por Carla Aguiar, in Diário Notícias
Maioria dos trabalhadores diz que igualdade de oportunidades e salários são os temas mais preocupantes
O estado das relações laborais no País é considerado mau por 36,5% dos portugueses, sendo que a maioria dos trabalhadores coloca em primeiro lugar a preocupação com a igualdade de oportunidades no local de trabalho e só depois o sistema de carreiras e salários. As conclusões, algo surpreendentes, constam do primeiro estudo realizado sobre o "Estado das Relações Laborais em Portugal", a que o DN teve acesso, encomendado pelo Observatório Português de Boas Práticas Laborais e coordenado por Paulo Pereira de Almeida, do Instituto de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE).
A percepção que os trabalhadores têm das relações laborais em termos nacionais é mais negativa do que a avaliação que fazem da situação nas empresas em que trabalham, visto que, neste caso, cerca de 40% classificam-na como positiva (ver quadros). Em todo o caso - e porque há sempre várias maneiras de ler os números - uma significativa percentagem dos inquiridos adopta uma resposta neutra, o que faz com que só 22% dos portugueses estejam satisfeitos nesta matéria, a nível nacional.
A neutralidade de quase 34% dos 1714 inquiridos sobre uma matéria que diz respeito ao quotidiano de todos os trabalhadores é interpretada pelo coordenador do estudo como "reveladora de uma certa apatia". Segundo o sociólogo do Trabalho Paulo Pereira de Almeida, "os dados parecem revelar algum desconhecimento e apatia sobre os fenómenos laborais, o que remete para necessidade de uma intervenção sindical mais activa, através, por exemplo dos 'animadores' sindicais". Dos inquiridos, 60% não são sindicalizados.
Questionados sobre os três aspectos mais importantes, os portugueses apontaram em primeiro lugar a igualdade de oportunidades entre trabalhadores como o tema que mais os preocupa, que reuniu 16% do consenso. Seguem--se, por ordem, as carreiras e remunerações, o diálogo com as hierarquias, a saúde e segurança no trabalho e o horário de trabalho.
O estudo, que é hoje apresentado, será o primeiro de vários que o Observatório pretende realizar, para reflectir sobre a importância das relações laborais e do sindicalismo para a evolução das empresas, da economia e da sociedade. Aquele organismo é apoiado pela União dos Sindicatos Independentes, que, segundo outro estudo por si encomendado, conclui que um quinto dos portugueses quer sindicatos mais prestadores de serviço e independentes dos partidos políticos.