in Expresso online
COMO SERÁ a sociedade portuguesa daqui a cinco anos? Será mais ou menos desenvolvida?
Dois dos principais indicadores de modernidade são o grau de abertura das estruturas sociais e a coesão social.
A primeira afere-se pela mobilidade social e, em última instância, pelo peso dos estatutos adquiridos por mérito relativamente ao fechamento social conducente à conservação dos privilégios herdados pelas elites e à reprodução de desvantagens nas classes populares.
A segunda respeita aos padrões de desigualdade, à pobreza e à equidade na distribuição dos recursos e das oportunidades.São incontáveis os factores de modernização a considerar e são complexos os modos como se combinam. Por isso, em boa verdade, ninguém pode prever como vai ser a sociedade portuguesa em 2015. Mas a experiência permite relevar um domínio determinante: as qualificações.
A escola e a formação têm sido o motor mais determinante de mobilidade social em Portugal nas últimas décadas. Também não há possibilidades de promover a participação social dos grupos mais desfavorecidos sem o desenvolvimento das suas competências.
Portugal encontra-se numa encruzilhada e o seu futuro a médio prazo decidir-se-á nos anos que correm. Ou resolve decididamente alguns dos principais obstáculos à modernização social e à competitividade económica, aproximando-se dos seus parceiros europeus mais desenvolvidos, ou torna-se ainda mais segmentado do que agora.
Em vez de um país dual, teremos um paístripartido, com um pequeno segmentoeuropeizado, escolarizado e movendo-se na órbita dos sectores mais modernos da economia; um grupo intermédio, relativamente reduzido, ligado às instituições e ao mercado interno; e um terceiro segmento, pobre, porventura maioritário, alinhado por padrões típicos de países da periferia europeia e da América Latina, ligado aos sectores trabalho-intensivos da economia que forem sobrevivendo e às margens da sociedade.
Se as reformas recentes no sistema de ensino prosseguirem o seu curso, nomeadamente no domínio da formação vocacional de jovens e da criação das condições para a conclusão com sucesso, pelo menos do ensino secundário, pela grande maioria deles, se for melhor a articulação entre os agentes de educação-formação e as organizações de trabalho, se prosseguir a democratização do acesso dos adultos a percursos de educação-formação e à aprendizagem ao longo da vida, então a sociedade abrir-se-á e as oportunidades serão mais bem repartidas.
No caso contrário, evoluiremos para um padrão mais típico de países menos desenvolvidos, acentuando-se os contrastes sociais no quadro de uma estrutura social enquistada, de todo indesejável.
Este artigo foi publicado na Revista Única de 10 de Abril.