Mara Tribuna texto Jornalista, in Expresso
Com mais procura e menos oferta, os preços médios dos quartos aumentaram mais de 10% no último ano. Lisboa e Porto são as cidades mais caras, mas o fenómeno é transversal ao país
No último ano, a oferta de quartos disponíveis para arrendar a estudantes reduziu-se 14%. Se em agosto do ano passado existiam 3347 quartos livres, agora há 2892, mostra o relatório mais recente do Observatório do Alojamento Estudantil, publicado no início do mês. A par da menor oferta, os preços aumentaram 10,5% nos últimos 12 meses e, atualmente, o custo médio por quarto em Portugal é de €349.
Sem surpresas, Porto e Lisboa praticam os preços mais altos, com o valor médio a rondar os €425 e €450, respetivamente. Ao mesmo tempo, são as duas cidades com o maior número de quartos disponíveis (1148, no total). Ainda assim, a oferta não se compara com os anos anteriores. “A partir de agosto de 2021 a oferta começou a diminuir, e a maior viragem aconteceu em Porto e Lisboa”, diz Guilherme Farinha, um dos fundadores da Alfredo Real Estate Analytics, a empresa portuguesa responsável pela plataforma e relatórios do Observatório do Alojamento Estudantil.
Antes disso, durante o ano letivo de 2020 não houve tanta procura “por causa da pandemia”. Durante esse período, “a oferta foi muito constante” mas desde 2021, com o “levantamento das restrições” e o “retomar da normalidade”, “começou a diminuir progressivamente”. “Por outro lado, e como consequência da maior procura face à menor oferta, o preço médio dos quartos tem aumentado”, constata ainda Guilherme Farinha.
Apesar da capital e da Invicta serem as cidades mais caras, a variação de preços face ao ano passado não foi assim tanta (+12,5% e +6,3%, por ordem). Por outro lado, Portalegre foi onde se registou a maior variação percentual (+33%) no preço médio dos quartos (€200). O presidente do Instituto Politécnico de Portalegre, no Alto Alentejo, oferece várias justificações para este crescimento.
349 euros é o preço médio por quarto em Portugal. Oferta de alojamento tem-se reduzido desde 2021
Em primeiro lugar, houve um “aumento muito significativo da procura pelo Instituto Politécnico de Portalegre, não só a nível nacional, mas também internacional”, começa Luís Loures. Como há muita procura e pouca oferta, “é a lei do mercado a funcionar”. Outro fator que contribuiu foi a “inflação no efeito especulativo”: a fatura energética foi uma das que mais aumentou e, normalmente, os alunos pagam os quartos já com as despesas incluídas, contextualiza o professor.
Luís Loures ressalva que os valores do relatório podem ser “enganadores” porque não incluem os alojamentos do “mercado paralelo”, ou seja, “os senhorios que não passam recibo”. De facto, a análise da oferta é feita através da recolha de fontes públicas de informação, como portais imobiliários e sites de agências do sector, bem como residências públicas para estudantes, especifica o relatório.
Há outros “fatores a influenciar” os resultados. Como alerta ainda o presidente do Instituto Politécnico de Portalegre, a variação é mais sentida nos locais onde “o preço dos quartos era mais reduzido”. “Tratando-se de uma variação percentual, havendo uma alteração ainda que pequena no custo, esse aumento torna-se mais significativo e acaba por se notar mais” do que em Lisboa e no Porto, já habituadas a valores mais altos.
PROBLEMAS PODEM SER ATENUADOS
Perante as dificuldades relatadas pelos estudantes, as associações académicas propõem várias soluções para facilitar o acesso à habitação. Uma das medidas sugeridas por Catarina Ruivo, presidente da Federação Académica de Lisboa, é reservar vagas para estudantes deslocados de 1º ano em residências universitárias. Outra resposta passaria por “aumentar significativamente o valor do complemento ao alojamento e permitir o seu usufruto a todos os estudantes deslocados até ao 3º escalão de rendimentos em IRS”.
Já a presidente da Federação Académica do Porto diz, por exemplo, que devem ser considerados benefícios fiscais aplicados ao arrendamento para estudantes a preços acessíveis, de maneira a aumentar a oferta disponível e a fazer face à escassez na rede pública. Ana Gabriela Cabilhas deixa uma questão ao Governo e às instituições de Ensino Superior: “Como é que ainda não conseguiram, desde 2018, com o Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior, e após sucessivos anúncios, alargar significativamente a rede pública das residências dos Serviços de Ação Social?”