18.2.10

"Já pediram dinheiro a conhecidos meus"

Natacha Palma, in Jornal de Notícais

Alexandre Silva, de 55 anos, está desempregado desde Setembro de 2006. Durante 34 anos, ou seja, desde os 16, trabalhou para a histórica empresa Fosforeira Portuguesa, em Espinho, cujo fim deixou marcas profundas, traumatizantes.

Tendo começado a trabalhar logo aos 10 anos, como servente, nas férias de Verão, e depois aos 14 numa fábrica de produção de tornos mecânicos, Alexandre Silva nunca conheceu outra vida que não a do trabalho.

Hoje, é obrigado a apresentações quinzenais na Segurança Social e a ter de provar que não se deixou ficar "à sombra da bananeira" e que anda à procura de emprego. "Uma humilhação", classifica. "E nalguns casos, as empresas chegam a pedir dinheiro pelos carimbos, como já aconteceu a conhecidos meus que foram pedir emprego a empresas de Santa Maria da Feira", revela.

Durante o último ano e meio, esteve a estudar no Instituto de Ciência e Letras, no Porto, no âmbito do programa Novas Oportunidades, a fim de obter o diploma do 12.º ano. O objectivo foi, porém, outro. "Ir estudar para o Porto voltou a dar-me uma rotina. Tinha de sair de Espinho às 8 horas da manhã e só voltava às 18 horas, o que me permitiu manter um ritmo de trabalho, isto na esperança, embora infundada, de voltar a empregar-me", explica.

Terminada a formação, Alexandre Silva regressa às apresentações. "De quinze em quinze dias tenho de ir provar à Segurança Social que ando à procura de emprego e, pelo menos uma vez por mês, tenho de ir a uma empresa pedir trabalho", conta.

A resposta é invariável: não há vagas. "Recebemos essa resposta, já destroçados quanto baste, e ainda temos de suportar o cúmulo da vergonha e pedir que nos carimbem um papel para podermos provar que pelo menos andamos à procura de emprego, porque se não o fizermos perdemos o direito à prestação social", lamenta.