2.2.10

Segurança Social recusa ajuda a prostituta

por Amadeu Araújo, in Diário de Notícias

Mulher de 50 anos quer abandonar a profissão, mas viu por duas vezes recusado o Rendimento Social de Inserção


Uma mulher de 50 anos que tentou abandonar a prostituição viu a Segurança Social recusar-lhe por duas vezes o Rendimento Social de Inserção. Sem ajudas voltou è estrada em Aguiar da Beira. As associações dizem que há falta de apoios para quem quer abandonar a prostituição e um "preconceito forte" dos técnicos da Segurança Social para com estes casos.

Há cada vez mais prostitutas nas estradas da região raiana. A grande maioria das mulheres, que começaram a carreira nos bares de alterne, já estão velhas para trabalhar nas boîtes e, sem outra forma de subsistência ou de apoios, prostituem-se na estrada.

Maria da Conceição, 50 anos, reconhece que tem demasiada idade para se prostituir mas tem "contas para pagar". Nascida em Setúbal veio para a raia "trabalhar no alterne", diz que pediu ajuda, "sem sucesso. Mandaram-me para a Ponte do Abade", uma zona de prostituição entre as EN102 e 229, no concelho de Aguiar da Beira.

No último Verão, Maria da Conceição fez a primeira tentativa de integração. "Inscrevi-me num curso de informática das Novas Oportunidades e andei lá até Julho." Mas acabou por desistir. "A bolsa de transporte era de 50 euros, mas só de táxi gastava diariamente 20 euros e não podia mais estar lá." Sem solução regressou "à vida".

Em Novembro, "quando chegou o frio", Maria da Conceição tentou novamente pedir o Rendimento Social de Inserção (RSI). "Foi novamente indeferido", conta. Sem o RSI não pode "aproveitar uma oferta de emprego para carenciados" e voltou à estrada.

A situação de Maria da Conceição é do conhecimento da autarquia "que pouco pode fazer", desabafa a assistente social da câmara. Ana Nifo adianta que "estes casos são acompanhados e reencaminhados para quem pode ajudar estas mulheres que é a Segurança Social", conclui.

Contactada pelo DN, a Segurança Social recusou-se a esclarecer a recusa, que então justificou com o facto de Maria da Conceição "não cumprir os requisitos".

Inês Fontinha, da associação "O Ninho", que apoia prostitutas, defende que a " Segurança Social tem o dever de ajudar, através do RSI, mas os técnicos têm um preconceito muito forte sobre estas mulheres que julgam que recebem muito dinheiro na sua actividade".

Para Manuela Tavares, da União de Mulheres (UMAR), é preciso "um amplo debate que permita dotar estas mulheres de direitos, incluindo a protecção social".