9.2.10

Apoios ao emprego devem continuar para evitar crise social nos próximos cinco anos

Por João Ramos de Almeida, in Jornal Público

Desemprego a subir

A crise laboral pode prolongar-se por mais cinco anos após a retoma. Por isso, é imperativo manter as medidas de apoio ao emprego, sob pena de degradação do mercado de trabalho e da situação social dos trabalhadores, defendeu ontem, em Lisboa, o director do Instituto Internacional dos Estudos Laborais da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Raymond Torres, de 50 anos, nascido em Madrid, um dos autores dos relatórios da OIT de acompanhamento das medidas anticrise, falava diante de uma plateia de cerca cinquenta pessoas que vieram ouvi-lo na conferência organizada pelo Centros de Estudos Sociais de Coimbra.

A sua principal mensagem é a de que nada está ainda ganho. A rapidez e o conteúdo das medidas adoptadas foram importantes para evitar uma grande depressão. Maior segurança no emprego, apoio ao rendimento dos desempregados, aumento do salário mínimo nacional, investimentos em infra-estruturas ajudaram países como a Alemanha, por exemplo, em que o emprego caiu bastante menos que a actividade económica. Sem elas, a criação de emprego que já se espera para o terceiro trimestre de 2010 será adiada por mais um semestre, segundo o instituto da OIT.

Mas os desafios que se abrem são bem mais difíceis. Como conciliar as medidas de saneamento orçamental com o apoio ao emprego? O desfasamento previsível entre a retoma e a recuperação do mercado de trabalho durará cinco anos até atingir o nível anterior à crise. Até agora foram lançados no desemprego mais 35 milhões de pessoas em todo o mundo e existe o risco de grande parte não voltar a entrar no mercado, com custos sociais e orçamentais elevados.

Nos anos 90, quando a recessão foi bem menos acentuada, a percentagem dos desempregados de longa duração aumentou oito pontos percentuais. "Esse risco já está a acontecer", frisou. Desceram as taxas de emprego e o descontentamento social - até agora contido - pode desencadear-se caso a situação social se degrade. As desigualdades sociais serão crescentes. Esses desafios, disse, obrigam à necessidade de manter e aprofundar os apoios até agora concedidos.