
A prevenção é “muito importante” e, para tal, precisamos de “políticas de saúde e não de doença”, indica Cláudia Cavadas. Além de preventiva, a medicina deve ser também preditiva, personalizada e participativa, uma vez que a genética e os comportamentos são diferentes.
Também em termos de prevenção, Maria do Rosário Zincke salienta que a Estratégia da Saúde na Área das Demências “tem estado parada”. É preciso uma “aposta séria na prevenção” e atuar ao nível dos fatores de risco – como o isolamento social – e da intervenção não farmacológica.
LITERACIA
Para a presidente da Alzheimer Europe, o grande desafio tem sido contribuir para a literacia dos cuidadores e dos decisores políticos, mas também das próprias pessoas com demência, o que significa “assegurar que conhecem o seu diagnóstico e a partir daí conseguem planear o futuro, e dar a conhecer os seus direitos”.
Neste contexto, as crianças podem assumir um papel relevante em termos de “veículo de informação”. Sofia Sousa Roque aponta, no mesmo sentido, uma “permeabilidade grande da informação” transmitida pelos mais novos.
Tudo isto porque, de acordo com Maria do Rosário Zincke, “ainda há muito trabalho a desenvolver no combate ao estigma e às ideias erradas sobre o que é uma pessoa com demência”. Estas pessoas “podem ter um papel ativo na sociedade” e devem ser envolvidas nas tomadas de decisão.
PROBLEMA DEMOGRÁFICO
Pedro Pimentel alertou que Portugal tem um “problema sério a nível demográfico”. Em cerca de 100 anos e “se nada for feito”, o país passará a ter aproximadamente seis milhões de habitantes, uma perda que “só pode ser compensada com reforço de natalidade e através de imigração”.
PROPÓSITO
Em vez de estruturar a vida em três fases – estudo, trabalho e reforma –, Daniel Riscado considera fazer sentido acrescentar uma outra fase, antes da reforma, com um “desacelerar mas um contributo ativo”. É que a existência de um propósito tem um “grande impacto positivo” na longevidade. “O facto de estarmos a contribuir para algo tem um papel enorme em vivermos bem”, resume o responsável do Centro de Transformação da Fidelidade.