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A pobreza e a exclusão social continuam a atingir maioritariamente idosos e crianças em Portugal, mas o crescimento deste fenómeno junto dos mais jovens é particularmente preocupante por poder vir a geral uma nova geração de pobres. O alerta é da delegação portuguesa da Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN, sigla em inglês). O padre Jardim Moreira, responsável pelo organismo em Portugal, apela a uma ação concertada entre a sociedade civil e os organismos públicos e afirma que o Estado português “não pode demitir-se das suas funções sociais”.
O alerta da delegação portuguesa da Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN) baseia-se nos Indicadores Sociais 2010, publicados pelo Instituo Nacional de Estatística (INE) no passado dia 29 de Dezembro. A análise ao documento confirmou as previsões da organização de que a pobreza e a exclusão social estão a aumentar em Portugal, chegaram a novos grupos “até então vulneráveis e, agora, em risco de pobreza” e atingem maioritariamente “os que já se encontravam bastante expostos, como por exemplo os idosos e as crianças”.
Num comunicado divulgado na página da EAPN na internet, o presidente daquele pelo organismo em Portugal, considera particularmente preocupante “a precariedade de uma importante fatia da sociedade portuguesa que se encontra hoje bastante mais vulnerável a situações de pobreza e exclusão social”, seja pelo crescimento do desemprego, pela redução dos benefícios de proteção social ou pelo aumento dos seus custos.
Para o padre Jardim Moreira, mais do que encontrar as melhores formas de apoiar quem necessita de ajuda urgente, é fundamental haver uma “visão estrutural sobre o fenómeno da pobreza, sobre as suas causas e agir coerente e corretamente sobre elas”.
Novos pobres
O mesmo responsável considera preocupante o crescimento da pobreza infantil, que pode levar ao surgimento de uma “nova geração de pobres”. “O desejável seria que se verificasse uma quebra no ciclo geracional de pobreza, o que não está a acontecer nem se prevê que aconteça a médio prazo”, refere o comunicado.
O padre Jardim Moreira alerta ainda para as dificuldades vividas pelas organizações de ajuda criadas no seio da sociedade portuguesa, que dão uma forte contribuição no combate à pobreza, mas que “se encontram muito próximas dos seus limites humanos e financeiros”. E defende que o Estado português “não pode demitir-se das suas funções sociais, seja por uma devolução integral dos problemas à sociedade, seja pelo recuo nas mais básicas formas de proteção social”.
Envolvida há mais de 20 anos na luta contra a pobreza e exclusão social em Portugal, a Rede Europeia Anti-Pobreza reafirma no comunicado que é urgente “regressar a um combate à pobreza estrutural”, que atue sobre a emergência mas que “também saiba prevenir a pobreza e a exclusão social”.
Nesse sentido, o padre Jardim Moreira defende que o combate à pobreza seja o eixo principal do desenvolvimento económico. Algo que, afirma, só será possível com o contributo de todos os intervenientes, “prioritariamente os ministérios da Solidariedade e Segurança Social, Saúde, Educação e Economia e Emprego”, organismos que, no seu entender, deverão elaborar uma Estratégia Nacional de Combate à Pobreza.
A.G.P.