Carla Sofia Luz, in Jornal de Notícias
Conquista de novos residentes é prioridade na intervenção em quatro áreas envelhecidas
A conquista de novos residentes, sobretudo de jovens, para o Centro Histórico de Gaia é o traço comum nos planos de intervenção em desenvolvimento para as áreas da Calçada da Serra, de Cândido dos Reis, de Guilherme Gomes Fernandes e do Castelo.
A zona do Castelo tem ocupação desde o Bronze Final. As escavações arqueológicas, conta o historiador Gonçalves Guimarães, comprovam a existência de um cas-tro, de um castelo romano e de inten-sa ocupação durante a Alta Idade Média. "Era um local estratégico de controlo do rio Douro, tal como o mor-ro da Sé. O castelo foi deitado abaixo, à traição, pelos portuenses em 1384", continua. Na ausência do alcaide Ai-res Gonçalves de Figueiredo, destruíram a estrutura por ser uma ameaça ao domínio do Porto. O rei D. João I prometeu repará-lo, mas nunca cum-priu. A zona do Castelo voltou a ter funções militares no Cerco do Porto. As tropas de D. Miguel derrubaram casas, abriram caminhos para colocar um grande canhão apontado à Serra do Pilar. Quase todas as habitações imponentes foram destruídas nessa altura. "E aquela área foi-se pauperizando ao longo dos anos".
As quatro zonas padecem do mesmo mal: sobram prédios subocupados e a população está envelhecida. Uma das prioridades nos documentos estratégicos, que estão a ser elaborados, a pedido da Câmara de Gaia, pelos arquitectos Pedro Balonas, Nuno Sampaio e Ilídio Ramos, é a diversificação dos residentes, embora se perspectivem vocações distintas para cada uma das áreas. A maioria dos quatro planos encontra-se em fase final de elaboração, excepto o da Calçada da Serra.
Mas, com a entrada em operação do teleférico no Verão, o Município já dispõe de financiamento comunitário assegurado para avançar com a beneficiação das ruas de Cabo Simão e da Calçada da Serra, em Setembro. O concurso público para a reabilitação dessas artérias e da envolvente ao Jardim do Morro e ao Bairro de João Félix é aberto em Julho. A Autarquia dá o primeiro passo ao cuidar do espaço público, na expectativa de que os investidores privados sigam o exemplo.
Cobertura de duas ruas
Aliás, já há vários investimentos privados projectados ou em obra no Centro Histórico, desde hotéis a pólos comerciais voltados para o lazer. Os três quarteirões, delimitados pela Rua de Guilherme Gomes Fernandes e pelo Largo de Santa Marinha, foram eleitos para cumprir essa função.
Uma das maiores mudanças é a cobertura da Guilherme Gomes Fernandes e da Rua de França. Pedro Balonas inspira-se nas arcadas das caves Sandeman para desenhar uma galeria comercial coberta que se destina a serviços culturais, de lazer e de restauração. Sem alterar a imagem actual dos edifícios, a proposta contempla, ainda, a construção de apartamentos T1 e T2 para jovens, de residências para estudantes e de ateliês para artistas e designers de moda e de escritórios. Na Calçada da Serra e em Cândido dos Reis, sugere-se a recuperação de edifícios vazios e degradados para acolher novos residentes.
Para o Castelo, matriz de Gaia e espaço histórico e mitológico da cidade que está desqualificado e empobrecido, o arquitecto Nuno Sampaio projecta a ligação física (com percursos pedonais e novas formas de transporte público rumo ao cais de Gaia) e cultural às zonas classificadas como Património Mundial. No local onde se erguia a antiga fortaleza, propõe um restaurante/bar com vista para o rio Douro. O desenvolvimento do núcleo arqueológico do Castelo e a constituição de uma associação cultural poderão chamar turistas a um local por onde quase ninguém hoje passa.