18.2.10

"Tenho de provar que procuro trabalho"

Miguel Rodrigues, in Jornal de Notícias

Tem 39 anos. É divorciada e tem a cargo dois filhos, uma a estudar no ensino superior e outro de cinco anos. Há três anos que não consegue obter um emprego.

Dá a cara porque continua a acreditar que a vida é boa e que isto é apenas uma fase. O sorriso permanente no rosto demonstra que Graça Novo, apesar das imensas dificuldades que passa, acredita no que diz.

"O meu maior obstáculo é a idade. Mandei dezenas e dezenas de currículos e sei que quando vêem a minha idade, sem me conhecerem, vou logo para o monte". As empresas nas quais poderia trabalhar "preferem gente mais jovem, sem encargos nem responsabilidades", critica.

Graça Novo tem que pagar o crédito à habitação - que tem em Viana do Castelo -, as despesas dos filhos e das contas que aparecem todos os meses. "Tenho tido muita ajuda dos meus amigos, que sempre estiveram atentos e não me deixam cair", admite. "Agarro todas as hipóteses que tenho em trabalhos pontuais, sazonais, de limpeza, ou outra coisa que apareça. Tudo serve desde que seja digno". E assim vai contando euro a euro os rendimentos, questionando-se se no mês seguinte se os terá. "Não me sinto derrotada. Apenas um pouco abalada porque me sinto parada, quando podia estar a produzir".

Recebeu subsídio de desemprego e, enquanto beneficiou, o centro de emprego "chamava para algumas formações ou para ensinar a preencher um currículo, ou como ir a uma entrevista. Nunca me chamaram com uma oferta de emprego". Pelo contrário: "Era eu quem tinha que provar que estava à procura levando lá os carimbos das empresas a que fui tentar". Ou seja, "nós é que levámos trabalho feito para eles depois mostrarem aos superiores". Depois do subsídio, os contactos quase não existem: "Recebo apenas um postal de tempos em tempos para ver se quero continuar inscrita.