4.1.12

“O ‘stôr’ emigrou”. Professores na sala de… embarque

por Matilde Torres Pereira e Ricardo Vieira, in RR

Vários professores-emigrantes falam da suas experiências e da sugestão de deixar o país, feita por Pedro Passos Coelho.

A sugestão dada pelo Primeiro-ministro aos professores sem trabalho no sentido de emigrarem foi uma das polémicas que marcou o final do ano de 2011 e a Renascença quis avaliar a reacção de docentes que, antes da surgestão de Passos Coelho, tinham tomado esse caminho.

A Renascença falou com Sara Infante, Nuno Alvim, João Mergulhão e Carlos Pato, professores que um dia deixaram o país e foram dar aulas para o estrangeiro.

Foi no Luxemburgo, onde lecciona há 15 anos, que Carlos Pato ouviu o Primeiro-ministro sugerir a emigração como alternativa para docentes no desemprego. Pato, que é o presidente do Sindicato de Professores no Estrangeiro (SPE), entende que Passos Coelho "não foi muito feliz" ao sugerir Angola e Brasil como saída para professores que "investiram na sua formação académica, que gastaram dinheiro e que ficaram, inclusive, caros ao bolso dos contribuintes".

O Governo “desemprega para depois mandá-los emigrar”, acusa o professor/sindicalista, numa referência aos cortes no número de docentes de Português no estrangeiro.

“Flexibilidade é necessária”
Nuno Alvim foi para Barcelona fazer um doutoramento e por lá ficou, a dar aulas de Economia. As palavras do primeiro-ministro não lhe provocaram indignação.

Alvim defende que os portugueses têm de se consciencializar que, nos dias de hoje, “a flexibilização é necessária” e há duas possibilidades: "Ou se flexibilizam profissionalmente ou se flexibilizam geograficamente".

"Não me choca e acho que as pessoas só teriam a ganhar com flexibilização”, remata o professor emigrado na Catalunha.

A 14 mil quilómetros de casa
Sara Infante encontra-se destacada na Escola Portuguesa de Díli, em Timor-Leste, a mais de 14 mil quilómetros de Portugal.

Professora efectiva, foi para a pequena ilha no meio do Oceano Índico em sistema de mobilidade e, nos próximos anos, não pensa regressar.

"Se há tantos professores desempregados em Portugal, e, neste momento, são precisos professores noutros países de expressão portuguesa, acho que é uma experiência que deveriam ter", diz Sara sobre as declarações do Primeiro-ministro.

Em Timor-Leste, indica, “há muitos lugares para professores de Português”, pelo que basta “o Ministério da Educação abrir as portas e financiar a estadia dos professores".

Oportunidade brasileira
João Mergulhão esteve em Londres, regressou a Portugal e agora está no Brasil, onde é professor assistente na São Paulo School of Economics, uma escola da Fundação Getúlio Vargas.

A falta de oportunidades em Portugal, bem como “as condições em que a carreira é feita”, pesaram na decisão de voltar a emigrar.

João Mergulhão explica que o mercado de trabalho de professores universitários é “global”, uma vez que “nas universidades de todo o mundo, encontram-se candidatos também de todo o mundo”. Esse mercado não deixa de ser “difícil”, sobretudo, em Portugal, diz.

Quanto às declarações de Passos Coelho sobre emigração, este professor português no Brasil diz que elas “têm que ser analisadas no contexto em que foram proferidas”, embora não seja "algo que um Primeiro-ministro ou um governante deva fazer, porque é deixar cair os braços".

"O Primeiro-ministro deve dar palavras de ânimo, embora o que ele tenha dito foi o constatar da realidade. Posteriormente, veio-se agora a verificar que, tanto em Angola como no Brasil, não existem oportunidades”, sublinha João Mergulhão.