6.1.12

Crise da zona euro: prémio de risco de 5 países disparou

Jorge Nascimento Rodrigues, in Expresso

Itália, Espanha, Bélgica, França e Áustria estiveram quinta-feira em destaque na crise da dívida. Juros dos títulos subiram e risco de default também. Juros dos títulos italianos a 10 anos, de novo, acima do limiar dos 7%

Mais um dia de agravamento da crise da zona euro. As yields (juros) dos títulos de dívida de Itália, Espanha, Bélgica, França e Áustria subiram em todas as maturidades no mercado secundário. Se na quarta-feira o bloco da tendência altista era formado pela Espanha, França e Áustria, quinta-feira foi claramente reforçado com a Itália e a Bélgica.

O prémio de risco (spread), a diferença entre os juros dos títulos destes cinco países e os juros dos títulos alemães (Bunds) a 10 anos, ampliou-se na quinta-feira significativamente. O spread, no caso de Itália, está acima de 5 pontos percentuais, um limiar crítico.

No caso dos títulos italianos a 10 anos, os juros voltaram a galgar a barreira crítica dos 7%, e fecharam em 7,09%. O primeiro-ministro italiano Mário Monti viajou quinta-feira, de surpresa, para Bruxelas, antes de se reunir sexta-feira com o presidente francês Sarkozy em Paris. A tendência altista em Espanha é também preocupante: os juros das obrigações espanholas a 10 anos fecharam em 5,64% - no começo da semana estavam em 5,1% e no último dia de negociação de 2011 em 5,09%. Os investidores estão nervosos com a ideia de criação de um "banco de lixo tóxico", apesar de ter sido desmentido pela vice-presidente do novo governo Soraya de Santamaría, e com a indicação de que os bancos espanhóis necessitarão de realizar provisões de 50 mil milhões para ajustar o valor das suas carteiras de ativos imobiliários, segundo cálculos do Banco de Espanha (o banco central).

O leilão de dívida de quinta-feira em Paris não foi entusiasmante (como analisámos noutro artigo), o que se repercutiu no mercado secundário. Por outro lado, o que está a acontecer na Hungria (e nomeadamente o mau desempenho dos leilões de dívida de quarta-feira e de quinta-feira, a que nos referimos noutro artigo) tem impacto direto na Áustria.

Itália subiu para 9º lugar no "clube da bancarrota"


A mesma degradação das condições de crédito se verificou no mercado dos seguros contra o risco de incumprimento (designados por credit default swaps, acrónimo cds). O que se repercute na probabilidade de entrada em default (incumprimento) de uma dada dívida soberana num horizonte de cinco anos.

Este risco subiu quinta-feira ligeiramente para Portugal (de 61,22% no fecho de quarta-feira para 61,54% no fecho de quinta-feira) e mais significativamente para a Itália, Espanha, Bélgica, França, Áustria e Hungria, segundo dados da CMA DataVision.

No caso de Itália implicou a subida do país para o 9º lugar no "clube da bancarrota" (TOP 10 dos países com maior probabilidade de incumprimento), trocando de posição com o Egito. O risco italiano subiu de 36,51% no fecho de quarta-feira para 37,23% no fecho de quinta-feira e o preço dos cds continua muito acima dos 500 pontos base (fechou quinta-feira em 529,23, quando no dia anterior havia fechado em 516).

A Hungria encontra-se no 8º lugar daquele "clube" e o risco fechou quinta-feira em 40,45%, contra 39,92% no fecho do dia anterior.

Por outro lado, os níveis de risco atingidos pela França - 18,6% - e Áustria - 18,4% - são incompatíveis com a notação de crédito de triplo A que continuam a ter. A Alemanha, outro triplo A, tem apenas 9% de risco. "Os investidores tratam hoje a França como se ela tivesse uma notação de triplo B", afirmou Jean-Michel Six, economista-chefe da Standard & Poor's numa entrevista sexta-feira ao jornal francês Parisien-Aujourd'hui.

O "clube da bancarrota" conta com cinco países da União Europeia: Grécia, que lidera, Portugal na segunda posição, Irlanda na sexta, Hungria na oitava e Itália na nona.