5.2.10

Risco Portugal é dos mais elevados

por Rudolfo Rebêlo, in Diário de Notícias

Teixeira dos Santos e Comissão Europeia tentam acalmar "predadores", mas taxas de juro sobem.

Após a Grécia, "a presa dos mercados agora somos nós", declarou ontem Teixeira dos Santos. É a resposta do ministro das Finanças ao ataque cerrado da banca internacional à dívida pública portuguesa, depois de o comissário Joaquín Almunia ter "colado" a situação das contas públicas de Portugal e Espanha à da Grécia. As taxas de juro das obrigações do Tesouro atingiram novos máximos nos mercados internacionais, colocando Portugal no top 15 dos países com maior risco.

Para desarmar a pressão dos mercados, a Comissão Europeia emitiu um comunicado "clarificando" as declarações do ainda comissário para os Assuntos Monetários da equipa de Durão Barroso. Mais tarde, Jean-Claude Junckers, presidente do Eurogrupo, teve de intervir, declarando que "Portugal e Espanha não representam qualquer risco", enquanto Jean-Claude Trichet, o presidente do BCE, em declarações sobre a Grécia, evitou referências a Portugal e a Espanha.

Os efeitos do ataque dos mercados a Portugal foram visíveis nos meios financeiros e políticos. Tal como na quarta-feira, a Bolsa sofreu um minicrash, com as cotadas a pique (ver texto ao lado). Na frente política, a ameaça de pressão sobre as taxas de juro obrigou o ministro das Finanças a entrar em cena, tal como o ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, acusando Almunia de promover "declarações infelizes e enganadoras", quando na véspera referiu que Portugal, Espanha e Grécia "partilhavam problemas comuns", tal como a "perda constante de produtividade" e o "elevado défice público".

À Antena 1 e RTP, Teixeira dos Santos recusou paralelismos com as finanças públicas gregas e afirmou que Portugal estava a ser alvo dos animal spirits dos mercados - uma menção ao espírito predador dos investidores. Colocando água na fervura, o ministro prometeu que o plano de combate ao défice - que será apresentado na próxima semana, com o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) - "não será menos ambicioso que o grego, ajustado à realidade portuguesa".

Ontem, os investidores exigiam a Portugal uma taxa de juro de 4,7% para empréstimos a dez anos, um ligeiro aumento face ao dia anterior. Isto enquanto a Alemanha pagava uma taxa de juro de 3,21% - menos 149 pontos do que Portugal - e Espanha liquidava a 4,1%. Ao mesmo tempo, a dívida dos gregos estava a render 6,7% à banca internacional.

Mas o nervosismo dos banqueiros era ainda espelhado pela "cobertura" paga para tomar a dívida do Estado português. Alegando a deterioração "inesperada" das finanças públicas nacionais - défice orçamental de 9,3% do PIB em 2009 -, os mercados protegiam-se subscrevendo credit default swaps (CDS), um instrumento financeiro de cobertura de risco, no valor de 22,4 mil euros por milhão de euros em obrigações do Tesouro emitidas por Lisboa (ver tabela). Ou seja, em dois dias, o risco Portugal deu um salto de mais de 30 pontos, quando em meados de Janeiro era inferior ao estimado para Espanha.

Tal como os banqueiros e investidores internacionais, a generalidade dos economistas espera agora pelo Programa de Estabilidade e Crescimento. O PEC terá de mostrar como o Governo espera atingir o défice de 3% do PIB até 2013, tendo em conta que este ano as despesas ultrapassam as receitas em 8,3%. Cortes nas despesas estão já anunciados, mas não surpreenderá se surgirem aumentos de impostos indirectos para fazer crescer receitas fiscais.