Por Maria João Guimarães, in Jornal Público
Cavaco afirma que UE não é causa dos problemas, mas faz parte da sua solução. Sócrates diz que a resposta às dificuldades é "mais Europa"
No Mosteiro dos Jerónimos de novo, Portugal e Espanha de novo - mas desta vez com José Sócrates e Rodriguez Zapatero a discursar e Mário Soares e Felipe González na assistência. Vinte e cinco anos antes depois da adesão de Portugal e Espanha, o momento na Europa é de crise. Mas a opção europeia nunca foi posta em causa.
Fotos do então primeiro-ministro português, Mário Soares, de óculos de massa, e do seu homólogo espanhol, Felipe González, no mesmo cenário, lembravam ontem a cerimónia de há 25 anos.
O cenário é o mesmo, estão cá alguns protagonistas, mas o entusiasmo deu lugar a alguma introspecção e preocupação. O momento é de crise, sem dúvida, mas a hora é, apesar de tudo, de celebração.
José Sócrates começou por citar Mário Soares louvando a União Europeia (UE) como "não só um mercado de bens e serviços, mas um espaço de liberdade e humanismo". E depois, o papel de Portugal: "Não fomos só espectadores. Fomos actores empenhados da construção europeia", disse, lembrando que Portugal e Espanha "estiveram sempre na primeira linha da construção do espaço europeu".
Agora com "perfeita consciência dos desafios", Sócrates defende que a crise, que "colocou mais em evidência a interdependência das nossas economias", será resolvida com "mais Europa e não menos Europa".
O primeiro-ministro espanhol, José Luís Rodriguez Zapatero, falou também destes 25 anos na UE como os melhores de Portugal e Espanha, não só individualmente como nas suas relações bilaterais. "Até princípio dos anos 80, Portugal e Espanha viviam de costas voltadas", mas hoje "vivemos o período de maior entendimento e cooperação de toda a história".
Do lado das instituições, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e o presidente do Parlamento Europeu (PE), Jerzy Buzek, sublinharam a necessidade de reformas: "Neste momento de dificuldade reformas estruturais são essenciais", defendeu Barroso. "Há 25 anos Portugal fez uma escolha pela estabilização e democracia. Hoje irá fazer uma escolha que vai afectar os próximos 25 anos", afirmou Buzek, garantindo: "Vocês não estão sozinhos. A Europa está convosco não interessa quanto tempo durem as reformas."
Abertura a todos
O Presidente do PE disse ainda que quando Barroso foi escolhido como presidente da Comissão Europeia "este foi um sinal forte de que a Europa está aberta a todos os países".
O Presidente português, Cavaco Silva, expressou, pelo seu lado, "o reconhecimento devido a todos os que contribuíram" para a adesão de Portugal à então CEE sem, no entanto, nomear ninguém.
O balanço destes 25 anos, disse, é "extremamente positivo". "Nos tempos actuais, fora da Europa unida, Portugal enfrentaria dificuldades bem maiores e teria menos capacidade para lhes responder", considerou. E reafirmou: "A integração europeia não é a causa das dificuldades, antes representa a resposta aos problemas". Ainda assim, há algo que enfraquece a integração europeia: "a falta de sentido estratégico e falhas de responsabilidade e de solidariedade, quer dos Eestados, quer das instituições europeias", é o problema.
E o Presidente foi ainda mais longe falando da moeda única: "Se não defendermos o euro, que continua a ser um instrumento decisivo para a Europa enfrentar o mundo global, nomeadamente a União Económica que tem sido o elo mais fraco da União Eu- ropeia, a sobrevivência do projecto europeu pode estar em causa."
"O desafio da integração europeia é um desafio permanente", disse Cavaco Silva. "Sei bem que Portugal enfrentará sempre um apertado escrutínio, seja quanto às finanças públicas e ao desempenho da economia, seja quanto à prestação portuguesa nas instituições europeias", indicou. "Cabe-nos a responsabilidade de saber estar à altura desse desafio". Isto porque "Portugal quer continuar na primeira linha da construção europeia".
A voz mais dissonante ouviu-se antes da cerimónia nos Jerónimos. O antigo Presidente da República Ramalho Eanes falou aos jornalistas antes de entrar no mosteiro e teceu duras críticas à UE, que, disse, não passa de uma união económica, "por falta de empenho, liderança e vontade" dos seus líderes. Eanes mostrou-se pessismista: "Não há capacidade de resposta às crises que se levantam, que deveriam ser oportunidades para mudança e não razões para estacionar", disse.

