2.2.10

Testes de recuperação são fracasso

por Ana Bela Ferreira e Joel Balsinha, in Diário de Notícias

Professores queixam-se de que as provas para estudantes que faltam têm efeitos perversos


As provas de recuperação para os alunos com excesso de faltas não trazem vantagens e até podem ter resultados perversos, uma vez que prejudicam os bons estudantes, garantem os professores de várias escolas contactadas pelo DN. Por isso, a opinião é unânime quanto à necessidade de mudar o Estatuto do Aluno, tal como pedem os sindicatos e movimentos independentes de professores e as associações de estudantes.

Docentes, como Anabela Almeida da Escola Secundária Alves Martins, em Viseu, até admitem que, "num primeiro momento, o processo [que exige uma prova de recuperação aos estudantes que não vão às aulas] inibiu os alunos de faltarem". Mas "depois, quando perceberam que as provas de recuperação não serviam para reprovarem, voltaram a faltar", reconhece. Da mesma forma, o professor Paulo Ferreira da Escola Secundária José Falcão, em Coimbra, admite que este sistema "não tem o impacto que deveria ter".

Já o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Albino Almeida, recusa a ideia de que as provas de recuperação sejam inúteis e que beneficiem os alunos faltosos. "Os alunos que faltam porque querem não passam de ano porque não têm as aprendizagens necessárias. Por isso, quando se ouve dizer de forma mentirosa que os alunos passam mesmo faltando, isso apenas dá uma má imagem da escola", refere o dirigente. E acrescenta: "Como é que uma escola passa um aluno sem a aferição dos seus conhecimentos? Se isso acontece, a instituição não está a fazer o seu trabalho."

A Confap está a recolher propostas de alterações ao Estatuto do Aluno para apresentar ao Ministério da Educação. A tutela já reconheceu a necessidade de mudar o documento e anunciou que vai apresentar uma proposta até final de Março.

Sindicatos e movimentos de professores sublinham que um novo Estatuto do Aluno é fundamental para garantir a ordem nas escolas. Sobretudo ao nível disciplinar. Neste momento existe uma "falta de consequências para o incumprimento por parte do aluno das suas obrigações de assiduidade e respeito aos outros e às pessoas dentro da comunidade educativa", diz João Dias da Silva, da FNE, citado pela Lusa.

Apesar das várias reivindicações, as provas de recuperação são o ponto mais criticado pelos docentes. Os representantes dos professores lembram que as faltas justificadas valem o mesmo que as injustificadas e a aplicação das provas de recuperação serviu apenas para aumentar o trabalho burocrático nas escolas. "Qualquer dia, os alunos não vão às aulas, chegam, fazem uma prova e passam de ano. E quantas provas é que o professor vai ter de fazer?", aponta Ricardo Silva, da Associação de Professores em Defesa do Ensino.

Existem, no entanto, escolas que tentam evitar as provas de recuperação prevenindo o excesso de faltas dos alunos. É o caso da Secundária Miraflores, em Lisboa. "Estamos a aplicar medidas correctivas como tarefas na escola que vão desde limpeza, manutenção do espaço escolar, trabalho na biblioteca ou ainda actividades didácticas", diz Isabel Diogo da direcção da escola.