in Jornal Público
O prémio Nobel da Economia Joseph Stiglitz considerou ontem que as recentes mais-valias realizadas nas bolsas demonstram que os investidores têm sido "irracionalmente exuberantes" relativamente à recuperação da economia.
"Há um grande risco dos mercados estarem a ser irracionalmente exuberantes", afirmou o Nobel da Economia em Istambul, numa entrevista à televisão da agência de notícias económicas Bloomberg.
Stiglitz diz que há sinais de recuperação, mas ainda não devidamente consolidados. O mercado imobiliário ainda não saiu da crise e mantém-se a incapacidade de muitos consumidores conseguirem pagar os saldos dos seus cartões de crédito devido ao aumento ao desemprego.
Os comentários de Joseph Stiglitz surgem depois de o professor da Universidade de Nova Iorque Nouriel Roubini - o economista que previu a actual crise económica - considerar que "os mercados subiram demasiado, demasiado cedo e demasiado rápido" e de o bilionário George Soros ter alertado, na semana passada, que a recuperação da economia norte-americana será "muito lenta".
Os Estados Unidos perderam 7,3 milhões de empregos desde Dezembro de 2007, altura em que a economia entrou em recessão, e a taxa de desemprego atingiu o seu valor máximo em 26 anos no mês de Setembro.
"É muito claro que a situação vai continuar a piorar", afirmou Sitglitz, citando elementos do relatório do emprego do Departamento do Trabalho dos EUA divulgados no final da semana passada.
Relativamente à situação actual da economia, Stiglitz estimou que o crescimento económico, em 2009 e em 2010, será "curto" face ao que os Estados Unidos precisariam para impedir o crescimento do desemprego.
A probabilidade de a economia norte-americana estar "fora de perigo" antes da maioria das medidas do pacote de estímulos do Governo norte-americano acabar, em 2011, é "muito pequena".
Nouriel Roubini, apelidado por muitos como o "profeta da desgraça", alertou numa entrevista para o "risco de correcção, especialmente quando os mercados se aperceberem que a recuperação não será rápida nem em forma de V, mas mais provavelmente, em forma de U (lenta e prolongada)." Roubini teme mesmo que os principais índices bolsistas possam cair nos próximos meses e que os preços das matérias-primas conheçam importantes desvalorizações.
Stiglitz defendeu, recentemente, que a saída da crise pode ser em W (recuperação seguida de nova quebra e posterior retoma). A extinção dos planos de estímulo económico lançados um pouco por todo o mundo pode ditar um nova cenário de contracção na conjuntura global, sustentou o economista.
Nos últimos seis meses, os principais mercados têm conhecido importantes valorizações, a um ritmo muito superior ao da retoma económica. O Standard & Poor"s, que reúne as 50 mais importantes cotadas de Nova Iorque, acumula neste momento um ganho superior a 50 por cento face aos mínimos de há um ano. A valorização do Dow Jones, que agrupa as empresas industriais e de serviços, vai nos 48 por cento. Lusa