In "Renascença"
A secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, que chefiou a delegação portuguesa, anunciou que "Portugal está fortemente empenhado em garantir a mais elevada protecção de todos os direitos humanos".
A criação de balcões de atendimento especializados em questões de deficiência, contratação de intérpretes de língua gestual no Serviço Nacional de Saúde ou medidas fiscais mais vantajosas são algumas das propostas que o Governo quer implementar nos próximos anos.
As medidas surgem na sequência da primeira avaliação de Portugal pelo Comité das Nações Unidas dos Direitos das Pessoas com Deficiência à implementação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
Portugal está sob avaliação e na terça-feira e hoje teve lugar, em Genebra, na Suíça, a primeira sessão de avaliação, já que esta é a primeira vez, desde a ratificação da convenção em 2009, que Portugal é submetido a este processo de monitorização.
A secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, que chefiou a delegação portuguesa, anunciou que "Portugal está fortemente empenhado em garantir a mais elevada protecção de todos os direitos humanos".
Nesse sentido, sublinhou que é intenção do Governo lançar para os próximos anos uma série de medidas, sendo uma dessas medidas os Balcões da Inclusão, ou seja, postos de atendimento especializados em questões da deficiência que estarão disponíveis em todos os serviços da Segurança Social.
Por outro lado, pretende contratar intérpretes da língua gestual para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), bem como criar medidas fiscais mais vantajosas para as pessoas com deficiência, além do lançamento do sistema de apoio à vida independente.
De acordo com a secretária de Estado outra das prioridades "para os próximos meses" é a regulamentação do Código do Trabalho, com vista a uma promoção da justiça no trabalho para as pessoas com deficiência.
Ana Sofia Antunes frisou que a inclusão de quotas para pessoas com deficiência na administração pública está regulamentada por lei desde 2001, faltando, no entanto, que seja uma realidade.
Defendeu, nesta matéria, que a administração pública seja um exemplo para que o regime de quotas possa ser alargado ao sector privado.
De acordo com a governante, a protecção das pessoas com deficiência é uma preocupação central do sistema de segurança social, frisando que existem várias prestações pecuniárias com vista a proteger crianças, jovens e adultos com deficiência, quer de carácter contributivo, quer não contributivo, que são complementadas por uma rede de estabelecimentos e serviços com respostas sociais dirigidas especificamente a estas pessoas.
Ana Sofia Antunes reafirmou que é intenção do Governo lançar várias medidas "verdadeiramente promotoras de inclusão", mas que para esse objectivo ser concretizado é preciso conhecer a realidade das pessoas com deficiência, saber onde estão e "o que é necessário para melhorar a sua situação".
Revelou que o Governo está a preparar um Livro Branco que faça um retrato da situação actual e do qual irá resultar a Agenda Nacional para as Pessoas com Deficiência, medida a implementar durante a actual legislatura.
Apesar das várias medidas anunciadas, a secretária de Estado admitiu que é necessário melhorar o regime de protecção, adiantando que este está em fase de revisão e tem três objectivos essenciais: melhorar a protecção social, retirar as pessoas com deficiência da situação de pobreza e promover a empregabilidade.
31.3.16
Pela dignidade na vida
Paula Santos, in "Expresso"
Nos últimos anos verificou-se o agravamento e a degradação das condições de vida dos reformados, pensionistas e idosos, em resultado das opções políticas de PSD e CDS – baixas pensões e reformas, o congelamento da maioria das pensões (foram congeladas as pensões acima de 265 euros), o corte no complemento solidário para idosos (milhares de idosos perderam esta prestação social e muitos viram o seu montante reduzir) ou as crescentes dificuldades no acesso à saúde. O alastramento da pobreza afetou a população em geral, incluindo a população idosa.
Esta semana tive oportunidade de falar com muitas pessoas idosas, no âmbito de uma ação junto dos reformados dinamizada pelo PCP, e aquilo que me transmitiram foi que as reformas são muito baixas. Depois de pagarem a casa, água, luz e gás, sobra muito pouco para a alimentação e para os medicamentos.
Muitos disseram-me que os custos com a saúde são muito elevados. Não é por acaso que têm vindo a ser tornados públicos inúmeros elementos que dão conta que muitos idosos adiam a ida ao médico (porque não é só o custo associado à consulta, é também a deslocação e o custo associado à prescrição médica), idosos que abandonam tratamentos e a terapêutica. A introdução de critérios mais restritivos na atribuição do transporte de doentes não urgentes constituiu um obstáculo no acesso à saúde, em especial por muitas pessoas idosas.
Após uma vida de trabalho, os idosos, veem-se hoje numa situação de extremas dificuldades para viverem.
O atual governo procedeu ao descongelamento das pensões até 628,82 euros, o que é muito insuficiente. O descongelamento das pensões deve ser acompanhado do aumento do seu valor real, como o PCP tem vindo a defender e a propor.
As pessoas idosas precisam de condições de vida dignas, o que passa necessariamente pela valorização das pensões e reformas, pelo reforço das prestações sociais para quem está em situação de carência económica, pelo combate à pobreza.
É possível ir mais longe e assegurar condições de vida dignas através do rompimento com os constrangimentos que nos são impostos, da justa tributação (tributando mais os grandes grupos económicos e financeiros) e da diversificação das fontes de financiamento da Segurança Social.
Para além disso é preciso assegurar o acesso à reforma sem penalização dos trabalhadores com longas carreiras contributivas (acima dos 40 anos), retomar o pagamento por inteiro e nos meses devido os montantes referentes ao subsídio de férias e de natal, assegurar o direito à saúde e em proximidade (nomeadamente com a abolição das taxas moderadoras, a garantia da atribuição do transporte de doentes não urgente e a comparticipação a 100% dos medicamentes para doenças crónicas), assegurar a mobilidade através da redução em 50% do preço dos transportes, criar uma rede pública de equipamentos sociais para a terceira idade e incentivar a participação dos idosos na vida social, política e cultura.
A dignidade da vida tem de ser assegurada para todas as pessoas em todas as fases da sua vida.
Nos últimos anos verificou-se o agravamento e a degradação das condições de vida dos reformados, pensionistas e idosos, em resultado das opções políticas de PSD e CDS – baixas pensões e reformas, o congelamento da maioria das pensões (foram congeladas as pensões acima de 265 euros), o corte no complemento solidário para idosos (milhares de idosos perderam esta prestação social e muitos viram o seu montante reduzir) ou as crescentes dificuldades no acesso à saúde. O alastramento da pobreza afetou a população em geral, incluindo a população idosa.
Esta semana tive oportunidade de falar com muitas pessoas idosas, no âmbito de uma ação junto dos reformados dinamizada pelo PCP, e aquilo que me transmitiram foi que as reformas são muito baixas. Depois de pagarem a casa, água, luz e gás, sobra muito pouco para a alimentação e para os medicamentos.
Muitos disseram-me que os custos com a saúde são muito elevados. Não é por acaso que têm vindo a ser tornados públicos inúmeros elementos que dão conta que muitos idosos adiam a ida ao médico (porque não é só o custo associado à consulta, é também a deslocação e o custo associado à prescrição médica), idosos que abandonam tratamentos e a terapêutica. A introdução de critérios mais restritivos na atribuição do transporte de doentes não urgentes constituiu um obstáculo no acesso à saúde, em especial por muitas pessoas idosas.
Após uma vida de trabalho, os idosos, veem-se hoje numa situação de extremas dificuldades para viverem.
O atual governo procedeu ao descongelamento das pensões até 628,82 euros, o que é muito insuficiente. O descongelamento das pensões deve ser acompanhado do aumento do seu valor real, como o PCP tem vindo a defender e a propor.
As pessoas idosas precisam de condições de vida dignas, o que passa necessariamente pela valorização das pensões e reformas, pelo reforço das prestações sociais para quem está em situação de carência económica, pelo combate à pobreza.
É possível ir mais longe e assegurar condições de vida dignas através do rompimento com os constrangimentos que nos são impostos, da justa tributação (tributando mais os grandes grupos económicos e financeiros) e da diversificação das fontes de financiamento da Segurança Social.
Para além disso é preciso assegurar o acesso à reforma sem penalização dos trabalhadores com longas carreiras contributivas (acima dos 40 anos), retomar o pagamento por inteiro e nos meses devido os montantes referentes ao subsídio de férias e de natal, assegurar o direito à saúde e em proximidade (nomeadamente com a abolição das taxas moderadoras, a garantia da atribuição do transporte de doentes não urgente e a comparticipação a 100% dos medicamentes para doenças crónicas), assegurar a mobilidade através da redução em 50% do preço dos transportes, criar uma rede pública de equipamentos sociais para a terceira idade e incentivar a participação dos idosos na vida social, política e cultura.
A dignidade da vida tem de ser assegurada para todas as pessoas em todas as fases da sua vida.
Jovens participam em acção de formação sobre voluntariado
In "Correio do Minho"
Vinte e quatro formandos, na sua maioria jovens oriundos da Escola Secundária Sá de Miranda, participaram numa acção de formação geral do voluntariado, ministrada por Manuela Gonçalves, responsável pela equipa de voluntariado de proximidade da Junta de Freguesia de S. Vicente. Participaram ainda formandos que se encontram enquadrados nas actividades de voluntariado da junta vicentina.
Para Manuela Gonçalves, “estes jovens vêm reforçar, dar continuidade e promover novos projectos no trabalho iniciado pelos anteriores colegas”, salientou aquela responsável pela equipa de voluntariado.
A participação e o interesse foram generalizados e todos mostraram vontade de construir uma comunidade mais coesa e solidária, tendo como alvo as pessoas mais desfavorecidas.
Colocar estes objectivos e m prática é um grande desafio que visa ajustar a prática ao discurso.
No final da formação foi feito um apelo para a doacção de bens alimentares, uma vez que a equipa de voluntariado da Junta de Freguesia de S. Vicente luta com dificuldades nesta área, uma vez que existe uma grande procura por pessoas carenciadas.
Jorge Pires, presidente da Junta de Freguesia de S. Vicente, para além de entregar os diplomas aos formados participantes, mostrou-se bastante satisfeito pelo facto de tantos jovens estarem a aderir ao projecto do voluntariado da freguesia vicentina.
Para o autarca da freguesia de S. Vicente, “tem sido feito um trabalho extraordinário na ajuda aos nossos residentes, com muita dedicação de mais de 120 voluntários que estão disponíveis, sem qualquer contrapartida económica”.
Vinte e quatro formandos, na sua maioria jovens oriundos da Escola Secundária Sá de Miranda, participaram numa acção de formação geral do voluntariado, ministrada por Manuela Gonçalves, responsável pela equipa de voluntariado de proximidade da Junta de Freguesia de S. Vicente. Participaram ainda formandos que se encontram enquadrados nas actividades de voluntariado da junta vicentina.
Para Manuela Gonçalves, “estes jovens vêm reforçar, dar continuidade e promover novos projectos no trabalho iniciado pelos anteriores colegas”, salientou aquela responsável pela equipa de voluntariado.
A participação e o interesse foram generalizados e todos mostraram vontade de construir uma comunidade mais coesa e solidária, tendo como alvo as pessoas mais desfavorecidas.
Colocar estes objectivos e m prática é um grande desafio que visa ajustar a prática ao discurso.
No final da formação foi feito um apelo para a doacção de bens alimentares, uma vez que a equipa de voluntariado da Junta de Freguesia de S. Vicente luta com dificuldades nesta área, uma vez que existe uma grande procura por pessoas carenciadas.
Jorge Pires, presidente da Junta de Freguesia de S. Vicente, para além de entregar os diplomas aos formados participantes, mostrou-se bastante satisfeito pelo facto de tantos jovens estarem a aderir ao projecto do voluntariado da freguesia vicentina.
Para o autarca da freguesia de S. Vicente, “tem sido feito um trabalho extraordinário na ajuda aos nossos residentes, com muita dedicação de mais de 120 voluntários que estão disponíveis, sem qualquer contrapartida económica”.
Lições de guerra: as escolas em Damasco
In "Sic Notícias"
A guerra na Síria já fez mais de 270 mil mortos, dos quais mais de 13 mil eram crianças e, gerou a maior crise migratória após a 2ª Guerra Mundial. Num cenário de destruição que é a cidade de Damasco, erguem-se escolas para as crianças sírias que ficaram. Esta é uma galeria de fotos da Agência Reuters.
O conflito na síria começou em 2011 com a Primavera Árabe e a contestação a Bashar al-Assad.
Desde então o país é controlado por diversas forças, como o Daesh, a Frente al-Nusra ligada à al-Qaeda e pelos curdos.
Damasco está sob o controlo do Governo sírio.
A capital é testemunha da violência contínua gerada no país e dos ataques terroristas que pesam na vida diária daqueles que ficaram.
A guerra na Síria já fez mais de 270 mil mortos, dos quais mais de 13 mil eram crianças e, gerou a maior crise migratória após a 2ª Guerra Mundial. Num cenário de destruição que é a cidade de Damasco, erguem-se escolas para as crianças sírias que ficaram. Esta é uma galeria de fotos da Agência Reuters.
O conflito na síria começou em 2011 com a Primavera Árabe e a contestação a Bashar al-Assad.
Desde então o país é controlado por diversas forças, como o Daesh, a Frente al-Nusra ligada à al-Qaeda e pelos curdos.
Damasco está sob o controlo do Governo sírio.
A capital é testemunha da violência contínua gerada no país e dos ataques terroristas que pesam na vida diária daqueles que ficaram.
Cães de assistência mudam vidas dos doentes
Paulo Lourenço, in "Jornal de Notícias"
Cães são treinados para ajudar pessoas com paralisia, diabetes, epilepsia e meninos autistas. Ajudam em tarefas do dia a dia e já salvaram algumas vidas.
"O Sinatra está doente. Sente picadas no corpo, dói-lhe a cabeça e às vezes a barriga". O Sinatra é um labrador de seis anos e o diagnóstico é feito pelo Miguel, um menino de quatro anos. Os sintomas que descreve são, porém, aqueles com que ele próprio se debate. Portador de autismo, sente grandes dificuldades na comunicação e, até há pouco tempo, nas consultas recusava-se a explicar aos médicos o que sentia. Agora, exprime-se através do cão, uma espécie de alter ego de quatro patas, em que projeta toda a sua vida. "É a ponte entre dois mundos. O dele e o nosso", resume a mãe, Mafalda Vaz.
Sinatra é um dos três cães de assistência treinados e certificados pela Associação Portuguesa de Cães de Assistência (APCA) e já distribuídos aos respetivos donos. Mais oito estão em treino e, em lista de espera, há mais de 350 interessados.
A APCA é a entidade em Portugal que certifica cães de assistência na área de "Medical Dogs", animais que apoiam pessoas com problemas de diabetes, mobilidade reduzida, epilepsia ou autismo.
No caso de Miguel, o Sinatra já pertencia à família, teve de receber apenas treino em obediência e espaço público, antes da respetiva certificação, que lhe garante o acesso a todos os locais públicos.
"Graças a isto, Miguel conseguiu ficar internado no hospital, deixou-se observar, tirar sangue e até comeu a comida que era fornecida, tudo coisas que eram totalmente impossíveis antes"
"Graças a isto, Miguel conseguiu ficar internado no hospital, deixou-se observar, tirar sangue e até comeu a comida que era fornecida, tudo coisas que eram totalmente impossíveis antes", conta ao JN o pai, Daniel Vaz. A ligação é tão profunda que o menino hoje até já vai ao cinema e treina numa escola de futebol. Sempre com o Sinatra ao lado. Uma história de amor entre um menino e um cão que lhe permitiu abrir portas de um mundo que, devido ao seu problema, parecia totalmente inacessível.
Nina, a cadela que abre janelas
O JN visitou também Diana Niepce, de 30 anos, bailarina e acrobata, que em 2014 sofreu um acidente que a atirou para uma cadeira de rodas. A jovem, moradora em Lisboa, é acompanhada diariamente pela Nina, uma cadela de raça weimaranter, que a ajuda em tarefas do dia a dia. "Dá-me uma segurança e apoio enormes. Ela ajuda a despir-me, tira-me o casaco, as meias, vai buscar-me a cadeira de rodas, abre-me e fecha-me janelas e apaga ou acende as luzes. Além disso, se eu cair, ela ajuda-me a levantar-me, deixando que me apoie sobre o seu corpo", descreve.
"Ela ajuda a despir-me, tira-me o casaco, as meias, vai buscar-me a cadeira de rodas, abre-me e fecha-me janelas e apaga ou acende as luzes."
Rui Elvas, presidente da APCA, conta ainda o caso de uma criança diabética que sofreu uma hipoglicemia grave na escola e que foi salva pelo cão de assistência: "Estavam 17 pessoas na sala e ninguém se apercebeu até o animal dar o alarme. Foi no momento certo".
"Criámos a associação, porque havia muitos interessados neste tipo de apoio e não havia ninguém que treinasse e certificasse estes cães", descreve Rui Elvas.
Um cão de assistência leva, em média de um e meio a dois anos a preparar. Além da especificidade da sua função, todos recebem treino em obediência e espaço público.
A aquisição, treino e certificação pode custar entre cinco e 15 mil euros, sendo que a maioria dos interessados não tem esta disponibilidade financeira.
Cães são treinados para ajudar pessoas com paralisia, diabetes, epilepsia e meninos autistas. Ajudam em tarefas do dia a dia e já salvaram algumas vidas.
"O Sinatra está doente. Sente picadas no corpo, dói-lhe a cabeça e às vezes a barriga". O Sinatra é um labrador de seis anos e o diagnóstico é feito pelo Miguel, um menino de quatro anos. Os sintomas que descreve são, porém, aqueles com que ele próprio se debate. Portador de autismo, sente grandes dificuldades na comunicação e, até há pouco tempo, nas consultas recusava-se a explicar aos médicos o que sentia. Agora, exprime-se através do cão, uma espécie de alter ego de quatro patas, em que projeta toda a sua vida. "É a ponte entre dois mundos. O dele e o nosso", resume a mãe, Mafalda Vaz.
Sinatra é um dos três cães de assistência treinados e certificados pela Associação Portuguesa de Cães de Assistência (APCA) e já distribuídos aos respetivos donos. Mais oito estão em treino e, em lista de espera, há mais de 350 interessados.
A APCA é a entidade em Portugal que certifica cães de assistência na área de "Medical Dogs", animais que apoiam pessoas com problemas de diabetes, mobilidade reduzida, epilepsia ou autismo.
No caso de Miguel, o Sinatra já pertencia à família, teve de receber apenas treino em obediência e espaço público, antes da respetiva certificação, que lhe garante o acesso a todos os locais públicos.
"Graças a isto, Miguel conseguiu ficar internado no hospital, deixou-se observar, tirar sangue e até comeu a comida que era fornecida, tudo coisas que eram totalmente impossíveis antes"
"Graças a isto, Miguel conseguiu ficar internado no hospital, deixou-se observar, tirar sangue e até comeu a comida que era fornecida, tudo coisas que eram totalmente impossíveis antes", conta ao JN o pai, Daniel Vaz. A ligação é tão profunda que o menino hoje até já vai ao cinema e treina numa escola de futebol. Sempre com o Sinatra ao lado. Uma história de amor entre um menino e um cão que lhe permitiu abrir portas de um mundo que, devido ao seu problema, parecia totalmente inacessível.
Nina, a cadela que abre janelas
O JN visitou também Diana Niepce, de 30 anos, bailarina e acrobata, que em 2014 sofreu um acidente que a atirou para uma cadeira de rodas. A jovem, moradora em Lisboa, é acompanhada diariamente pela Nina, uma cadela de raça weimaranter, que a ajuda em tarefas do dia a dia. "Dá-me uma segurança e apoio enormes. Ela ajuda a despir-me, tira-me o casaco, as meias, vai buscar-me a cadeira de rodas, abre-me e fecha-me janelas e apaga ou acende as luzes. Além disso, se eu cair, ela ajuda-me a levantar-me, deixando que me apoie sobre o seu corpo", descreve.
"Ela ajuda a despir-me, tira-me o casaco, as meias, vai buscar-me a cadeira de rodas, abre-me e fecha-me janelas e apaga ou acende as luzes."
Rui Elvas, presidente da APCA, conta ainda o caso de uma criança diabética que sofreu uma hipoglicemia grave na escola e que foi salva pelo cão de assistência: "Estavam 17 pessoas na sala e ninguém se apercebeu até o animal dar o alarme. Foi no momento certo".
"Criámos a associação, porque havia muitos interessados neste tipo de apoio e não havia ninguém que treinasse e certificasse estes cães", descreve Rui Elvas.
Um cão de assistência leva, em média de um e meio a dois anos a preparar. Além da especificidade da sua função, todos recebem treino em obediência e espaço público.
A aquisição, treino e certificação pode custar entre cinco e 15 mil euros, sendo que a maioria dos interessados não tem esta disponibilidade financeira.
Três pessoas morreram em instituição de saúde mental
In "Jornal de Notícias"
Três utentes de uma instituição de saúde mental e reabilitação dos Açores morreram na mesma noite. Instituição diz que foi "coincidência". Os corpos não foram autopsiados.
Os familiares das vítimas exigem explicações à direção da Casa de Saúde de São Rafael, em Angra do Heroísmo. O caso remota a 18 de março, mas só agora foi revelado, numa reportagem da RTP.
Segundo os familiares, há suspeita de intoxicação alimentar, que terá afetado 16 pessoas.
Três utentes de uma instituição de saúde mental e reabilitação dos Açores morreram na mesma noite. Instituição diz que foi "coincidência". Os corpos não foram autopsiados.
Os familiares das vítimas exigem explicações à direção da Casa de Saúde de São Rafael, em Angra do Heroísmo. O caso remota a 18 de março, mas só agora foi revelado, numa reportagem da RTP.
Segundo os familiares, há suspeita de intoxicação alimentar, que terá afetado 16 pessoas.
30.3.16
Mochilas da escola serão kits de refugiados
Pedro Sousa Tavares, in "Diário de Notícias"
No dia 6 de abril, estudantes de todo o país serão desafiados a vestir a pele de migrantes, escolhendo objetos essenciais
As mochilas que carregam às costas ao longo de milhares de quilómetros, por terra e pelo mar, são muitas vezes idênticas às que os estudantes usam para levar os livros e o material para a escola. Mas o que transportam lá dentro é muito diferente: pequenos objetos, como documentos, dinheiro, uma muda de roupa e medicamentos. O essencial para sobreviver. Por vezes, também, uma recordação do que deixaram para trás.
No próximo dia 6 de abril, estudantes de todo o país serão chamados a trocar simbolicamente de papel com estes migrantes - muitos deles das suas idades - que procuram um porto seguro na Europa. O nome da iniciativa - "E se fosse eu? Fazer a mochila e partir" - diz quase tudo.
"O objetivo é fazê-los refletir, de uma forma profunda, pondo-se na pele de um refugiado", conta ao DN o diretor-geral da Educação, José Vítor Pedroso. "Muitas vezes, nas nossas vidas, custa-nos pormo-nos na pele do outro. Esperamos que a iniciativa chegue às casas, levada pelos alunos, que tenha um impacto para além das escolas."
A ideia conta já com a adesão de "centenas de escolas", esperando-se que "muitas mais possam fazê-lo a partir de segunda-feira", com o regresso às aulas.
A Direção-Geral de Educação tem enviado para os agrupamentos um "guião com sugestões de abordagem de iniciativa em sala de aula, para os vários níveis de ensino, do pré-escolar ao secundário". Mas não há regras rígidas. Mesmo a mochila "pode ser mais simbólica do que física, até porque os alunos continuam a ter de levar o seu material para a escola. Podem, por exemplo, escolher os objetos que levariam e fotografá-los para os mostrar na escola", sugere.
"Um exercício de empatia"
"A ideia é, através de um exercício de empatia, sermos capazes de nos pôr no lugar do outro e perceber o que é para uma pessoa, seja homem, mulher, criança, ter de abandonar tudo e partir", diz Rui Marques, da Plataforma de Apoio aos Refugiados, outra promotora desta iniciativa. "Ser refugiado é ter de deixar tudo para trás, é ter a vida resumida ao que se pode levar numa mochila. De uma forma simbólica, esta pergunta - "e se fosse eu?" - ajuda a perceber melhor o que é ser refugiado e, se calhar, o que cada um de nós valoriza mais na vida, ao escolher o que põe numa mochila".
Fernando Nobre, presidente da Assistência Médica Internacional, já passou "há muitos anos por uma experiência na Bélgica, num cenário montado", em que tinha de repetir "o percurso de alguém que tem de passar fronteiras, suportar o enxovalho de humilhações, interrogatórios". Recorda "uma experiência muito dura". Esta iniciativa não será tão intensa. "Mas se for no sentido de sensibilizar os jovens para as dificuldades de quem tenta chegar até nós, será positiva."
João Garcia, alpinista, recusa comparar as suas aventuras voluntárias com a experiência dos refugiados - "eu sei que tenho uma casa para onde voltar", explica. Mas aplaude todas as iniciativas que ponham os jovens a pensar nos problemas do mundo. "A camada mais nova é o futuro do país. E têm de pensar nestes temas."
No dia 6 de abril, estudantes de todo o país serão desafiados a vestir a pele de migrantes, escolhendo objetos essenciais
As mochilas que carregam às costas ao longo de milhares de quilómetros, por terra e pelo mar, são muitas vezes idênticas às que os estudantes usam para levar os livros e o material para a escola. Mas o que transportam lá dentro é muito diferente: pequenos objetos, como documentos, dinheiro, uma muda de roupa e medicamentos. O essencial para sobreviver. Por vezes, também, uma recordação do que deixaram para trás.
No próximo dia 6 de abril, estudantes de todo o país serão chamados a trocar simbolicamente de papel com estes migrantes - muitos deles das suas idades - que procuram um porto seguro na Europa. O nome da iniciativa - "E se fosse eu? Fazer a mochila e partir" - diz quase tudo.
"O objetivo é fazê-los refletir, de uma forma profunda, pondo-se na pele de um refugiado", conta ao DN o diretor-geral da Educação, José Vítor Pedroso. "Muitas vezes, nas nossas vidas, custa-nos pormo-nos na pele do outro. Esperamos que a iniciativa chegue às casas, levada pelos alunos, que tenha um impacto para além das escolas."
A ideia conta já com a adesão de "centenas de escolas", esperando-se que "muitas mais possam fazê-lo a partir de segunda-feira", com o regresso às aulas.
A Direção-Geral de Educação tem enviado para os agrupamentos um "guião com sugestões de abordagem de iniciativa em sala de aula, para os vários níveis de ensino, do pré-escolar ao secundário". Mas não há regras rígidas. Mesmo a mochila "pode ser mais simbólica do que física, até porque os alunos continuam a ter de levar o seu material para a escola. Podem, por exemplo, escolher os objetos que levariam e fotografá-los para os mostrar na escola", sugere.
"Um exercício de empatia"
"A ideia é, através de um exercício de empatia, sermos capazes de nos pôr no lugar do outro e perceber o que é para uma pessoa, seja homem, mulher, criança, ter de abandonar tudo e partir", diz Rui Marques, da Plataforma de Apoio aos Refugiados, outra promotora desta iniciativa. "Ser refugiado é ter de deixar tudo para trás, é ter a vida resumida ao que se pode levar numa mochila. De uma forma simbólica, esta pergunta - "e se fosse eu?" - ajuda a perceber melhor o que é ser refugiado e, se calhar, o que cada um de nós valoriza mais na vida, ao escolher o que põe numa mochila".
Fernando Nobre, presidente da Assistência Médica Internacional, já passou "há muitos anos por uma experiência na Bélgica, num cenário montado", em que tinha de repetir "o percurso de alguém que tem de passar fronteiras, suportar o enxovalho de humilhações, interrogatórios". Recorda "uma experiência muito dura". Esta iniciativa não será tão intensa. "Mas se for no sentido de sensibilizar os jovens para as dificuldades de quem tenta chegar até nós, será positiva."
João Garcia, alpinista, recusa comparar as suas aventuras voluntárias com a experiência dos refugiados - "eu sei que tenho uma casa para onde voltar", explica. Mas aplaude todas as iniciativas que ponham os jovens a pensar nos problemas do mundo. "A camada mais nova é o futuro do país. E têm de pensar nestes temas."
Dia Mundial da Saúde promovendo a solidariedade
In "Diário de Coimbra"
Para celebrar o Dia Mundial da Saúde, no próximo dia 10 de Abril, a Câmara Municipal de Figueiró dos Vinhos e o Grupo de Voluntariado Comunitário local da Liga Portuguesa Contra o Cancro vão dinamizar um conjunto de actividades com que pretendem «alertar para a importância de boas práticas para uma vida saudável, bem como angariar donativos a favor da Liga Portuguesa Contra o Cancro».
Um comunicado explica que “Eu Vou e Tu?” é o mote do programa que decorre durante to do o dia, sendo a manhã preenchida com rastreios de saúde e actividades físicas, com a presença do atleta olímpico Mário Silva na Caminhada Urbana. Os interessados nesta actividade devem inscrever-se até ao dia 5 de Abril através telefones 918 433 924, 914 143 539, 236 551 127 e 236 551 132.
Da parte da tarde, a partir das 15h30, a programação continua na Casa da Cultura, agora com animação cultural, apresentada pelo Conservatório Regional de Castelo Branco, Associação Cultura e Musical Sintonia Consequente de Figueiró dos Vinhos, Grupo de Concertinas de Lagoa Parada e Grupo de Hip-Hop da Escola José Malhoa de Figueiró dos Vinhos, que, desta forma, se associam à causa solidária.
No programa está também a inauguração da sede do Grupo de Voluntariado Comunitário da Liga Portuguesa Contra o Cancro, em instalações cedidas pela autarquia, na antiga escola primária do Bairro Novo.
Para celebrar o Dia Mundial da Saúde, no próximo dia 10 de Abril, a Câmara Municipal de Figueiró dos Vinhos e o Grupo de Voluntariado Comunitário local da Liga Portuguesa Contra o Cancro vão dinamizar um conjunto de actividades com que pretendem «alertar para a importância de boas práticas para uma vida saudável, bem como angariar donativos a favor da Liga Portuguesa Contra o Cancro».
Um comunicado explica que “Eu Vou e Tu?” é o mote do programa que decorre durante to do o dia, sendo a manhã preenchida com rastreios de saúde e actividades físicas, com a presença do atleta olímpico Mário Silva na Caminhada Urbana. Os interessados nesta actividade devem inscrever-se até ao dia 5 de Abril através telefones 918 433 924, 914 143 539, 236 551 127 e 236 551 132.
Da parte da tarde, a partir das 15h30, a programação continua na Casa da Cultura, agora com animação cultural, apresentada pelo Conservatório Regional de Castelo Branco, Associação Cultura e Musical Sintonia Consequente de Figueiró dos Vinhos, Grupo de Concertinas de Lagoa Parada e Grupo de Hip-Hop da Escola José Malhoa de Figueiró dos Vinhos, que, desta forma, se associam à causa solidária.
No programa está também a inauguração da sede do Grupo de Voluntariado Comunitário da Liga Portuguesa Contra o Cancro, em instalações cedidas pela autarquia, na antiga escola primária do Bairro Novo.
APAV: abusadas sexualmente 102 crianças
In "Diário de Coimbra"
A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) apoiou, em 2015, uma média de três crianças e jovens por dia vítimas de crime, num total de 1.084, mais 92 face a 2014, segundo dados ontem divulgados. O relatório anual 2015 da APAV refere que 54,6% das vítimas são meninas, com uma média de idade de 9,9 anos, sendo que 23,8% frequenta o pré-escolar e 23,6%, o primeiro ciclo. Os dados da APAV apontam 102 casos de crianças menores de 14 anos que foram abusadas sexualmente e um caso de pornografia de menores. A maioria das vítimas vivia em famílias nucleares com filhos (49,6%).
A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) apoiou, em 2015, uma média de três crianças e jovens por dia vítimas de crime, num total de 1.084, mais 92 face a 2014, segundo dados ontem divulgados. O relatório anual 2015 da APAV refere que 54,6% das vítimas são meninas, com uma média de idade de 9,9 anos, sendo que 23,8% frequenta o pré-escolar e 23,6%, o primeiro ciclo. Os dados da APAV apontam 102 casos de crianças menores de 14 anos que foram abusadas sexualmente e um caso de pornografia de menores. A maioria das vítimas vivia em famílias nucleares com filhos (49,6%).
Pedidos de ajuda aumentam na APAV
Patrícia Cruz Almeida, in "Diário as Beiras"
A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) registou, em 2015, 609 atendimentos no distrito de Coimbra. Contudo, de acordo com Natália Cardoso, gestora do Gabinete de Apoio à Vítima (GAV) local, “nem todos os pedidos de ajuda reportaram a casos de crime”. Ainda assim registouse “um aumento substancial de pedidos de ajuda” em relação a 2104, ano em que o GAV de Coimbra analisou 505 processos de apoio com atendimentos. Deste total, foram acompanhadas 460 vítimas diretas que foram alvo de 1.202 crimes ou de outros atos violentos. “Tal não significa, necessariamente, que a violência tenha aumentado: significa que, devido à divulgação do trabalho levado a cabo pela APAV, muitas vítimas de crime procurassem ajuda e deixassem de permanecer no silêncio”, adiantou a responsável. A nível nacional, a APAV registou uma média de 63 crimes por dia em 2015, segundo dados divulgados ontem e que revelam um total
Gabinete de Apoio à Vítima de Coimbra registou 609 atendimentos de 23.326 casos, um número que subiu 13% nos últimos dois anos. Segundo o relatório, 30% eram casadas e viviam numa família nuclear com filhos (37,7%). A maioria vivia em
Lisboa (20,4%), no Porto (12,1%) e em Faro (9,5%). Contudo, “364 vítimas (ou seja 3,8 por cento) residiam no concelho de Coimbra”, frisou Natália Cardoso.
A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) registou, em 2015, 609 atendimentos no distrito de Coimbra. Contudo, de acordo com Natália Cardoso, gestora do Gabinete de Apoio à Vítima (GAV) local, “nem todos os pedidos de ajuda reportaram a casos de crime”. Ainda assim registouse “um aumento substancial de pedidos de ajuda” em relação a 2104, ano em que o GAV de Coimbra analisou 505 processos de apoio com atendimentos. Deste total, foram acompanhadas 460 vítimas diretas que foram alvo de 1.202 crimes ou de outros atos violentos. “Tal não significa, necessariamente, que a violência tenha aumentado: significa que, devido à divulgação do trabalho levado a cabo pela APAV, muitas vítimas de crime procurassem ajuda e deixassem de permanecer no silêncio”, adiantou a responsável. A nível nacional, a APAV registou uma média de 63 crimes por dia em 2015, segundo dados divulgados ontem e que revelam um total
Gabinete de Apoio à Vítima de Coimbra registou 609 atendimentos de 23.326 casos, um número que subiu 13% nos últimos dois anos. Segundo o relatório, 30% eram casadas e viviam numa família nuclear com filhos (37,7%). A maioria vivia em
Lisboa (20,4%), no Porto (12,1%) e em Faro (9,5%). Contudo, “364 vítimas (ou seja 3,8 por cento) residiam no concelho de Coimbra”, frisou Natália Cardoso.
Investigador de Coimbra promove cursos sobre envelhecimento ativo
Carolina Ferreira, Pedro Teodoro, in "RTP"
Nos cursos, ensina-se como gerir o tempo ou utilizar melhor a inteligência emocional. Os participantes são também avaliados no âmbito de um estudo sobre a preparação para a reforma.
Nos cursos, ensina-se como gerir o tempo ou utilizar melhor a inteligência emocional. Os participantes são também avaliados no âmbito de um estudo sobre a preparação para a reforma.
Unidade móvel vai prestar apoio médico a prostitutas e sem-abrigo em viseu
Nuno Noronha, in "Sapo"
Projeto “Saúde na Esquina” da ONG Saúde em Português quer abranger a população que vive à margem dos cuidados do Sistema Nacional de Saúde.
A notícia é avançada pelo jornal Público.
A organização não-governamental (ONG) “Saúde em Português” vai avançar, em Viseu, com consultas médicas na rua para pessoas sem-abrigo e prostitutas.
A unidade móvel de saúde começa a percorrer as estradas do concelho a partir de agosto.
"Além das consultas, vamos dar conselhos de promoção de saúde e apoio social", explica Inês Figueiredo, delegada em Viseu da ONG que foi criada em finais do ano passado (2015), citada pelo referido jornal.
"Esta população terá, simultaneamente, acesso a apoio psicossocial tanto em ambiente de consulta como em ambiente informal de rua", nomeadamente com a realização de testes rápidos de VIH/SIDA no local, por exemplo.
Projeto “Saúde na Esquina” da ONG Saúde em Português quer abranger a população que vive à margem dos cuidados do Sistema Nacional de Saúde.
A notícia é avançada pelo jornal Público.
A organização não-governamental (ONG) “Saúde em Português” vai avançar, em Viseu, com consultas médicas na rua para pessoas sem-abrigo e prostitutas.
A unidade móvel de saúde começa a percorrer as estradas do concelho a partir de agosto.
"Além das consultas, vamos dar conselhos de promoção de saúde e apoio social", explica Inês Figueiredo, delegada em Viseu da ONG que foi criada em finais do ano passado (2015), citada pelo referido jornal.
"Esta população terá, simultaneamente, acesso a apoio psicossocial tanto em ambiente de consulta como em ambiente informal de rua", nomeadamente com a realização de testes rápidos de VIH/SIDA no local, por exemplo.
Tráfico sexual castiga mulheres
In "Destak"
A maioria das vítimas de tráfico para fins sexuais é do sexo feminino, o que exige apoios específicos, alerta estudo.
A esmagadora maioria das vítimas de tráfico para fins sexuais é do sexo feminino. A percentagem chega aos 96%, revela um estudo realizado por um grupo de investigadores da Universidade de Lancaster, no reino Unido, apoiado pela Comissão Europeia. Quanto aos homens, representam a maioria das vítimas de trabalhos forçados (74%).
O que significa que o apoio dado a estas vítimas tem que ser diferente, até porque, confirma o relatório, os efeitos de longo prazo resultantes da exploração sexual são também eles diferentes, incluindo infeções (até pelo vírus da sida) e ferimentos que por vezes nunca se transformam em cicatriz.
Sylvia Walby, professora de sociologia e presidente do grupo de investigação de género da UNESCO, uma das autoras do documento, deixa conselhos para as forças de autoridades que lidam com estas situações.
«É preciso que tenham uma linguagem, políticas e práticas específicas para cada género». E embora o tráfico deve ser entendido como uma violação dos direitos fundamentais, «o quadro dos direitos fundamentais deve dar mais espaço para o reconhecimento da especificidade das experiências das mulheres»
A maioria das vítimas de tráfico para fins sexuais é do sexo feminino, o que exige apoios específicos, alerta estudo.
A esmagadora maioria das vítimas de tráfico para fins sexuais é do sexo feminino. A percentagem chega aos 96%, revela um estudo realizado por um grupo de investigadores da Universidade de Lancaster, no reino Unido, apoiado pela Comissão Europeia. Quanto aos homens, representam a maioria das vítimas de trabalhos forçados (74%).
O que significa que o apoio dado a estas vítimas tem que ser diferente, até porque, confirma o relatório, os efeitos de longo prazo resultantes da exploração sexual são também eles diferentes, incluindo infeções (até pelo vírus da sida) e ferimentos que por vezes nunca se transformam em cicatriz.
Sylvia Walby, professora de sociologia e presidente do grupo de investigação de género da UNESCO, uma das autoras do documento, deixa conselhos para as forças de autoridades que lidam com estas situações.
«É preciso que tenham uma linguagem, políticas e práticas específicas para cada género». E embora o tráfico deve ser entendido como uma violação dos direitos fundamentais, «o quadro dos direitos fundamentais deve dar mais espaço para o reconhecimento da especificidade das experiências das mulheres»
Três mil voluntários homenageados pelo município de Cascais
In "Jornal da Região"
Os cerca de três mil voluntários que prestam o seu auxílio, de diferentes formas, foram homenageados pelo município, com a entrega de certificados às quatro dezenas de entidades onde prestaram serviço ao longo do ano de 2015.
A cerimónia de tributo público decorreu no Centro Cultural de Cascais, na passada sexta-feira, dia 18 de Março, e foi pequeno para receber quem quis estar presente no reconhecimento da autarquia, que considera o voluntariado, segundo frisou o presidente da Câmara, Carlos Carreiras, “um dos mais valiosos e insubstituíveis activos do concelho”.
“Quando me perguntam se é difícil ser presidente de uma Câmara Municipal como Cascais, eu digo que não é difícil porque nós temos o privilégio de ter em Cascais a vossa atitude e o vosso exemplo, o que torna mais fácil de exercer os poderes públicos”, frisou o autarca.
Carlos Carreiras sublinhou que o voluntariado representa uma forma de participação da sociedade civil que, em Cascais, tem vindo a crescer, tanto em número de voluntários e de entidades promotoras de voluntariado, como na diversidade de projectos que têm sido desenvolvidos.
O presidente da autarquia apelou para a continuação da disponibilidade dos munícipes para “os grandes eventos nacionais e internacionais que não podem ser feitos sem a comunidade” e frisou que “com a vossa participação criamos cadeias de valor que também gerem emprego”. “É todo este movimento que torna o nosso concelho cada vez mais atractivo e reforça a coesão social”.
O autarca salientou que, com o voluntário “temos uma sociedade mais amiga, justa e forte. Continuem a reforçar este movimento, tragam mais amigos”.
João Galveia recebeu o certificado em nome da Novamente, uma associação criada por pais, médicos e amigos de Traumatizados Crânio-Encefálicos (TCE), que se constituiu com o objectivo de prestar um melhor apoio às vítimas de TCE e às suas famílias. “Esta homenagem da autarquia é muito importante porque vem reconhecer uma peça fundamental da nossa instituição e também de todas as que estão aqui representadas, que são os voluntários.
No caso da Novamente, o trabalho dos voluntários é muito importante para a prossecução da nossa missão e dos nossos projectos futuros”, salientou este voluntário.
Os cerca de três mil voluntários que prestam o seu auxílio, de diferentes formas, foram homenageados pelo município, com a entrega de certificados às quatro dezenas de entidades onde prestaram serviço ao longo do ano de 2015.
A cerimónia de tributo público decorreu no Centro Cultural de Cascais, na passada sexta-feira, dia 18 de Março, e foi pequeno para receber quem quis estar presente no reconhecimento da autarquia, que considera o voluntariado, segundo frisou o presidente da Câmara, Carlos Carreiras, “um dos mais valiosos e insubstituíveis activos do concelho”.
“Quando me perguntam se é difícil ser presidente de uma Câmara Municipal como Cascais, eu digo que não é difícil porque nós temos o privilégio de ter em Cascais a vossa atitude e o vosso exemplo, o que torna mais fácil de exercer os poderes públicos”, frisou o autarca.
Carlos Carreiras sublinhou que o voluntariado representa uma forma de participação da sociedade civil que, em Cascais, tem vindo a crescer, tanto em número de voluntários e de entidades promotoras de voluntariado, como na diversidade de projectos que têm sido desenvolvidos.
O presidente da autarquia apelou para a continuação da disponibilidade dos munícipes para “os grandes eventos nacionais e internacionais que não podem ser feitos sem a comunidade” e frisou que “com a vossa participação criamos cadeias de valor que também gerem emprego”. “É todo este movimento que torna o nosso concelho cada vez mais atractivo e reforça a coesão social”.
O autarca salientou que, com o voluntário “temos uma sociedade mais amiga, justa e forte. Continuem a reforçar este movimento, tragam mais amigos”.
João Galveia recebeu o certificado em nome da Novamente, uma associação criada por pais, médicos e amigos de Traumatizados Crânio-Encefálicos (TCE), que se constituiu com o objectivo de prestar um melhor apoio às vítimas de TCE e às suas famílias. “Esta homenagem da autarquia é muito importante porque vem reconhecer uma peça fundamental da nossa instituição e também de todas as que estão aqui representadas, que são os voluntários.
No caso da Novamente, o trabalho dos voluntários é muito importante para a prossecução da nossa missão e dos nossos projectos futuros”, salientou este voluntário.
Quando o Facebook é uma arma para os agressores na violência doméstica
Ana Cristina Pereira, in "Público"
Órgãos de investigação criminal lidam cada vez com mais casos de violência doméstica associada à Internet e às novas tecnologias.
Primeiro pensou que era engano. Depois percebeu que não. O ex-marido publicara um anúncio num site pornográfico com o nome e o número dela. O telemóvel a tocar, a tocar. Precipitou-se para a GNR. "Nem conseguia controlar as minhas fezes, nem a minha urina, de tal maneira estava alterada."
Dir-se-á que é um sinal dos tempos. "Ainda temos uma violência doméstica muito tradicional - um vai rebaixando o outro, muitas vezes, até chegar à violência física -, mas há cada vez mais recurso à Internet e às novas tecnologias", nota Teresa Morais, que no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) do Porto coordena a secção que investiga este tipo de crimes.
Computadores, telemóveis, GPS podem fazer parte do arsenal usado por um agressor de qualquer idade, género ou orientação sexual, observa Vieira Pinto, chefe do Núcleo de Investigação e de Apoio a Vítimas Específicas da GNR no Porto. Para aborrecer, intimidar ou controlar a vítima.
Isabel viveu dois anos de namoro e nove de casamento. "No início, passávamos muito tempo juntos. Ele tinha acabado de fazer uma desintoxicação, precisava de vigilância, não tinha amigos. Os amigos dele eram de outro tempo. Eu deixei de conviver com os meus amigos para estar com ele."
O mal-estar surgiu com o nascimento do filho. A vida de Isabel deixou de girar em torno do marido. "Eu deixei de ser a mãe dele, passei a ser a mãe do meu filho. Ele começou a andar mais alterado, a implicar com o que eu fazia. Exaltava-se. Dizia: "És uma merda, não vales nada, não serves para nada!""
Os ciclos repetiam-se: tensão, ataque, apaziguamento. "Eu nada dizia para o ambiente estar mais estável. Eu não queria que o miúdo assistisse a discussões, a berros." Encurtava o sossego. Cresciam a desconfiança, a violência. "Começou a controlar o meu telefone e o Facebook."
Isabel não percebia como ele adivinhava os seus movimentos. Só depois de apresentar queixa, soube que ele lhe montara um GPS no carro - a GNR apreendeu o aparelho e analisou os registos. Ele também monitorizava a actividade dela na Internet. Instalou um programa que lhe permitia aceder às palavras-passe, ler todas as mensagens entradas e saídas da caixa do correio electrónico ou do programa de conversação do Facebook, saber em que sites tinha navegado.
A violência sexual, diz, tornou-se comum. "Eu tinha de cumprir as minhas obrigações quer me apetecesse quer não me apetecesse. Estando ele bem, não queria saber se eu estava bem ou não. Se eu não cedesse, começava logo: "Só pensas em ti. És egoísta. Não vales nada!" Atacava-a também pela forma física. "És uma baleia. Pensas que és boa. Melhores do que tu tenho eu ao pontapé.""
Regresso ou inferno
Um dia, Isabel gritou "basta". "Ele pôs o televisor aos berros. Foi para a sala, pôs o televisor da sala aos berros. Eu desliguei o do quarto. Ele começou a ligar-me para o telemóvel. Eu desliguei o telemóvel. Ele começou a ligar para o telefone de casa. Eu pus o telefone fora do descanso. Ele pôs-se a berrar da sala para o quarto. O meu filho acordou. Peguei nele e saí de casa."
Eram três da manhã. Ela refugiou-se em casa da mãe. Ele seguiu-a, fincou pé à porta, ordenou-lhe que voltasse a casa, a menos que desejasse o inferno. "Eu disse-lhe que enquanto ele não se tratasse não valia a pena", conta. Divorciaram-se. Não conseguiram chegar a acordo sobre o apartamento comprado com recurso a empréstimo. Entregaram-no ao banco. Declararam insolvência.
Isabel arrendou um apartamento para morar só com o filho, mas acabou por partilhá-lo com o ex-marido. "Ele disse-me que estava a tratar-se, que não tinha para onde ir, para eu lhe dar uma oportunidade, que queria estar comigo e com o filho. E eu... burra... deixei-o vir." Sentia pena dele. E desejava que ele tivesse mudado. "Queria acreditar que as coisas podiam ser diferentes." Finda a fase de lua-de-mel, recomeçaram as alterações de humor, os insultos, o controlo. De nada serviu Isabel pedir-lhe que se fosse embora. "Ele disse: "Enquanto não organizar a minha vida, não saio daqui. E tu tens de continuar a ser minha mulher, tens de cumprir as tuas obrigações!""
Desatou a chantageá-la. "Quase todos os meus amigos eram amigos dele. Ele fazia questão de pedir amizade às pessoas que eram minhas amigas no Facebook. Ele dizia que ia falar de mim, publicar fotos íntimas, deixar a minha imagem na lama. Eu ia ficar na miséria, nem ia ter para dar de comer ao meu filho, porque ele ia dar cabo do meu emprego. Eu ia ter de sair daqui e de ir para longe, porque nem ia conseguir olhar para as pessoas." E, assim, "sob ameaça", ela ia tendo relações sexuais com ele.
Certo dia, um primo de outra cidade veio passar um fim-de-semana. "Pensavas que eu já cá não estava e que ias metê-lo na tua cama!", gritou o ex-marido de Isabel. "Para ele, eu dormia com toda a gente." Voltou a forçá-la a ter sexo. O primo percebeu. De manhã, levou-a à GNR. Os militares foram lá a casa dizer ao homem para sair. Ele pediu tempo para se organizar e eles deram-lhe dois dias.
Isabel aguardou em casa da mãe. "Ele tirou o que quis. Levou quase tudo. Ainda me exigiu dinheiro pelo que deixou - o frigorífico, a placa, os televisores." E instalou-se no apartamento ao lado. Isabel manteve-se em casa da mãe. "Ainda cheguei a dormir uma ou duas noites em casa para ver o que acontecia. Ele mandava-me mensagens a dizer: "Estou a ouvir-te. Não consegues dormir. Andas a pé." Queria que eu me sentisse assombrada, sei lá. Também mandava mensagens a dizer que me deixava em paz se eu fosse para a cama com ele mais uma vez."
Partilhou no Facebook uma fotografia de Isabel no banho e numerosos comentários maldosos. "Escreveu que me deitava com todos, que gostava de estar com não sei quantos ao mesmo tempo, que pedia dinheiro emprestado ao meu patrão e lhe pagava de joelhos. Chegou a usar o nome do meu falecido pai. "Coitado, que deve andar às voltas na cama com vergonha da filha que tem.""
Isabel afligia-se, sobretudo pelo filho, então com cinco anos. E se tudo aquilo lhe caísse em cima, um dia qualquer, na escola? "Os pais vêem, comentam em casa, os miúdos apercebem-se. A gente sabe como são os miúdos." Já bastava ela sentir-se olhada de lado na rua e no trabalho. Teve de falar com o empregador. "Quando ele o começou a meter ao barulho, tive de lhe contar para ele estar preparado." Medo, ansiedade, vergonha. "Não acabei com a minha vida porque pus o meu filho à frente do meu desespero", diz.
Subitamente, ele roubou a identidade dela e publicou um anúncio num site porno. O telefone tocou uma, dez, 20, 30 vezes. Ficou em estado de choque. Conduziu até à GNR. "Naquele dia, se ele se atravessasse à frente do meu carro, eu matava-o. Contactei o site a dizer que o anúncio era falso, para o retirarem imediatamente, que eu já tinha apresentado queixa, e eles retiraram."
A casuística, no Núcleo de Investigação e de Apoio a Vítimas Específicas da GNR, já mostra agressores capazes de retirar informação dos perfis das vítimas, de assumir a identidade delas e de, assim, publicar anúncios, fazer compras, enviar mensagens. E agressores capazes de enviar, de forma sistemática, mensagens abusivas. Ou de recorrer a GPS e a câmaras de vídeo para as vigiar.
"Pôr gravadores a gravar o que a pessoa diz ou câmaras escondidas para filmar cada movimento da pessoa é uma forma de manter uma dinâmica de poder, de controlo", diz a psicóloga forense Catarina Ribeiro, investigadora na Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica. Sempre existiram formas de controlo: ler a correspondência, vasculhar as gavetas, revistar a carteira. Com a evolução tecnológica, abrem-se possibilidades mais elaboradas.
Um centro de estudos britânico já enumerou quatro "A" que distinguem a violência relacionada com a tecnologia: anonimato, acessibilidade, acção à distância, automação. Embora possa ser intensa, não só é menos aparente a quem está de fora, como requer menos tempo e esforço para perpetrar.
A GNR encontrara o sistema de GPS que o ex-marido de Isabel usava. Apreendeu os equipamentos com mais de mil fotografias dela, de carácter íntimo ou mesmo sexual. Encheu mais de 400 páginas com mensagens que ele lhe enviou por diferentes meios. "Ele estava com uma pulseira electrónica, impedido de se aproximar de mim, de me contactar. No entanto, morava na casa ao lado, ligava-me centenas de vezes por dia, mandava-me centenas de mensagens."
A 19 de Março de 2015, Dia do Pai, ele ia jantar com o filho. Isabel foi a casa buscar roupas. "Bateram à porta. Era o meu filho. Eu abri. Vi que o meu ex-marido também estava lá fora. Segui as indicações da GNR: "Se você estiver à porta e ele aparecer, feche-se." Como o meu filho estava cá fora, fechei-me cá fora. Ele mandou o miúdo para o carro e agarrou-me nos braços. "Eu vou-te matar, vais aparecer numa valeta!" Tentou dar-me uma cabeçada e eu tive o reflexo de fugir para trás. Consegui soltar-me e empurrá-lo. Desatei a correr para o café que havia ao lado de minha casa. Era onde estaria gente, não é? Ele foi atrás de mim. Eu pus-me atrás do balcão. O dono do café disse-lhe: "Aqui não!" Chamei a GNR. Ele foi embora com o miúdo."
Isabel pediu a revisão das medidas de coacção enquanto o ex-marido aguarda o julgamento. A juíza estabeleceu um mês para ele mudar de casa. Disse-lhe que iria para a prisão se continuasse a violar a ordem para não contactar a ex-mulher. "Eu tenho um dispositivo que me avisa da proximidade dele. Não se pode aproximar da minha casa nem do meu trabalho. Está proibido de me contactar até por sinais de fumo." Passou um ano, mas Isabel ainda não anda descansada. As visitas da criança fazem-se com recurso a intermediário. "Tive de lhe pôr um processo por ele nunca ter pago pensão de alimentos. No fim de Fevereiro, descontaram-lhe [o valor] no ordenado. Tive medo, mas ele não fez nada."
Denúncias já são feitas pelas redes sociais
O uso da Internet e das novas tecnologias também está a gerar preocupação a quem acolhe mulheres e crianças vítimas de violência doméstica, como referiu ainda este mês Joana Sampaio, directora técnica da casa-abrigo gerida pela organização internacional de mulheres Soroptimist — Clube do Porto. Os agressores podem estar nas redes sociais a vigiar os perfis das vítimas, dos familiares e dos amigos em busca de informação que lhes permita localizá-las, intimidá-las ou mesmo agredi-las. Mas não são só más notícias. Só no ano passado, 45 casos chegaram à GNR através do Facebook, informa o major Marco António Ferreira da Cruz, chefe da divisão de comunicação e relações públicas da GNR. Os especialistas apontam outras vantagens: há maior acesso à informação sobre a legislação em vigor e as respostas existentes. Desde logo, por exemplo, sobre os núcleos de atendimento a vítimas.
Órgãos de investigação criminal lidam cada vez com mais casos de violência doméstica associada à Internet e às novas tecnologias.
Primeiro pensou que era engano. Depois percebeu que não. O ex-marido publicara um anúncio num site pornográfico com o nome e o número dela. O telemóvel a tocar, a tocar. Precipitou-se para a GNR. "Nem conseguia controlar as minhas fezes, nem a minha urina, de tal maneira estava alterada."
Dir-se-á que é um sinal dos tempos. "Ainda temos uma violência doméstica muito tradicional - um vai rebaixando o outro, muitas vezes, até chegar à violência física -, mas há cada vez mais recurso à Internet e às novas tecnologias", nota Teresa Morais, que no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) do Porto coordena a secção que investiga este tipo de crimes.
Computadores, telemóveis, GPS podem fazer parte do arsenal usado por um agressor de qualquer idade, género ou orientação sexual, observa Vieira Pinto, chefe do Núcleo de Investigação e de Apoio a Vítimas Específicas da GNR no Porto. Para aborrecer, intimidar ou controlar a vítima.
Isabel viveu dois anos de namoro e nove de casamento. "No início, passávamos muito tempo juntos. Ele tinha acabado de fazer uma desintoxicação, precisava de vigilância, não tinha amigos. Os amigos dele eram de outro tempo. Eu deixei de conviver com os meus amigos para estar com ele."
O mal-estar surgiu com o nascimento do filho. A vida de Isabel deixou de girar em torno do marido. "Eu deixei de ser a mãe dele, passei a ser a mãe do meu filho. Ele começou a andar mais alterado, a implicar com o que eu fazia. Exaltava-se. Dizia: "És uma merda, não vales nada, não serves para nada!""
Os ciclos repetiam-se: tensão, ataque, apaziguamento. "Eu nada dizia para o ambiente estar mais estável. Eu não queria que o miúdo assistisse a discussões, a berros." Encurtava o sossego. Cresciam a desconfiança, a violência. "Começou a controlar o meu telefone e o Facebook."
Isabel não percebia como ele adivinhava os seus movimentos. Só depois de apresentar queixa, soube que ele lhe montara um GPS no carro - a GNR apreendeu o aparelho e analisou os registos. Ele também monitorizava a actividade dela na Internet. Instalou um programa que lhe permitia aceder às palavras-passe, ler todas as mensagens entradas e saídas da caixa do correio electrónico ou do programa de conversação do Facebook, saber em que sites tinha navegado.
A violência sexual, diz, tornou-se comum. "Eu tinha de cumprir as minhas obrigações quer me apetecesse quer não me apetecesse. Estando ele bem, não queria saber se eu estava bem ou não. Se eu não cedesse, começava logo: "Só pensas em ti. És egoísta. Não vales nada!" Atacava-a também pela forma física. "És uma baleia. Pensas que és boa. Melhores do que tu tenho eu ao pontapé.""
Regresso ou inferno
Um dia, Isabel gritou "basta". "Ele pôs o televisor aos berros. Foi para a sala, pôs o televisor da sala aos berros. Eu desliguei o do quarto. Ele começou a ligar-me para o telemóvel. Eu desliguei o telemóvel. Ele começou a ligar para o telefone de casa. Eu pus o telefone fora do descanso. Ele pôs-se a berrar da sala para o quarto. O meu filho acordou. Peguei nele e saí de casa."
Eram três da manhã. Ela refugiou-se em casa da mãe. Ele seguiu-a, fincou pé à porta, ordenou-lhe que voltasse a casa, a menos que desejasse o inferno. "Eu disse-lhe que enquanto ele não se tratasse não valia a pena", conta. Divorciaram-se. Não conseguiram chegar a acordo sobre o apartamento comprado com recurso a empréstimo. Entregaram-no ao banco. Declararam insolvência.
Isabel arrendou um apartamento para morar só com o filho, mas acabou por partilhá-lo com o ex-marido. "Ele disse-me que estava a tratar-se, que não tinha para onde ir, para eu lhe dar uma oportunidade, que queria estar comigo e com o filho. E eu... burra... deixei-o vir." Sentia pena dele. E desejava que ele tivesse mudado. "Queria acreditar que as coisas podiam ser diferentes." Finda a fase de lua-de-mel, recomeçaram as alterações de humor, os insultos, o controlo. De nada serviu Isabel pedir-lhe que se fosse embora. "Ele disse: "Enquanto não organizar a minha vida, não saio daqui. E tu tens de continuar a ser minha mulher, tens de cumprir as tuas obrigações!""
Desatou a chantageá-la. "Quase todos os meus amigos eram amigos dele. Ele fazia questão de pedir amizade às pessoas que eram minhas amigas no Facebook. Ele dizia que ia falar de mim, publicar fotos íntimas, deixar a minha imagem na lama. Eu ia ficar na miséria, nem ia ter para dar de comer ao meu filho, porque ele ia dar cabo do meu emprego. Eu ia ter de sair daqui e de ir para longe, porque nem ia conseguir olhar para as pessoas." E, assim, "sob ameaça", ela ia tendo relações sexuais com ele.
Certo dia, um primo de outra cidade veio passar um fim-de-semana. "Pensavas que eu já cá não estava e que ias metê-lo na tua cama!", gritou o ex-marido de Isabel. "Para ele, eu dormia com toda a gente." Voltou a forçá-la a ter sexo. O primo percebeu. De manhã, levou-a à GNR. Os militares foram lá a casa dizer ao homem para sair. Ele pediu tempo para se organizar e eles deram-lhe dois dias.
Isabel aguardou em casa da mãe. "Ele tirou o que quis. Levou quase tudo. Ainda me exigiu dinheiro pelo que deixou - o frigorífico, a placa, os televisores." E instalou-se no apartamento ao lado. Isabel manteve-se em casa da mãe. "Ainda cheguei a dormir uma ou duas noites em casa para ver o que acontecia. Ele mandava-me mensagens a dizer: "Estou a ouvir-te. Não consegues dormir. Andas a pé." Queria que eu me sentisse assombrada, sei lá. Também mandava mensagens a dizer que me deixava em paz se eu fosse para a cama com ele mais uma vez."
Partilhou no Facebook uma fotografia de Isabel no banho e numerosos comentários maldosos. "Escreveu que me deitava com todos, que gostava de estar com não sei quantos ao mesmo tempo, que pedia dinheiro emprestado ao meu patrão e lhe pagava de joelhos. Chegou a usar o nome do meu falecido pai. "Coitado, que deve andar às voltas na cama com vergonha da filha que tem.""
Isabel afligia-se, sobretudo pelo filho, então com cinco anos. E se tudo aquilo lhe caísse em cima, um dia qualquer, na escola? "Os pais vêem, comentam em casa, os miúdos apercebem-se. A gente sabe como são os miúdos." Já bastava ela sentir-se olhada de lado na rua e no trabalho. Teve de falar com o empregador. "Quando ele o começou a meter ao barulho, tive de lhe contar para ele estar preparado." Medo, ansiedade, vergonha. "Não acabei com a minha vida porque pus o meu filho à frente do meu desespero", diz.
Subitamente, ele roubou a identidade dela e publicou um anúncio num site porno. O telefone tocou uma, dez, 20, 30 vezes. Ficou em estado de choque. Conduziu até à GNR. "Naquele dia, se ele se atravessasse à frente do meu carro, eu matava-o. Contactei o site a dizer que o anúncio era falso, para o retirarem imediatamente, que eu já tinha apresentado queixa, e eles retiraram."
A casuística, no Núcleo de Investigação e de Apoio a Vítimas Específicas da GNR, já mostra agressores capazes de retirar informação dos perfis das vítimas, de assumir a identidade delas e de, assim, publicar anúncios, fazer compras, enviar mensagens. E agressores capazes de enviar, de forma sistemática, mensagens abusivas. Ou de recorrer a GPS e a câmaras de vídeo para as vigiar.
"Pôr gravadores a gravar o que a pessoa diz ou câmaras escondidas para filmar cada movimento da pessoa é uma forma de manter uma dinâmica de poder, de controlo", diz a psicóloga forense Catarina Ribeiro, investigadora na Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica. Sempre existiram formas de controlo: ler a correspondência, vasculhar as gavetas, revistar a carteira. Com a evolução tecnológica, abrem-se possibilidades mais elaboradas.
Um centro de estudos britânico já enumerou quatro "A" que distinguem a violência relacionada com a tecnologia: anonimato, acessibilidade, acção à distância, automação. Embora possa ser intensa, não só é menos aparente a quem está de fora, como requer menos tempo e esforço para perpetrar.
A GNR encontrara o sistema de GPS que o ex-marido de Isabel usava. Apreendeu os equipamentos com mais de mil fotografias dela, de carácter íntimo ou mesmo sexual. Encheu mais de 400 páginas com mensagens que ele lhe enviou por diferentes meios. "Ele estava com uma pulseira electrónica, impedido de se aproximar de mim, de me contactar. No entanto, morava na casa ao lado, ligava-me centenas de vezes por dia, mandava-me centenas de mensagens."
A 19 de Março de 2015, Dia do Pai, ele ia jantar com o filho. Isabel foi a casa buscar roupas. "Bateram à porta. Era o meu filho. Eu abri. Vi que o meu ex-marido também estava lá fora. Segui as indicações da GNR: "Se você estiver à porta e ele aparecer, feche-se." Como o meu filho estava cá fora, fechei-me cá fora. Ele mandou o miúdo para o carro e agarrou-me nos braços. "Eu vou-te matar, vais aparecer numa valeta!" Tentou dar-me uma cabeçada e eu tive o reflexo de fugir para trás. Consegui soltar-me e empurrá-lo. Desatei a correr para o café que havia ao lado de minha casa. Era onde estaria gente, não é? Ele foi atrás de mim. Eu pus-me atrás do balcão. O dono do café disse-lhe: "Aqui não!" Chamei a GNR. Ele foi embora com o miúdo."
Isabel pediu a revisão das medidas de coacção enquanto o ex-marido aguarda o julgamento. A juíza estabeleceu um mês para ele mudar de casa. Disse-lhe que iria para a prisão se continuasse a violar a ordem para não contactar a ex-mulher. "Eu tenho um dispositivo que me avisa da proximidade dele. Não se pode aproximar da minha casa nem do meu trabalho. Está proibido de me contactar até por sinais de fumo." Passou um ano, mas Isabel ainda não anda descansada. As visitas da criança fazem-se com recurso a intermediário. "Tive de lhe pôr um processo por ele nunca ter pago pensão de alimentos. No fim de Fevereiro, descontaram-lhe [o valor] no ordenado. Tive medo, mas ele não fez nada."
Denúncias já são feitas pelas redes sociais
O uso da Internet e das novas tecnologias também está a gerar preocupação a quem acolhe mulheres e crianças vítimas de violência doméstica, como referiu ainda este mês Joana Sampaio, directora técnica da casa-abrigo gerida pela organização internacional de mulheres Soroptimist — Clube do Porto. Os agressores podem estar nas redes sociais a vigiar os perfis das vítimas, dos familiares e dos amigos em busca de informação que lhes permita localizá-las, intimidá-las ou mesmo agredi-las. Mas não são só más notícias. Só no ano passado, 45 casos chegaram à GNR através do Facebook, informa o major Marco António Ferreira da Cruz, chefe da divisão de comunicação e relações públicas da GNR. Os especialistas apontam outras vantagens: há maior acesso à informação sobre a legislação em vigor e as respostas existentes. Desde logo, por exemplo, sobre os núcleos de atendimento a vítimas.
Portugal desperdiça um milhão de toneladas de alimentos por ano
Ana Bela Ferreira, in "Diário de Notícias"
Parlamento Europeu recomendou que Estados membros reduzam para metade a comida que vai para o lixo até ao fim do ano
Por cá, 2016 é o ano nacional do combate ao desperdício, para ajudar nesse objetivo
Todos os anos, os portugueses deitam para o lixo um milhão de toneladas de alimentos, ou seja, cada um desperdiça em média 132 quilos de comida por ano. Só as famílias desperdiçam 324 mil toneladas. E 17% da comida é deitada fora ainda antes de chegar aos consumidores. Um desperdício que no conjunto da União Europeia chega aos 89 milhões de toneladas. Foi para reduzir a grandeza destes números que o Parlamento Europeu recomendou aos Estados membros um corte para metade no desperdício até ao fim do ano.
Em Portugal são vários os programas que têm por objetivo limitar as quantidades de comida no lixo. É o caso do Dose Certa, que já levou um restaurante no Porto a reduzir a quantidade de arroz e batatas no prato. Sem que os clientes estranhem as doses "mais saudáveis".
Até porque os cálculos da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) indicam que os países industrializados desperdiçam 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos por ano. O que chegaria para alimentar os cerca de 925 milhões de pessoas que passam fome no mundo.
Por cá, 2016 foi declarado Ano Nacional do Combate ao Desperdício Alimentar. E, apesar de não sermos os europeus que mais comida deitam fora - na Holanda o desperdício por habitante/ano é de 541 quilos, seguido da Bélgica, com 345, e do Chipre, com 327, e Espanha desperdiça pouco mais do que nós (135 quilos) -, têm-se multiplicado as iniciativas para evitar deitar tanta comida fora.
Ajudar restaurantes a mudar
É o caso do Dose Certa, que junta a Associação Nacional de Nutricionistas (APN), a empresa Lipor e cerca de 30 restaurantes do Norte. Até agora, este projeto tem conseguido cortar no desperdício entre os 30% e os 35%. No Café Progresso, no Porto, onde de segunda a quinta-feira são servidas em média 50 refeições diárias, subindo para as 75, às sextas e sábados, o objetivo era reduzir em 40% os resíduos e só com a implementação do programa atingiram de imediato os 30%. De inevitável contam com um desperdício de "sete a dez quilos", mas antes havia muito comida que ficava nos pratos dos clientes e não se podia reutilizar. Em especial, os "acompanhamentos da categoria dos hidratos de carbono", como o arroz e as batatas, explica Alcina Fernandes, do Café Progresso. E os clientes que antes estavam habituados a "doses bem servidas" já não estranham as quantidades mais saudáveis.
Travar o desperdício alimentar é uma questão que tem impacto ambiental, económico e social. Daí que o programa Dose Certa comece por pedir "aos estabelecimentos que pesem os alimentos que desperdiçam, para que tomem consciência da realidade do custo", aponta Susana Freitas, da divisão de valorização orgânica da Lipor (Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto).
Ainda assim, como "a maior fatia do desperdício alimentar está nas famílias", é urgente "ensinar as pessoas a fazer uma correta seleção dos alimentos, leitura dos rótulos e aprenderem a olhar para o alimento como sendo passível de ser utilizado por inteiro", aponta Helena Real, secretária-geral da APN.
A declaração do ano nacional prevê ainda medidas como estipular uma percentagem de produtos locais a utilizar por parte das instituições públicas e criar "um programa de ação" que "fixe objetivos e metas para a redução". Bem como ensinar na escola a gestão dos alimentos tornando clara a diferença entre "consumir antes de" e "consumir de preferência até".
Todos os anos, os portugueses deitam para o lixo um milhão de toneladas de alimentos, ou seja, cada um desperdiça em média 132 quilos de comida por ano. Só as famílias desperdiçam 324 mil toneladas. E 17% da comida é deitada fora ainda antes de chegar aos consumidores. Um desperdício que no conjunto da União Europeia chega aos 89 milhões de toneladas. Foi para reduzir a grandeza destes números que o Parlamento Europeu recomendou aos Estados membros um corte para metade no desperdício até ao fim do ano.
Doar comida para não ir para o Lixo
BANCO ALIMENTAR Muitas vezes a comida que vai para o lixo nem sequer está estragada ou fora do prazo, apenas não cumpre as regras de comercialização (como é o caso dos calibres da fruta ou quando há erro na embalagem de um produto). Uma das formas de evitar que alimentos excedentes não vão parar ao lixo é doá-los a instituições como os bancos alimentares. Já houve anos, como em 2011, em que estas estruturas conseguiram recuperar mais de 30 mil toneladas de produtos que teriam ido para destruição. Dos quais seis mil toneladas eram fruta. O que levou Isabel Jonet, a presidente da Federação Nacional dos Bancos Alimentares contra a Fome, a defender que era preciso educar as pessoas para comprar menos quantidade. Além do aproveitamento doe excedentes, os bancos alimentares sobrevivem também graças às campanhas. Na última, em novembro, foram angariadas 2270 tendências.
TRUQUES
PLANEAR REFEIÇOES
A nutricionista da APN Lembra que uma das formas de reduzir o desperdício é planear as refeições e elaborar uma lista de forma a comprar apenas o essencial, escolhendo sempre os prazos de validade mais alargados.
CONSERVAR ALIMENTOS
Fazer uma correta conservação dos alimentos na despensa, frigorífico ou congelador evita que se deteriorem com facilidade. Fazer quantidades adequadas também ajuda a poupar.
APROVEITAR TUDO
As folhas e talos (couves, alho francês, nabo) ou cascas (curgete, cenoura, batata, banana) podem servir para molhos, bases de sopas, caldos ou sobremesas. As espinhas ou ossos podem dar caldos ou aroma aos pratos.
Parlamento Europeu recomendou que Estados membros reduzam para metade a comida que vai para o lixo até ao fim do ano
Por cá, 2016 é o ano nacional do combate ao desperdício, para ajudar nesse objetivo
Todos os anos, os portugueses deitam para o lixo um milhão de toneladas de alimentos, ou seja, cada um desperdiça em média 132 quilos de comida por ano. Só as famílias desperdiçam 324 mil toneladas. E 17% da comida é deitada fora ainda antes de chegar aos consumidores. Um desperdício que no conjunto da União Europeia chega aos 89 milhões de toneladas. Foi para reduzir a grandeza destes números que o Parlamento Europeu recomendou aos Estados membros um corte para metade no desperdício até ao fim do ano.
Em Portugal são vários os programas que têm por objetivo limitar as quantidades de comida no lixo. É o caso do Dose Certa, que já levou um restaurante no Porto a reduzir a quantidade de arroz e batatas no prato. Sem que os clientes estranhem as doses "mais saudáveis".
Até porque os cálculos da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) indicam que os países industrializados desperdiçam 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos por ano. O que chegaria para alimentar os cerca de 925 milhões de pessoas que passam fome no mundo.
Por cá, 2016 foi declarado Ano Nacional do Combate ao Desperdício Alimentar. E, apesar de não sermos os europeus que mais comida deitam fora - na Holanda o desperdício por habitante/ano é de 541 quilos, seguido da Bélgica, com 345, e do Chipre, com 327, e Espanha desperdiça pouco mais do que nós (135 quilos) -, têm-se multiplicado as iniciativas para evitar deitar tanta comida fora.
Ajudar restaurantes a mudar
É o caso do Dose Certa, que junta a Associação Nacional de Nutricionistas (APN), a empresa Lipor e cerca de 30 restaurantes do Norte. Até agora, este projeto tem conseguido cortar no desperdício entre os 30% e os 35%. No Café Progresso, no Porto, onde de segunda a quinta-feira são servidas em média 50 refeições diárias, subindo para as 75, às sextas e sábados, o objetivo era reduzir em 40% os resíduos e só com a implementação do programa atingiram de imediato os 30%. De inevitável contam com um desperdício de "sete a dez quilos", mas antes havia muito comida que ficava nos pratos dos clientes e não se podia reutilizar. Em especial, os "acompanhamentos da categoria dos hidratos de carbono", como o arroz e as batatas, explica Alcina Fernandes, do Café Progresso. E os clientes que antes estavam habituados a "doses bem servidas" já não estranham as quantidades mais saudáveis.
Travar o desperdício alimentar é uma questão que tem impacto ambiental, económico e social. Daí que o programa Dose Certa comece por pedir "aos estabelecimentos que pesem os alimentos que desperdiçam, para que tomem consciência da realidade do custo", aponta Susana Freitas, da divisão de valorização orgânica da Lipor (Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto).
Ainda assim, como "a maior fatia do desperdício alimentar está nas famílias", é urgente "ensinar as pessoas a fazer uma correta seleção dos alimentos, leitura dos rótulos e aprenderem a olhar para o alimento como sendo passível de ser utilizado por inteiro", aponta Helena Real, secretária-geral da APN.
A declaração do ano nacional prevê ainda medidas como estipular uma percentagem de produtos locais a utilizar por parte das instituições públicas e criar "um programa de ação" que "fixe objetivos e metas para a redução". Bem como ensinar na escola a gestão dos alimentos tornando clara a diferença entre "consumir antes de" e "consumir de preferência até".
Todos os anos, os portugueses deitam para o lixo um milhão de toneladas de alimentos, ou seja, cada um desperdiça em média 132 quilos de comida por ano. Só as famílias desperdiçam 324 mil toneladas. E 17% da comida é deitada fora ainda antes de chegar aos consumidores. Um desperdício que no conjunto da União Europeia chega aos 89 milhões de toneladas. Foi para reduzir a grandeza destes números que o Parlamento Europeu recomendou aos Estados membros um corte para metade no desperdício até ao fim do ano.
Doar comida para não ir para o Lixo
BANCO ALIMENTAR Muitas vezes a comida que vai para o lixo nem sequer está estragada ou fora do prazo, apenas não cumpre as regras de comercialização (como é o caso dos calibres da fruta ou quando há erro na embalagem de um produto). Uma das formas de evitar que alimentos excedentes não vão parar ao lixo é doá-los a instituições como os bancos alimentares. Já houve anos, como em 2011, em que estas estruturas conseguiram recuperar mais de 30 mil toneladas de produtos que teriam ido para destruição. Dos quais seis mil toneladas eram fruta. O que levou Isabel Jonet, a presidente da Federação Nacional dos Bancos Alimentares contra a Fome, a defender que era preciso educar as pessoas para comprar menos quantidade. Além do aproveitamento doe excedentes, os bancos alimentares sobrevivem também graças às campanhas. Na última, em novembro, foram angariadas 2270 tendências.
TRUQUES
PLANEAR REFEIÇOES
A nutricionista da APN Lembra que uma das formas de reduzir o desperdício é planear as refeições e elaborar uma lista de forma a comprar apenas o essencial, escolhendo sempre os prazos de validade mais alargados.
CONSERVAR ALIMENTOS
Fazer uma correta conservação dos alimentos na despensa, frigorífico ou congelador evita que se deteriorem com facilidade. Fazer quantidades adequadas também ajuda a poupar.
APROVEITAR TUDO
As folhas e talos (couves, alho francês, nabo) ou cascas (curgete, cenoura, batata, banana) podem servir para molhos, bases de sopas, caldos ou sobremesas. As espinhas ou ossos podem dar caldos ou aroma aos pratos.
Fafe: António Guterres, Agenzia Habeshia e Fundação Calouste Gulbenkian homenageados no Encontro Internacional de Causas e Valores da Humanidade
In "Correio do Minho"
Entre os dias 5 e 9 de Abril, Fafe volta a receber o “Terra Justa- Encontro Internacional de Causas e Valores da Humanidade.”, que, este ano, tem como tema central os refugiados e imigrantes, a cultura como valor, e os direitos humanos em tempo de conflito.
Além de António Guterres, candidato a secretário-geral das Nações Unidas (ONU) e que foi, até dezembro de 2015, alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), a II edição da Terra Justa - Encontro Internacional de Causas e Valores da Humanidade vai ainda homenagear a Agenzia Habeshiaa, a Fundação Calouste Gulbenkian e ainda recordar o papel das enfermeiras paraquedistas portuguesas.
Em 1961, foi criado o corpo de Enfermeiras Paraquedistas, integrado na Força Aérea Portuguesa, que teve a sua origem nos mesmos princípios humanitários defendidos pela Cruz Vermelha Internacional, cuja organização sempre se destacou pela importância do papel das mulheres nas missões de socorro às populações, nomeadamente perante as grandes catástrofes naturais. Foi esse o espírito, primeiro, da sua mentora, Isabel Rilvas, e, depois, das autoridades portuguesas, confrontadas com a necessidade de terem profissionais competentes para socorrerem as populações civis afetadas no contexto da guerra e também para tratarem dos militares portugueses feridos.
Durante 14 anos, 46 mulheres portuguesas estiveram diretamente envolvidas na guerra do Ultramar, em inúmeras missões de recuperação e evacuação de feridos do campo de batalha, em cenários como Angola, Guiné- Bissau e Moçambique.
O “Terra Justa”, Encontro internacional de Causas e Valores da Humanidade, é um evento internacional que ocorre na cidade de Fafe, com o objetivo alertar, provocar e envolver as pessoas a refletir sobre a importância das causas e valores da humanidade.
De 5 a 9 de Abril, a cidade vai acolher conferências, tertúlias de café com convidados nacionais e internacionais, exposições de rua, teatro de rua, debates, música, arte pública, entre muitas outras atividades.
Além da questão dos refugiados, vão ser ainda abordados temas como os direitos humanos em cenários de conflito, o valor da cultura e questões relacionadas com a religião.
A Fundação Calouste Gulbenkian e Agenzia Internacional Habeshia serão duas instituições em destaque e a homenagear durante a Terra Justa.
As causas entre as pessoas…
O centro da cidade de Fafe será palco de um “caminho das causas” e de um túnel de grandes dimensões, objetos de arte pública, cujo objetivo é envolver as pessoas para as grandes causas da humanidade e para problemáticas que são ignoradas no nosso dia a dia.
No Arquivo Municipal, em Fafe, vão estar patentes exposições dedicadas a António Guterres, Agenzia Habeshia, Fundação Calouste Gulbenkian e às enfermeiras paraquedistas portuguesas.
Mural das Causas…
Em plena cidade, o monumento, feito a partir de um bloco de granito, desenhado pelos arquitetos da Câmara Municipal de Fafe, vai continuar a guardar, durante 25 anos, as mensagens de grandes individualidades que passaram por Fafe.
Recorde-se que já se encontram no mural as mensagens do Cardeal Óscar Maradiaga, ex-Presidente da Cáritas Internacional e braço direito do Papa Francisco para a reforma da Igreja, Maria de Jesus Barroso Soares, da Fundação Pro-Dignitate, e das ONG´s Amnistia Internacional e Médicos do Mundo. A ideia é perceber, em 2041, como era o mundo, as ideias e a visão da sociedade, nomeadamente ao nível dos valores humanos e das grandes causas globais.
Entre os dias 5 e 9 de Abril, Fafe volta a receber o “Terra Justa- Encontro Internacional de Causas e Valores da Humanidade.”, que, este ano, tem como tema central os refugiados e imigrantes, a cultura como valor, e os direitos humanos em tempo de conflito.
Além de António Guterres, candidato a secretário-geral das Nações Unidas (ONU) e que foi, até dezembro de 2015, alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), a II edição da Terra Justa - Encontro Internacional de Causas e Valores da Humanidade vai ainda homenagear a Agenzia Habeshiaa, a Fundação Calouste Gulbenkian e ainda recordar o papel das enfermeiras paraquedistas portuguesas.
Em 1961, foi criado o corpo de Enfermeiras Paraquedistas, integrado na Força Aérea Portuguesa, que teve a sua origem nos mesmos princípios humanitários defendidos pela Cruz Vermelha Internacional, cuja organização sempre se destacou pela importância do papel das mulheres nas missões de socorro às populações, nomeadamente perante as grandes catástrofes naturais. Foi esse o espírito, primeiro, da sua mentora, Isabel Rilvas, e, depois, das autoridades portuguesas, confrontadas com a necessidade de terem profissionais competentes para socorrerem as populações civis afetadas no contexto da guerra e também para tratarem dos militares portugueses feridos.
Durante 14 anos, 46 mulheres portuguesas estiveram diretamente envolvidas na guerra do Ultramar, em inúmeras missões de recuperação e evacuação de feridos do campo de batalha, em cenários como Angola, Guiné- Bissau e Moçambique.
O “Terra Justa”, Encontro internacional de Causas e Valores da Humanidade, é um evento internacional que ocorre na cidade de Fafe, com o objetivo alertar, provocar e envolver as pessoas a refletir sobre a importância das causas e valores da humanidade.
De 5 a 9 de Abril, a cidade vai acolher conferências, tertúlias de café com convidados nacionais e internacionais, exposições de rua, teatro de rua, debates, música, arte pública, entre muitas outras atividades.
Além da questão dos refugiados, vão ser ainda abordados temas como os direitos humanos em cenários de conflito, o valor da cultura e questões relacionadas com a religião.
A Fundação Calouste Gulbenkian e Agenzia Internacional Habeshia serão duas instituições em destaque e a homenagear durante a Terra Justa.
As causas entre as pessoas…
O centro da cidade de Fafe será palco de um “caminho das causas” e de um túnel de grandes dimensões, objetos de arte pública, cujo objetivo é envolver as pessoas para as grandes causas da humanidade e para problemáticas que são ignoradas no nosso dia a dia.
No Arquivo Municipal, em Fafe, vão estar patentes exposições dedicadas a António Guterres, Agenzia Habeshia, Fundação Calouste Gulbenkian e às enfermeiras paraquedistas portuguesas.
Mural das Causas…
Em plena cidade, o monumento, feito a partir de um bloco de granito, desenhado pelos arquitetos da Câmara Municipal de Fafe, vai continuar a guardar, durante 25 anos, as mensagens de grandes individualidades que passaram por Fafe.
Recorde-se que já se encontram no mural as mensagens do Cardeal Óscar Maradiaga, ex-Presidente da Cáritas Internacional e braço direito do Papa Francisco para a reforma da Igreja, Maria de Jesus Barroso Soares, da Fundação Pro-Dignitate, e das ONG´s Amnistia Internacional e Médicos do Mundo. A ideia é perceber, em 2041, como era o mundo, as ideias e a visão da sociedade, nomeadamente ao nível dos valores humanos e das grandes causas globais.
APAV apoiou, em média, três crianças e jovens por dia vítimas de agressão
In "Correio da Manhã"
A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) apoiou, em 2015, uma média de três crianças e jovens por dia vítimas de crime, num total de 1.084, mais 92 face a 2014, segundo dados hoje divulgados. O relatório anual 2015 da APAV refere que 54,6% das vítimas são meninas, com uma média de idade de 9,9 anos, sendo que 23,8% frequenta o pré-escolar e 23,6%, o primeiro ciclo. Os dados da APAV apontam 102 casos de crianças menores de 14 anos que foram abusadas sexualmente e um caso de pornografia de menores.
A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) apoiou, em 2015, uma média de três crianças e jovens por dia vítimas de crime, num total de 1.084, mais 92 face a 2014, segundo dados hoje divulgados. O relatório anual 2015 da APAV refere que 54,6% das vítimas são meninas, com uma média de idade de 9,9 anos, sendo que 23,8% frequenta o pré-escolar e 23,6%, o primeiro ciclo. Os dados da APAV apontam 102 casos de crianças menores de 14 anos que foram abusadas sexualmente e um caso de pornografia de menores.
Relatório da APAV sobre crimes em 2015
In "Antena 1"
Houve mais de 60 crimes por dia no ano passado. É pelo menos essa a média traçada pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima. De acordo com o relatório da APAV, em 2015 a associação acompanhou mais de 23 mil casos o que representa um aumento de 13% no nº de crimes comparando com 2014. Também houve em 2015 uma subida das pessoas que procuraram a APAV. São agora quase dez mil portugueses, o que também representa uma subida, neste caso de 10% em relação a 2014.
Declarações de João Lázaro.
Houve mais de 60 crimes por dia no ano passado. É pelo menos essa a média traçada pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima. De acordo com o relatório da APAV, em 2015 a associação acompanhou mais de 23 mil casos o que representa um aumento de 13% no nº de crimes comparando com 2014. Também houve em 2015 uma subida das pessoas que procuraram a APAV. São agora quase dez mil portugueses, o que também representa uma subida, neste caso de 10% em relação a 2014.
Declarações de João Lázaro.
Pobreza associada a maior risco de suícidio
In "Sábado"
Na Área Metropolitana de Lisboa há uma relação significativa entre o risco de suicídio e a privação material, concluiu um projecto de investigação coordenado pela Universidade de Coimbra.
Um dos estudos integrados no projecto Smaile, Saúde Mental - Avaliação do Impacte das condicionantes Locais e Económicas, que analisou a relação entre a privação material e social e o risco de suicídio nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, identificou uma associação significativa entre privação material e mortalidade por suicídio na capital.
Segundo o estudo, coordenado pelo Centro de Estudos em Geografia e Ordenamento do Território (GEGOT) da Universidade de Coimbra, na Área Metropolitana de Lisboa, a população "que reside em freguesias com maior privação material tem um risco de mortalidade por suicídio 18% superior quando comparada com a população a residir em freguesias com menor privação material", disse à agência Lusa a coordenadora do projecto, Paula Santana.
Face a este resultado, a especialista defende uma "adequação das intervenções às características dos diferentes territórios, definindo como prioridade a actuação nos determinantes da pobreza, nomeadamente em intervenções que pretendam promover a literacia, o emprego e a melhoria das condições de habitação".
Em Lisboa, identificou-se um maior número de freguesias com elevado risco de se morrer por suicídio, apesar de ser mais difícil criar um "padrão geográfico" das mesmas.
Nesta área metropolitana "existem municípios cuja maioria das freguesias possuem risco elevado de mortalidade por suicídio", sublinhou, apontando para freguesias nos concelhos de Mafra, Loures e Lisboa, na margem norte, e Montijo, Palmela, Setúbal e Sesimbra, na margem sul.
Já no Porto, o risco elevado localiza-se "sobretudo em freguesias de maior ruralidade, interiores e limítrofes, nomeadamente nos municípios de Santo Tirso, Paredes, Oliveira de Azeméis, Vale de Cambra e Arouca".
Na Área Metropolitana do Porto, deveriam ser encetadas acções "direccionadas aos grupos que se encontram em grande vulnerabilidade social, como os idosos que vivem sós e a população em situação de pobreza".
"As câmaras municipais poderão ter um papel relevante na diminuição das desigualdades em saúde, nomeadamente através de intervenções intersectoriais e enquanto agentes na alteração da relação entre os contextos de privação e o suicídio", concluiu o estudo.
O índice de privação material foi construído para este estudo com base em três variáveis: analfabetismo, desemprego e alojamentos familiares de residência habitual sem retrete.
Outro estudo do mesmo projecto, que analisa internamentos por doença mental nas duas áreas metropolitanas, também identifica uma associação positiva entre o número de internamentos e os níveis de privação, "tanto material como social", das áreas de residência dos utentes.
"O efeito da crise não se faz sentir de modo uniforme em todas as áreas, mas é mais intenso em áreas contextualmente mais vulneráveis", refere.
O projecto Smaile reúne diversos estudos centrados no impacto da crise na saúde mental em Portugal, tendo sido financiado pelo Programa Operacional Factores de Competitividade (COMPETE) e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
Na Área Metropolitana de Lisboa há uma relação significativa entre o risco de suicídio e a privação material, concluiu um projecto de investigação coordenado pela Universidade de Coimbra.
Um dos estudos integrados no projecto Smaile, Saúde Mental - Avaliação do Impacte das condicionantes Locais e Económicas, que analisou a relação entre a privação material e social e o risco de suicídio nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, identificou uma associação significativa entre privação material e mortalidade por suicídio na capital.
Segundo o estudo, coordenado pelo Centro de Estudos em Geografia e Ordenamento do Território (GEGOT) da Universidade de Coimbra, na Área Metropolitana de Lisboa, a população "que reside em freguesias com maior privação material tem um risco de mortalidade por suicídio 18% superior quando comparada com a população a residir em freguesias com menor privação material", disse à agência Lusa a coordenadora do projecto, Paula Santana.
Face a este resultado, a especialista defende uma "adequação das intervenções às características dos diferentes territórios, definindo como prioridade a actuação nos determinantes da pobreza, nomeadamente em intervenções que pretendam promover a literacia, o emprego e a melhoria das condições de habitação".
Em Lisboa, identificou-se um maior número de freguesias com elevado risco de se morrer por suicídio, apesar de ser mais difícil criar um "padrão geográfico" das mesmas.
Nesta área metropolitana "existem municípios cuja maioria das freguesias possuem risco elevado de mortalidade por suicídio", sublinhou, apontando para freguesias nos concelhos de Mafra, Loures e Lisboa, na margem norte, e Montijo, Palmela, Setúbal e Sesimbra, na margem sul.
Já no Porto, o risco elevado localiza-se "sobretudo em freguesias de maior ruralidade, interiores e limítrofes, nomeadamente nos municípios de Santo Tirso, Paredes, Oliveira de Azeméis, Vale de Cambra e Arouca".
Na Área Metropolitana do Porto, deveriam ser encetadas acções "direccionadas aos grupos que se encontram em grande vulnerabilidade social, como os idosos que vivem sós e a população em situação de pobreza".
"As câmaras municipais poderão ter um papel relevante na diminuição das desigualdades em saúde, nomeadamente através de intervenções intersectoriais e enquanto agentes na alteração da relação entre os contextos de privação e o suicídio", concluiu o estudo.
O índice de privação material foi construído para este estudo com base em três variáveis: analfabetismo, desemprego e alojamentos familiares de residência habitual sem retrete.
Outro estudo do mesmo projecto, que analisa internamentos por doença mental nas duas áreas metropolitanas, também identifica uma associação positiva entre o número de internamentos e os níveis de privação, "tanto material como social", das áreas de residência dos utentes.
"O efeito da crise não se faz sentir de modo uniforme em todas as áreas, mas é mais intenso em áreas contextualmente mais vulneráveis", refere.
O projecto Smaile reúne diversos estudos centrados no impacto da crise na saúde mental em Portugal, tendo sido financiado pelo Programa Operacional Factores de Competitividade (COMPETE) e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
Jovem português cria organização para levar mais crianças à escola em zonas de conflito
In "Renascença"
José Figueiredo criou a organização “A Book Can Change” e quer pôr as pessoas a doar dinheiro para projectos concretos de construção de escolas, de casas de banho e de recreios escolares e ainda o financiamento do percurso escolar de alunos ou de formação a professores.
O português José Figueiredo criou uma organização sem fins lucrativos para aumentar o número de crianças que vão à escola nas zonas de conflito armado: a primeira conquista será a construção de um recreio no Líbano.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 40% das crianças que não vão à escola vivam em regiões de conflito armado e é precisamente para combater esta estatística que a organização “A Book Can Change” existe, dando seguimento ao “quarto Objectivo do Milénio” da ONU de garantir que, até 2030, todas as crianças completam o ensino primário e secundário de qualidade.
José Figueiredo, 27 anos, tem no percurso paragens em vários continentes: em 2011, foi para Londres, depois para São Paulo, onde em 2013 lançou a sua primeira empresa tecnológica. Já com vontade de regressar à Europa, foi para Berlim e as pessoas que ali conheceu levaram-no para a Nigéria, onde instalou uma empresa de comparação de serviços financeiros.
Regressar para um projecto de impacto social
Já no final de 2015, decidiu que era tempo de voltar a Portugal e de "usar as [suas] capacidades para lançar um projecto com um impacto social", concluindo que educação e guerra são dois temas que lhe interessam e que era aqui que queria actuar.
"A educação foi algo que sempre tive como garantido, nunca sequer pensei o que seria não ter tido educação. E, quando percebi que há crianças que nunca terão oportunidade de ir à escola, vi que estas crianças ficam entregues ao destino", afirmou, acrescentando que "a maior barreira à educação hoje em dia tem a ver com conflito armado".
Foi com estas duas realidades na cabeça que começou a idealizar a “A Book Can Change”, uma organização sem fins lucrativos que acredita que um livro pode mesmo fazer a diferença.
O primeiro objectivo é a construção de um recreio numa escola em Bekaa Valley, no Líbano, junto à fronteira com a Síria, onde José esteve em Dezembro de 2015. Actualmente, o Líbano acolhe mais de um milhão de refugiados sírios e cerca de metade são crianças.
Mas, antes de ir, houve um caminho a percorrer, que será replicado em todos os projectos. O primeiro passo é identificar uma região em conflito e as organizações que lá operem e que forneçam serviços educativos semelhantes.
Escolas para quem não as tem
Em causa estão construções de escolas, de casas de banho e de recreios escolares e ainda o financiamento do percurso escolar de alunos ou de formação a professores.
Seleccionado o projecto, a “A Book Can Change”, vai ao local, faz um documentário e depois promove o projecto na sua plataforma “online” para angariar os fundos necessários.
Esta plataforma “online”, que está agora em fase de construção, é um “site”; de "doação directa" para as causas apoiadas, "mas tem uma característica exponencial de doação", conta José Figueiredo, dando um exemplo de família.
"Quando a minha mãe fez 50 anos, convidou os amigos e à entrada do restaurante colocou três caixas, uma para cada instituição. No convite, disse que não queria presentes e pediu aos amigos para fazerem uma doação para uma das instituições", relatou José, concluindo que "a ideia é pegar neste conceito e passá-lo para o digital".
Personalizar a doação
Ou seja, quem quiser financiar a construção de uma escola nestes locais pode fazer um donativo directamente, mas pode também criar um perfil, definir um objectivo monetário e convidar a sua rede de contactos a doar também para que, juntos, cumpram aquele objectivo.
Angariado o dinheiro, começa a fase da construção - nove meses para uma escola, por exemplo - e depois, passado este tempo, há uma nova visita para confirmar que o projecto foi executado e para realizar "um relatório detalhado" para os financiadores.
Questionado sobre onde quer estar daqui a três anos, a resposta de José foi simples: "Eu não sei onde quero estar, mas quero que a “A Book Can Change”; esteja a funcionar perfeitamente, a construir muitas escolas e a levar muitas crianças para a escola".
José Figueiredo criou a organização “A Book Can Change” e quer pôr as pessoas a doar dinheiro para projectos concretos de construção de escolas, de casas de banho e de recreios escolares e ainda o financiamento do percurso escolar de alunos ou de formação a professores.
O português José Figueiredo criou uma organização sem fins lucrativos para aumentar o número de crianças que vão à escola nas zonas de conflito armado: a primeira conquista será a construção de um recreio no Líbano.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 40% das crianças que não vão à escola vivam em regiões de conflito armado e é precisamente para combater esta estatística que a organização “A Book Can Change” existe, dando seguimento ao “quarto Objectivo do Milénio” da ONU de garantir que, até 2030, todas as crianças completam o ensino primário e secundário de qualidade.
José Figueiredo, 27 anos, tem no percurso paragens em vários continentes: em 2011, foi para Londres, depois para São Paulo, onde em 2013 lançou a sua primeira empresa tecnológica. Já com vontade de regressar à Europa, foi para Berlim e as pessoas que ali conheceu levaram-no para a Nigéria, onde instalou uma empresa de comparação de serviços financeiros.
Regressar para um projecto de impacto social
Já no final de 2015, decidiu que era tempo de voltar a Portugal e de "usar as [suas] capacidades para lançar um projecto com um impacto social", concluindo que educação e guerra são dois temas que lhe interessam e que era aqui que queria actuar.
"A educação foi algo que sempre tive como garantido, nunca sequer pensei o que seria não ter tido educação. E, quando percebi que há crianças que nunca terão oportunidade de ir à escola, vi que estas crianças ficam entregues ao destino", afirmou, acrescentando que "a maior barreira à educação hoje em dia tem a ver com conflito armado".
Foi com estas duas realidades na cabeça que começou a idealizar a “A Book Can Change”, uma organização sem fins lucrativos que acredita que um livro pode mesmo fazer a diferença.
O primeiro objectivo é a construção de um recreio numa escola em Bekaa Valley, no Líbano, junto à fronteira com a Síria, onde José esteve em Dezembro de 2015. Actualmente, o Líbano acolhe mais de um milhão de refugiados sírios e cerca de metade são crianças.
Mas, antes de ir, houve um caminho a percorrer, que será replicado em todos os projectos. O primeiro passo é identificar uma região em conflito e as organizações que lá operem e que forneçam serviços educativos semelhantes.
Escolas para quem não as tem
Em causa estão construções de escolas, de casas de banho e de recreios escolares e ainda o financiamento do percurso escolar de alunos ou de formação a professores.
Seleccionado o projecto, a “A Book Can Change”, vai ao local, faz um documentário e depois promove o projecto na sua plataforma “online” para angariar os fundos necessários.
Esta plataforma “online”, que está agora em fase de construção, é um “site”; de "doação directa" para as causas apoiadas, "mas tem uma característica exponencial de doação", conta José Figueiredo, dando um exemplo de família.
"Quando a minha mãe fez 50 anos, convidou os amigos e à entrada do restaurante colocou três caixas, uma para cada instituição. No convite, disse que não queria presentes e pediu aos amigos para fazerem uma doação para uma das instituições", relatou José, concluindo que "a ideia é pegar neste conceito e passá-lo para o digital".
Personalizar a doação
Ou seja, quem quiser financiar a construção de uma escola nestes locais pode fazer um donativo directamente, mas pode também criar um perfil, definir um objectivo monetário e convidar a sua rede de contactos a doar também para que, juntos, cumpram aquele objectivo.
Angariado o dinheiro, começa a fase da construção - nove meses para uma escola, por exemplo - e depois, passado este tempo, há uma nova visita para confirmar que o projecto foi executado e para realizar "um relatório detalhado" para os financiadores.
Questionado sobre onde quer estar daqui a três anos, a resposta de José foi simples: "Eu não sei onde quero estar, mas quero que a “A Book Can Change”; esteja a funcionar perfeitamente, a construir muitas escolas e a levar muitas crianças para a escola".
Cardeal Patriarca pede aos católicos para se darem aos mais desprotegidos
In "Renascença"
Perante centenas de fiéis, o cardeal-patriarca recordou que milhões de cristãos em todo o mundo celebram a ressurreição de Jesus, “em países em paz e em guerra, em famílias felizes e em luto, em vidas realizadas e outras por realizar”.
O cardeal-patriarca de Lisboa propôs hoje aos católicos o “dom de si”, em favor dos mais necessitados, como forma de continuar a ressurreição de Jesus na vida de todos.
“Escolhamos o que Jesus escolheu, esvaziando-nos de nós para que os outros caibam, certos de que, sempre que assim for, começaremos a ressuscitar e, connosco, o mundo”, disse D. Manuel Clemente, citado pela Ecclesia, na homilia da Missa do Domingo de Páscoa a que presidiu na Sé patriarcal.
Perante centenas de fiéis, o cardeal-patriarca recordou que milhões de cristãos em todo o mundo celebram a ressurreição de Jesus, “em países em paz e em guerra, em famílias felizes e em luto, em vidas realizadas e outras por realizar”.
Os católicos são, por isso, chamados a ser “solidários com as alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias” de todas as pessoas.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa sublinhou que Jesus sofre nas vidas de homens e mulheres da atualidade, pelo que “crer na ressurreição de Cristo não é alhear-se do mundo, é recomeçá-lo sempre”.
Nesse contexto, deixou um elogio a quem se empenha “nas causas da vida e da paz”, os que ajudam pobres e doentes, cumprindo as “obras de misericórdia” para “responder a necessidades do corpo ou do espírito, sejam de quem for e onde for”.
“A vida de Cristo vence a morte do mundo”, acrescentou.
Após reforçar a ideia de que os católicos que partilham “dores e tristezas” da humanidade em todo o mundo, D. Manuel Clemente sustentou que “a vida triunfa no eu solidário” ao contrário do “eu solitário”.
Perante centenas de fiéis, o cardeal-patriarca recordou que milhões de cristãos em todo o mundo celebram a ressurreição de Jesus, “em países em paz e em guerra, em famílias felizes e em luto, em vidas realizadas e outras por realizar”.
O cardeal-patriarca de Lisboa propôs hoje aos católicos o “dom de si”, em favor dos mais necessitados, como forma de continuar a ressurreição de Jesus na vida de todos.
“Escolhamos o que Jesus escolheu, esvaziando-nos de nós para que os outros caibam, certos de que, sempre que assim for, começaremos a ressuscitar e, connosco, o mundo”, disse D. Manuel Clemente, citado pela Ecclesia, na homilia da Missa do Domingo de Páscoa a que presidiu na Sé patriarcal.
Perante centenas de fiéis, o cardeal-patriarca recordou que milhões de cristãos em todo o mundo celebram a ressurreição de Jesus, “em países em paz e em guerra, em famílias felizes e em luto, em vidas realizadas e outras por realizar”.
Os católicos são, por isso, chamados a ser “solidários com as alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias” de todas as pessoas.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa sublinhou que Jesus sofre nas vidas de homens e mulheres da atualidade, pelo que “crer na ressurreição de Cristo não é alhear-se do mundo, é recomeçá-lo sempre”.
Nesse contexto, deixou um elogio a quem se empenha “nas causas da vida e da paz”, os que ajudam pobres e doentes, cumprindo as “obras de misericórdia” para “responder a necessidades do corpo ou do espírito, sejam de quem for e onde for”.
“A vida de Cristo vence a morte do mundo”, acrescentou.
Após reforçar a ideia de que os católicos que partilham “dores e tristezas” da humanidade em todo o mundo, D. Manuel Clemente sustentou que “a vida triunfa no eu solidário” ao contrário do “eu solitário”.
Documentário sobre imigração portuguesa faz sucesso no Luxemburgo
In "Renascença"
“Eldorado” conta as histórias de Fernando, electricista; Jonathan, um adolescente com dificuldades na escola; Isabel, que encontra trabalho a fazer limpezas; e Carlos, de origem cabo-verdiana, com problemas com a justiça.
O documentário "Eldorado", que retrata pela primeira vez a imigração portuguesa no Luxemburgo, teve mais de 1.500 espectadores na primeira semana de exibição no país, um sucesso de audiências para um filme não-ficcional.
O filme, que iniciou a segunda semana de exibição, tem já garantida uma terceira semana nos cinemas luxemburgueses, disse à agência Lusa um dos realizadores, o português Rui Eduardo Abreu, que assina o documentário com os luxemburgueses Thierry Besseling e Loïc Tanson.
Durante três anos, os realizadores filmaram a vida de quatro imigrantes portugueses em busca do "sonho luxemburguês": Fernando, electricista recém-chegado ao país, Jonathan, um adolescente com dificuldades na escola, Isabel, que encontra trabalho a fazer limpezas, e Carlos, de origem cabo-verdiana, com problemas com a justiça.
Em Fevereiro, ainda antes da estreia de "Eldorado", o realizador português disse que o objectivo do filme era "dar voz" a pessoas que são raramente retratadas no cinema.
"É a primeira vez que a comunidade portuguesa no Luxemburgo é retratada e que pode exprimir-se num filme, mostrando as suas vidas, a sua intimidade, as suas emoções, as suas discussões e reflexões, e é muito importante para nós mostrar que são reconhecidos e que têm voz", afirmou.
Um filme universal
Filmado no Luxemburgo e em Portugal, na serra da Lousada e na costa de Viana do Castelo, o documentário levou sete anos a ser concluído e está a ser promovido intensamente pela produtora luxemburguesa Samsa, com projecções para a imprensa, participação dos realizadores em debates e exibição nas maiores salas do país.
O filme, que foi seleccionado para a competição oficial do Taiwan International Documentary Festival, depois de ter sido exibido em Fevereiro no Festival Internacional de Cinema do Luxemburgo, tem tido bom acolhimento por parte da crítica luxemburguesa e do público português e luxemburguês.
"Tivemos muitas reacções de pessoas que dizem que o filme é universal e que damos voz a todos os imigrantes", disse o realizador, que tem participado também em "debates animados" a seguir às projecções, afirmando que o documentário "consegue interpelar as pessoas".
O realizador disse à Lusa que há muitos portugueses "comovidos" com o documentário, afirmando que "mostra a realidade" da comunidade no país, enquanto outros se queixam de "Eldorado" deixar de fora "os casos de sucesso" da imigração portuguesa.
“Eldorado” conta as histórias de Fernando, electricista; Jonathan, um adolescente com dificuldades na escola; Isabel, que encontra trabalho a fazer limpezas; e Carlos, de origem cabo-verdiana, com problemas com a justiça.
O documentário "Eldorado", que retrata pela primeira vez a imigração portuguesa no Luxemburgo, teve mais de 1.500 espectadores na primeira semana de exibição no país, um sucesso de audiências para um filme não-ficcional.
O filme, que iniciou a segunda semana de exibição, tem já garantida uma terceira semana nos cinemas luxemburgueses, disse à agência Lusa um dos realizadores, o português Rui Eduardo Abreu, que assina o documentário com os luxemburgueses Thierry Besseling e Loïc Tanson.
Durante três anos, os realizadores filmaram a vida de quatro imigrantes portugueses em busca do "sonho luxemburguês": Fernando, electricista recém-chegado ao país, Jonathan, um adolescente com dificuldades na escola, Isabel, que encontra trabalho a fazer limpezas, e Carlos, de origem cabo-verdiana, com problemas com a justiça.
Em Fevereiro, ainda antes da estreia de "Eldorado", o realizador português disse que o objectivo do filme era "dar voz" a pessoas que são raramente retratadas no cinema.
"É a primeira vez que a comunidade portuguesa no Luxemburgo é retratada e que pode exprimir-se num filme, mostrando as suas vidas, a sua intimidade, as suas emoções, as suas discussões e reflexões, e é muito importante para nós mostrar que são reconhecidos e que têm voz", afirmou.
Um filme universal
Filmado no Luxemburgo e em Portugal, na serra da Lousada e na costa de Viana do Castelo, o documentário levou sete anos a ser concluído e está a ser promovido intensamente pela produtora luxemburguesa Samsa, com projecções para a imprensa, participação dos realizadores em debates e exibição nas maiores salas do país.
O filme, que foi seleccionado para a competição oficial do Taiwan International Documentary Festival, depois de ter sido exibido em Fevereiro no Festival Internacional de Cinema do Luxemburgo, tem tido bom acolhimento por parte da crítica luxemburguesa e do público português e luxemburguês.
"Tivemos muitas reacções de pessoas que dizem que o filme é universal e que damos voz a todos os imigrantes", disse o realizador, que tem participado também em "debates animados" a seguir às projecções, afirmando que o documentário "consegue interpelar as pessoas".
O realizador disse à Lusa que há muitos portugueses "comovidos" com o documentário, afirmando que "mostra a realidade" da comunidade no país, enquanto outros se queixam de "Eldorado" deixar de fora "os casos de sucesso" da imigração portuguesa.
Por dia, 14 mulheres são vítimas de crime
In "Renascença"
Aumentam denúncias à APAV após silêncio do pico da crise. Predominam os crimes de maus-tratos psíquicos e físicos.
A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) registou um aumento de casos em 2015, denunciados cada vez mais por contacto telefónico. Foram feitos mais de 34 mil atendimentos a vítimas, segundo o relatório anual. A maioria das vítimas são mulheres. Em média, por dia, 14 mulheres são vítimas de crime.
O presidente da APAV, João Lázaro, aponta um aumento de 8% nos processos nos últimos dois anos, porque a crise impediu muitas pessoas de pedirem ajuda. “O empobrecimento da sociedade portuguesa no pico da crise – e ainda muitos efeitos se sentem dessa crise – um calar, um não denunciar, um não pedir apoio, muitas vezes por falta de alternativas de construção de um projecto de vida sem violência, como por exemplo no caso da violência intrafamiliar”, descreve.
O relatório diz que são muitos mais os crimes contra pessoas, mais de 95% e sobretudo maus-tratos psíquicos e físicos. As vítimas continuam a ser, sobretudo, do sexo feminino. Em 2015, por semana, em média, 101 mulheres foram vítimas de crime, 14 homens, 18 pessoas idosas, 20 crianças e jovens.
O relatório apresenta ainda o perfil geral da vítima: É uma mulher, com cerca de 40 anos, casada, com filhos, frequentou o ensino superior, está empregada e o agressor é sobretudo o cônjuge.
A violência doméstica registou 18. 679 casos nos processos da APAV, que alerta que nem sempre é possível fazer a denúncia, “pela impossibilidade muitas vezes de poder pagar uma chamada telefónica, daí a importância de um número gratuito, como o 116 006, ou então, para casos mais complicados, deslocarem-se aos gabinetes de apoio à vítima”, aponta João Lázaro.
A vitimização mais registada pela APAV foi de "tipo continuado", assinalada em 74,7% dos casos. Em 16,3% das situações duravam, em média, entre os dois e os seis anos.
Vítimas queixam-se de vários crimes
O presidente da APAV explica os 34 mil atendimentos, correspondentes a mais de 9.600 pessoas. “Regra geral, as pessoas vêm com um ou mais crimes de que são vítimas, daí a questão de haver um número tão elevado de crimes e actos de violência”.
Os locais do crime mais referenciados foram a residência comum (5.976), a residência da vítima (1.590) e a via pública (1.105). Fora do âmbito dos crimes contra as pessoas, o relatório realça os crimes patrimoniais, nomeadamente o crime de dano, com 229 registos (15%).
Destaca também as "outras formas de violência", que incluem o 'bullying' e o 'stalking' (assédio persistente) e representaram mais de 500 queixas (2,5% do total das denúncias).
APAV apoiou três crianças e jovens por dia em 2015
A APAV apoiou em 2015 uma média de três crianças e jovens por dia vítimas de crime, num total de 1.084, mais 92 face a 2014. O relatório anual refere que 54,6% são meninas, com uma média de idade de 9,9 anos, sendo que 23,8% frequenta o pré-escolar e 23,6%, o primeiro ciclo.
Os dados apontam 102 casos de crianças menores de 14 anos que foram abusadas sexualmente e um caso de pornografia de menores. A maioria das vítimas vivia em famílias nucleares com filhos (49,6%).
Em 2015, a APAV apoiou 255 vítimas de crime sexual, a grande maioria (82,1%) mulheres, com uma média de idade a rondar os 25 anos. Metade das vítimas era estudante, sendo que 20,1% frequentavam o ensino secundário, 18,2%, o terceiro ciclo e 15,9%, o primeiro ciclo.
Relativamente aos idosos, as estatísticas da associação referem que foram apoiadas 977 vítimas em 2015, mais 125 do que no ano anterior. 80,5% destas vítimas são mulheres, com uma média de idade de 75 anos.
Cerca de 60% dos atendimentos em 2015 foram feitos por contacto telefónico, 30% foram presenciais, 10% por email e ainda poucos pelas redes sociais. Ao todo representam quase 10 mil vítimas.
Aumentam denúncias à APAV após silêncio do pico da crise. Predominam os crimes de maus-tratos psíquicos e físicos.
A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) registou um aumento de casos em 2015, denunciados cada vez mais por contacto telefónico. Foram feitos mais de 34 mil atendimentos a vítimas, segundo o relatório anual. A maioria das vítimas são mulheres. Em média, por dia, 14 mulheres são vítimas de crime.
O presidente da APAV, João Lázaro, aponta um aumento de 8% nos processos nos últimos dois anos, porque a crise impediu muitas pessoas de pedirem ajuda. “O empobrecimento da sociedade portuguesa no pico da crise – e ainda muitos efeitos se sentem dessa crise – um calar, um não denunciar, um não pedir apoio, muitas vezes por falta de alternativas de construção de um projecto de vida sem violência, como por exemplo no caso da violência intrafamiliar”, descreve.
O relatório diz que são muitos mais os crimes contra pessoas, mais de 95% e sobretudo maus-tratos psíquicos e físicos. As vítimas continuam a ser, sobretudo, do sexo feminino. Em 2015, por semana, em média, 101 mulheres foram vítimas de crime, 14 homens, 18 pessoas idosas, 20 crianças e jovens.
O relatório apresenta ainda o perfil geral da vítima: É uma mulher, com cerca de 40 anos, casada, com filhos, frequentou o ensino superior, está empregada e o agressor é sobretudo o cônjuge.
A violência doméstica registou 18. 679 casos nos processos da APAV, que alerta que nem sempre é possível fazer a denúncia, “pela impossibilidade muitas vezes de poder pagar uma chamada telefónica, daí a importância de um número gratuito, como o 116 006, ou então, para casos mais complicados, deslocarem-se aos gabinetes de apoio à vítima”, aponta João Lázaro.
A vitimização mais registada pela APAV foi de "tipo continuado", assinalada em 74,7% dos casos. Em 16,3% das situações duravam, em média, entre os dois e os seis anos.
Vítimas queixam-se de vários crimes
O presidente da APAV explica os 34 mil atendimentos, correspondentes a mais de 9.600 pessoas. “Regra geral, as pessoas vêm com um ou mais crimes de que são vítimas, daí a questão de haver um número tão elevado de crimes e actos de violência”.
Os locais do crime mais referenciados foram a residência comum (5.976), a residência da vítima (1.590) e a via pública (1.105). Fora do âmbito dos crimes contra as pessoas, o relatório realça os crimes patrimoniais, nomeadamente o crime de dano, com 229 registos (15%).
Destaca também as "outras formas de violência", que incluem o 'bullying' e o 'stalking' (assédio persistente) e representaram mais de 500 queixas (2,5% do total das denúncias).
APAV apoiou três crianças e jovens por dia em 2015
A APAV apoiou em 2015 uma média de três crianças e jovens por dia vítimas de crime, num total de 1.084, mais 92 face a 2014. O relatório anual refere que 54,6% são meninas, com uma média de idade de 9,9 anos, sendo que 23,8% frequenta o pré-escolar e 23,6%, o primeiro ciclo.
Os dados apontam 102 casos de crianças menores de 14 anos que foram abusadas sexualmente e um caso de pornografia de menores. A maioria das vítimas vivia em famílias nucleares com filhos (49,6%).
Em 2015, a APAV apoiou 255 vítimas de crime sexual, a grande maioria (82,1%) mulheres, com uma média de idade a rondar os 25 anos. Metade das vítimas era estudante, sendo que 20,1% frequentavam o ensino secundário, 18,2%, o terceiro ciclo e 15,9%, o primeiro ciclo.
Relativamente aos idosos, as estatísticas da associação referem que foram apoiadas 977 vítimas em 2015, mais 125 do que no ano anterior. 80,5% destas vítimas são mulheres, com uma média de idade de 75 anos.
Cerca de 60% dos atendimentos em 2015 foram feitos por contacto telefónico, 30% foram presenciais, 10% por email e ainda poucos pelas redes sociais. Ao todo representam quase 10 mil vítimas.
Aitor quer ser o “arquitecto de família” da população do Bonfim
Texto de Mariana Correia Pinto, in Público on-line (P3)
Aterrou no Porto para fazer um doutoramento sobre o processo SAAL e terminou a criar um projecto de reabilitação no oriente da cidade. Arquitecto espanhol quer fazer da sua profissão uma ferramenta de mudança do mundo. Só no Bonfim, o Programa Habitar tem duas mil casas abandonadas para recuperar
É um dia importante no "PREC" do número 295 da Avenida Rodrigues de Freitas. Depois da demolição de paredes, da colocação de 1500 quilos de entulho em sacos e da substituição de vidros partidos, a electricidade foi finalmente instalada no quarto piso do típico edifício portuense. Fez-se luz neste "Processo de Reabilitação em Curso" — assim gosta de lhe chamar Aitor Varea Oro, o arquitecto espanhol que trocou Valência pelo Porto a sonhar transformar-se no “arquitecto de família” da freguesia do Bonfim. O Programa Habitar, por ele delineado, abre em Abril um gabinete de atendimento na junta local, mas tem já um projecto piloto a ganhar forma. Quer ser uma nova solução para proprietários de casas devolutas, profissionais da construção e inquilinos em busca de habitação a preço justo.
Neste “laboratório” chamado Bonfim, Aitor encontrou muita matéria-prima para ser trabalhada: são duas mil as casas devolutas, 20 por cento do total de habitação da freguesia, e ainda um número não calculado de residências que, apesar de estarem habitadas, se encontram em mau estado. Não é um panorama anormal no centro da cidade, que na última década viu um terço da sua população virar-lhe as costas. Mas a batalha não foi dada como perdida no Bonfim: “Temos consciência dessa deslocalização para a periferia e reverter essa saída é uma prioridade. Por isso, apoiamos este projecto”, explica o presidente da junta de freguesia, José Manuel Carvalho.
Aitor era ainda estudante de arquitectura em Valência quando se apaixonou pela arquitectura portuguesa, e pela escola do Porto em particular. Por isso, quando a oportunidade de fazer Erasmus surgiu, não podia ter escolhido outro destino. Estávamos em 2005. Por esta altura, uma pergunta já era persistente na cabeça dele: afinal, qual era a função do arquitecto? Seria “fazer modelos ou fazer outra coisa com os modelos?” Terminado o curso, o arquitecto que um dia sonhou ser jornalista envolveu-se num movimento de moradores e na plataforma “Salvem El Cabanyal”, um bairro de Valência, na altura em risco de ver 1651 casas demolidas para dar espaço a uma nova avenida.
Foi “uma experiência marcante”. Durante um ano, em simultâneo com o doutoramento que havia começado, Aitor “viveu” no bairro e percebeu como as concepções arquitectónicas estavam incompletas. “Estava a fazer-se um projecto que tinha a ver com identidade do território, mas não se identificava a pobreza urbana como parte desse território e não se viam as famílias ciganas como moradores legítimos.” A lição ficou-lhe.
Quando rumou ao Porto para se dedicar a tempo inteiro ao doutoramento sobre o Processo SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório Local), o projecto arquitectónico e político criado poucos meses depois do 25 de Abril, Aitor trouxe esse pensamento na bagagem. Mas então outra realidade se cruzou com ele: o bairro de São Víctor, escondido entre as ruas de São Victor e das Fontainhas, um projecto menos conhecido do SAAL de Siza Vieira. E o objecto de investigação do doutoramento mudou.
“A questão estava ali. Não era tanto o que tinha acontecido, mas qual a relação entre o que se queria visar com o 25 de Abril e o SAAL e a mentalidade ainda existente e visível através das ilhas e do direito à cidade”, contou ao P3. Numa pergunta, a investigação explica-se assim: “De que maneira, através da arquitectura, podemos criar cidades mais inclusivas e mudar o mundo?”
"Criar redes, não simplesmente parcerias no papel"
A mudança inicial do seu Programa Habitar está ali, na Avenida Rodrigues de Freitas, vistas para o jardim de São Lázaro. O acordo foi simples: Aitor Varea Oro sugeriu ao proprietário do edifício parcialmente desocupado e em mau estado que cedesse o quarto piso e, em troca, ficasse com um espaço parcialmente refeito. “A recuperação fica muito cara e esta solução permitiu-lhe poupar numa fase prévia: fazer demolições, pôr vidros em falta, limpar o espaço e colocar electricidade”, explica o arquitecto. “Estas coisas mudam o ‘chip’. O proprietário já não pensa que tem uma ruína mas antes uma oportunidade.”
Liliana Lopes veio testemunhar o dia em que se fez luz na próxima morada da associação Espaços - Projetos Alternativos de Mulheres e Homens. Cruzou-se com Aitor em 2015 por um mero acaso. Moradora de uma ilha na Travessa do Campo 24 de Agosto, foi à junta do Bonfim pedir ajuda na recuperação dos espaços comuns. Descobriu que não havia nenhum programa para aquilo que queriam fazer, mas despertou o interesse de Alda Pena, responsável do pelouro da coesão social. “A Alda disse-me: o que eles estão a fazer é muito interessante. Vê se aprendes alguma coisa com eles e se podes aplicar ao resto do Bonfim”, graceja Aitor Varea Oro. A rede começava ali a ser criada.
O mentor do Programa Habitar foi conhecer a ilha e quando Liliana lhe falou da procura inglória de um espaço para a associação de promoção de igualdade de género e direitos humanos, da qual faz parte, deu-se o clique. Juntamente com a associação Critical Concrete, focada na intervenção arquitectónica sobre o espaço urbano numa perspectiva social, a Espaços será, em breve, o nova inquilina do quarto andar. “Foi muito importante porque precisávamos de um espaço para nos candidatarmos a um apoio e não tínhamos capacidade financeira para arrendar. Se tudo correr bem, esse projecto vai permitir dar trabalho remunerado durante seis meses a três jovens desempregados”, contou Liliana Lopes, docente na Escola Superior de Educação do Porto e voluntária neste projecto.
Esta parceria “improvável” entre as associações acabou por se alargar ao Habitar, do qual as associações se tornaram parceiras. E isso significa um dos objectivos do programa cumpridos: “Queremos criar redes, não simplesmente parcerias no papel.” Com uma candidatura a um apoio europeu, o Actors for Urban Change, vão receber no Verão deste ano estudantes do mundo inteiro para reabilitar um edifício do Bonfim. “No futuro queremos implementar esta estratégia no território não com estudantes mas com operários, com mão de obra local.”
No gabinete de atendimento do Programa Habitar, Aitor quer fazer os proprietários perceberem que além das opções óbvias — deixar a casa ao abandono ou vendê-la — há uma outra : “Encontrar financiamento público, ter uma equipa do Habitar a coordenar o projecto e, se for necessário, encontrar um inquilino através da junta”.
O momento para implementar a ideia, diz o presidente independente eleito na lista de Rui Moreira, não podia ser melhor. Em 2015, foram adicionadas à freguesia duas novas zonas de requalificação urbana e, na área destinada à vizinha Campanhã, há ainda uma parte significativa incluída no território do Bonfim, freguesia criada por um decreto de Costa Cabral a 11 de Dezembro de 1841. “Estar nessa zona de requalificação traz vantagens, nomeadamente no IVA, que numa reparação normal é de 23 por cento e nestas áreas é de 6 por cento”, realça.
A junta tem desde 2014 um outro projecto de apoio à reabilitação, “Casa Reparada, vida Melhorada”, através do qual foram já intervencionadas uma dezena de casas e há “mais duas ou três em curso”. A equação, diz Aitor Varea Oro, é simples e só traz ganhos: “Se há duas mil casas vagas significa que há muitas oportunidades económicas perdidas para os proprietários, para inquilinos que procuram habitação a preço justo e não encontram, e para os próprios trabalhadores da área da construção.” Para o espanhol, haver tantos arquitectos portugueses a emigrar numa cidade com quatro escolas de arquitectura e tanta necessidade de reabilitação é um completo contra-senso. “É um problema enorme e muito abrangente, tem a ver com economia local e uma cidade mais livre.”
Na rua de São Víctor está já em vista um segundo espaço a ser intervencionado pelo Habitar — agora em “stand-by”, à espera de ver resolvido um conflito entre vizinhos. Convencer a proprietária foi, neste caso, “um trabalho quase psicológico”, conta Aitor: “Foi dizer-lhe: ‘não se preocupe porque tem uma oportunidade, não um problema.” A ideia para esta casa é fazer uma reabilitação através do Reabilitar para Arrendar, do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), um programa de arrendamento em regime de renda condicionada. Com a ajuda do Habitar, a proprietária pode apresentar um orçamento para a recuperação e, com ele, ficar a saber quanto tem de pagar mensalmente pelo empréstimo, até um máximo de 15 anos. Se a prestação for superior àquilo que o proprietário cobrar por renda o empréstimo não é concedido, se for inferior é. “Isto significa que desde o primeiro dia, o senhorio tem alguém a habitar a casa e a pagar o empréstimo e o inquilino tem uma habitação a preço justo”, conta.
É apenas neste cenário que a arquitectura faz sentido para Aitor, vista não apenas como uma definição física do espaço, mas sobretudo um “serviço básico, como a educação e a saúde”. Por isso, gosta de imaginar um futuro onde haja uma espécie de “arquitecto de família” para as populações. Porque o direito à habitação, diz, “não é um problema das pessoas com poucos recursos”. “Diz respeito a todos nós e tem um impacto muito grande no funcionamento das cidades.”
Aitor já não tem dúvidas sobre o papel de um arquitecto na sociedade. E acredita que a arquitectura “está a evoluir” — como comprova o prémio Pritzker deste ano, o chileno Alejandro Aravena, conhecido pelos seus revolucionários projectos de habitação social. No processo SAAL, Aitor descobriu dois arquitectos que ganharam graças de “heróis” na lista dele. “O Nuno Teotónio Pereira e o Nuno Portas propunham uma coisa: organizar a procura em vez da oferta. Organizar as populações”, diz. É isso que o Habitar sonha fazer — agora no Bonfim, no futuro noutras freguesias da cidade. “Temos ferramentas para que isso aconteça agora, não precisamos de outro 25 de Abril.”
Aterrou no Porto para fazer um doutoramento sobre o processo SAAL e terminou a criar um projecto de reabilitação no oriente da cidade. Arquitecto espanhol quer fazer da sua profissão uma ferramenta de mudança do mundo. Só no Bonfim, o Programa Habitar tem duas mil casas abandonadas para recuperar
É um dia importante no "PREC" do número 295 da Avenida Rodrigues de Freitas. Depois da demolição de paredes, da colocação de 1500 quilos de entulho em sacos e da substituição de vidros partidos, a electricidade foi finalmente instalada no quarto piso do típico edifício portuense. Fez-se luz neste "Processo de Reabilitação em Curso" — assim gosta de lhe chamar Aitor Varea Oro, o arquitecto espanhol que trocou Valência pelo Porto a sonhar transformar-se no “arquitecto de família” da freguesia do Bonfim. O Programa Habitar, por ele delineado, abre em Abril um gabinete de atendimento na junta local, mas tem já um projecto piloto a ganhar forma. Quer ser uma nova solução para proprietários de casas devolutas, profissionais da construção e inquilinos em busca de habitação a preço justo.
Neste “laboratório” chamado Bonfim, Aitor encontrou muita matéria-prima para ser trabalhada: são duas mil as casas devolutas, 20 por cento do total de habitação da freguesia, e ainda um número não calculado de residências que, apesar de estarem habitadas, se encontram em mau estado. Não é um panorama anormal no centro da cidade, que na última década viu um terço da sua população virar-lhe as costas. Mas a batalha não foi dada como perdida no Bonfim: “Temos consciência dessa deslocalização para a periferia e reverter essa saída é uma prioridade. Por isso, apoiamos este projecto”, explica o presidente da junta de freguesia, José Manuel Carvalho.
Aitor era ainda estudante de arquitectura em Valência quando se apaixonou pela arquitectura portuguesa, e pela escola do Porto em particular. Por isso, quando a oportunidade de fazer Erasmus surgiu, não podia ter escolhido outro destino. Estávamos em 2005. Por esta altura, uma pergunta já era persistente na cabeça dele: afinal, qual era a função do arquitecto? Seria “fazer modelos ou fazer outra coisa com os modelos?” Terminado o curso, o arquitecto que um dia sonhou ser jornalista envolveu-se num movimento de moradores e na plataforma “Salvem El Cabanyal”, um bairro de Valência, na altura em risco de ver 1651 casas demolidas para dar espaço a uma nova avenida.
Foi “uma experiência marcante”. Durante um ano, em simultâneo com o doutoramento que havia começado, Aitor “viveu” no bairro e percebeu como as concepções arquitectónicas estavam incompletas. “Estava a fazer-se um projecto que tinha a ver com identidade do território, mas não se identificava a pobreza urbana como parte desse território e não se viam as famílias ciganas como moradores legítimos.” A lição ficou-lhe.
Quando rumou ao Porto para se dedicar a tempo inteiro ao doutoramento sobre o Processo SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório Local), o projecto arquitectónico e político criado poucos meses depois do 25 de Abril, Aitor trouxe esse pensamento na bagagem. Mas então outra realidade se cruzou com ele: o bairro de São Víctor, escondido entre as ruas de São Victor e das Fontainhas, um projecto menos conhecido do SAAL de Siza Vieira. E o objecto de investigação do doutoramento mudou.
“A questão estava ali. Não era tanto o que tinha acontecido, mas qual a relação entre o que se queria visar com o 25 de Abril e o SAAL e a mentalidade ainda existente e visível através das ilhas e do direito à cidade”, contou ao P3. Numa pergunta, a investigação explica-se assim: “De que maneira, através da arquitectura, podemos criar cidades mais inclusivas e mudar o mundo?”
"Criar redes, não simplesmente parcerias no papel"
A mudança inicial do seu Programa Habitar está ali, na Avenida Rodrigues de Freitas, vistas para o jardim de São Lázaro. O acordo foi simples: Aitor Varea Oro sugeriu ao proprietário do edifício parcialmente desocupado e em mau estado que cedesse o quarto piso e, em troca, ficasse com um espaço parcialmente refeito. “A recuperação fica muito cara e esta solução permitiu-lhe poupar numa fase prévia: fazer demolições, pôr vidros em falta, limpar o espaço e colocar electricidade”, explica o arquitecto. “Estas coisas mudam o ‘chip’. O proprietário já não pensa que tem uma ruína mas antes uma oportunidade.”
Liliana Lopes veio testemunhar o dia em que se fez luz na próxima morada da associação Espaços - Projetos Alternativos de Mulheres e Homens. Cruzou-se com Aitor em 2015 por um mero acaso. Moradora de uma ilha na Travessa do Campo 24 de Agosto, foi à junta do Bonfim pedir ajuda na recuperação dos espaços comuns. Descobriu que não havia nenhum programa para aquilo que queriam fazer, mas despertou o interesse de Alda Pena, responsável do pelouro da coesão social. “A Alda disse-me: o que eles estão a fazer é muito interessante. Vê se aprendes alguma coisa com eles e se podes aplicar ao resto do Bonfim”, graceja Aitor Varea Oro. A rede começava ali a ser criada.
O mentor do Programa Habitar foi conhecer a ilha e quando Liliana lhe falou da procura inglória de um espaço para a associação de promoção de igualdade de género e direitos humanos, da qual faz parte, deu-se o clique. Juntamente com a associação Critical Concrete, focada na intervenção arquitectónica sobre o espaço urbano numa perspectiva social, a Espaços será, em breve, o nova inquilina do quarto andar. “Foi muito importante porque precisávamos de um espaço para nos candidatarmos a um apoio e não tínhamos capacidade financeira para arrendar. Se tudo correr bem, esse projecto vai permitir dar trabalho remunerado durante seis meses a três jovens desempregados”, contou Liliana Lopes, docente na Escola Superior de Educação do Porto e voluntária neste projecto.
Esta parceria “improvável” entre as associações acabou por se alargar ao Habitar, do qual as associações se tornaram parceiras. E isso significa um dos objectivos do programa cumpridos: “Queremos criar redes, não simplesmente parcerias no papel.” Com uma candidatura a um apoio europeu, o Actors for Urban Change, vão receber no Verão deste ano estudantes do mundo inteiro para reabilitar um edifício do Bonfim. “No futuro queremos implementar esta estratégia no território não com estudantes mas com operários, com mão de obra local.”
No gabinete de atendimento do Programa Habitar, Aitor quer fazer os proprietários perceberem que além das opções óbvias — deixar a casa ao abandono ou vendê-la — há uma outra : “Encontrar financiamento público, ter uma equipa do Habitar a coordenar o projecto e, se for necessário, encontrar um inquilino através da junta”.
O momento para implementar a ideia, diz o presidente independente eleito na lista de Rui Moreira, não podia ser melhor. Em 2015, foram adicionadas à freguesia duas novas zonas de requalificação urbana e, na área destinada à vizinha Campanhã, há ainda uma parte significativa incluída no território do Bonfim, freguesia criada por um decreto de Costa Cabral a 11 de Dezembro de 1841. “Estar nessa zona de requalificação traz vantagens, nomeadamente no IVA, que numa reparação normal é de 23 por cento e nestas áreas é de 6 por cento”, realça.
A junta tem desde 2014 um outro projecto de apoio à reabilitação, “Casa Reparada, vida Melhorada”, através do qual foram já intervencionadas uma dezena de casas e há “mais duas ou três em curso”. A equação, diz Aitor Varea Oro, é simples e só traz ganhos: “Se há duas mil casas vagas significa que há muitas oportunidades económicas perdidas para os proprietários, para inquilinos que procuram habitação a preço justo e não encontram, e para os próprios trabalhadores da área da construção.” Para o espanhol, haver tantos arquitectos portugueses a emigrar numa cidade com quatro escolas de arquitectura e tanta necessidade de reabilitação é um completo contra-senso. “É um problema enorme e muito abrangente, tem a ver com economia local e uma cidade mais livre.”
Na rua de São Víctor está já em vista um segundo espaço a ser intervencionado pelo Habitar — agora em “stand-by”, à espera de ver resolvido um conflito entre vizinhos. Convencer a proprietária foi, neste caso, “um trabalho quase psicológico”, conta Aitor: “Foi dizer-lhe: ‘não se preocupe porque tem uma oportunidade, não um problema.” A ideia para esta casa é fazer uma reabilitação através do Reabilitar para Arrendar, do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), um programa de arrendamento em regime de renda condicionada. Com a ajuda do Habitar, a proprietária pode apresentar um orçamento para a recuperação e, com ele, ficar a saber quanto tem de pagar mensalmente pelo empréstimo, até um máximo de 15 anos. Se a prestação for superior àquilo que o proprietário cobrar por renda o empréstimo não é concedido, se for inferior é. “Isto significa que desde o primeiro dia, o senhorio tem alguém a habitar a casa e a pagar o empréstimo e o inquilino tem uma habitação a preço justo”, conta.
É apenas neste cenário que a arquitectura faz sentido para Aitor, vista não apenas como uma definição física do espaço, mas sobretudo um “serviço básico, como a educação e a saúde”. Por isso, gosta de imaginar um futuro onde haja uma espécie de “arquitecto de família” para as populações. Porque o direito à habitação, diz, “não é um problema das pessoas com poucos recursos”. “Diz respeito a todos nós e tem um impacto muito grande no funcionamento das cidades.”
Aitor já não tem dúvidas sobre o papel de um arquitecto na sociedade. E acredita que a arquitectura “está a evoluir” — como comprova o prémio Pritzker deste ano, o chileno Alejandro Aravena, conhecido pelos seus revolucionários projectos de habitação social. No processo SAAL, Aitor descobriu dois arquitectos que ganharam graças de “heróis” na lista dele. “O Nuno Teotónio Pereira e o Nuno Portas propunham uma coisa: organizar a procura em vez da oferta. Organizar as populações”, diz. É isso que o Habitar sonha fazer — agora no Bonfim, no futuro noutras freguesias da cidade. “Temos ferramentas para que isso aconteça agora, não precisamos de outro 25 de Abril.”
29.3.16
Há mais pessoas a pedir ajuda por sofrerem agressões dos filhos
Andreia Sanches, in Público on-line
Relatório de 2015 da APAV é divulgado nesta terça-feira. Mostra que, por dia, quase três pessoas com 65 ou mais anos, três crianças e jovens e 14 mulheres são vítimas de crime ou de outra forma de violência.
Não é um fenómeno novo, mas no ano passado a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) lidou com mais casos de pessoas que tinham sido — ou eram ainda — alvo de alguma forma de agressão por parte dos filhos: 819, ou seja, mais de duas vítimas por dia.
Aliás, se tivermos em conta todas as relações de consanguinidade (avós, filhos, netos, pais/mães, irmãs/irmãos e outros familiares próximos), contabilizam-se perto de 2300 casos. É qualquer coisa como um quarto de todos os acompanhados pela associação, lê-se no relatório anual da APAV, referente a 2015, que será divulgado nesta terça-feira.
A face mais visível do trabalho da APAV é a violência conjugal — e percebe-se porquê: a violência nas chamadas “relações de intimidade” (envolvendo companheiros, maridos e mulheres, ex-maridos e ex-mulheres, namorados, actuais e antigos) representou 58,4% das situações com as quais a associação lidou. Mas também há cada vez mais relatos em que os filhos são apontados como agressores: 687 em 2013; 706 em 2014 e, como já se viu, 819 em 2015. Aliás, as situações em que os pais são agressores (1104) baixaram ligeiramente (7%), enquanto o número de agressores filhos subiu (16%).
João Lázaro, da direcção da APAV, admite que o grande factor que explica isto é a crescente sensibilização das pessoas — as campanhas a alertar para a violência contra os mais velhos, nomeadamente por parte de filhos e outros parentes próximos, estarão a surtir algum efeito e há mais gente a procurar apoio.
Bullying sobe 45%
Todos os anos, a APAV — uma instituição particular de solidariedade social, sem fins lucrativos — faz um relatório com o balanço da sua actividade, que se centra muito, mas não só, no apoio directo a quem é vítima de qualquer tipo de crime. Os números globais de 2015 são estes: foram apoiadas 9612 vítimas directas e contabilizados um total de 23.326 crimes (uma vítima pode ser ou ter sido alvo de vários crimes) ou outras formas de violência (o bullying, por exemplo, não está tipificado enquanto crime, mas é uma forma de violência).
Algumas médias calculadas no relatório: por dia, quase três pessoas com 65 ou mais anos, três crianças e jovens e mais de 14 mulheres, entre os 18 e os 64 anos, são vítimas de crime ou outra forma de violência. Isto tendo em conta apenas o número das que procuraram apoio na associação. Homens, são uma média de 2,1 por dia.
“De 2013 para 2015, registou-se um aumento superior a 8% no número de processos, crimes e outras formas de violência e vítimas”, prossegue o documento.
Alguns tipos de violência ganharam terreno: a chamada violência doméstica, de longe a mais frequente, subiu 10,6%, num ano. São quase 19 mil os crimes contabilizados. Os casos de stalking (445) subiram 30,5% — as vítimas de "assédio persistente", o termo português mais comum para stalking, são em geral mulheres, têm à volta dos 40 anos e um diploma superior. E os relatos de bullying (134) cresceram ainda mais: 46%. O perfil da vítima de bullying desenhado pela APAV é este: uma idade média de 18 anos, com predomínio das raparigas (52% dos casos), que apontam um colega de escola (em 60% dos casos) como autor das agressões.
Já os crimes de violação baixaram 38% (de 139 para 86) e os de abuso sexual de crianças sofreram pouca oscilação (de 106 para 102).
Relações gay
O relatório de 2015 contém algumas novidades. Uma delas é traçar, pela primeira vez, o perfil das vítimas de violência doméstica em casais de pessoas do mesmo sexo. A APAV atendeu 131 casos deste tipo — 57 vítimas-homens e 74 vítimas-mulheres.
O perfil dos homens que foram vítimas numa relação gay e que recorreram à associação é este: tem, em média, 46 anos (é um pouco mais jovem do que os 388 homens-vítimas em relações heterossexuais); em 36% dos casos tem o ensino superior; em 41% dos casos é casado ou vive em união de facto e uma minoria (38%) está inserido numa família nuclear com filhos (o que não se passa nas relações heterossexuais, onde a maioria relata viver em agregados com filhos).
Quanto à mulher que é vítima numa relação gay tem, em média, 44 anos (um pouco mais velha do que a média das mulheres-vítimas em relações heterossexuais), em 52% dos casos é casada, seis em cada dez estão inseridas num agregado com filhos, 42% têm o ensino superior.
“A violência assume formas muito diversas e tem actores muito diversos”, explica João Lázaro. Os perfis das vítimas mostram isso mesmo. Atente-se, ainda, a mais dois tipos de vítimas muito distintos: as crianças acompanhadas são em geral do sexo feminino (54,6%) e têm uma idade média de 9,9 anos; os idosos são também, na sua maioria (80,5%), mulheres, têm em média 75,4 anos e quase sempre (mais de 90%) estão reformados.
Muitas vítimas contactam a APAV apenas uma vez, para pedir informações. O telefone é escolhido em 60% dos casos (a linha de apoio 116 006 funciona gratuitamente das 9h da manhã às sete da tarde). Mas muitas são acompanhadas ao longo do tempo (ver texto "O caso mais antigo que Maria acompanha é de um miúdo com 13 anos"), nomeadamente para receber o apoio de um psicólogo habilitado. A associação fez um total de 34.372 atendimentos em 2015.
De resto, na maior parte das vezes o que as pessoas têm para relatar são casos de violência continuada (75%). E, no entanto, apenas 39% das vítimas declararam ter apresentado queixa às autoridades — uma percentagem que se mantém baixa, tal como no ano passado.
Relatório de 2015 da APAV é divulgado nesta terça-feira. Mostra que, por dia, quase três pessoas com 65 ou mais anos, três crianças e jovens e 14 mulheres são vítimas de crime ou de outra forma de violência.
Não é um fenómeno novo, mas no ano passado a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) lidou com mais casos de pessoas que tinham sido — ou eram ainda — alvo de alguma forma de agressão por parte dos filhos: 819, ou seja, mais de duas vítimas por dia.
Aliás, se tivermos em conta todas as relações de consanguinidade (avós, filhos, netos, pais/mães, irmãs/irmãos e outros familiares próximos), contabilizam-se perto de 2300 casos. É qualquer coisa como um quarto de todos os acompanhados pela associação, lê-se no relatório anual da APAV, referente a 2015, que será divulgado nesta terça-feira.
A face mais visível do trabalho da APAV é a violência conjugal — e percebe-se porquê: a violência nas chamadas “relações de intimidade” (envolvendo companheiros, maridos e mulheres, ex-maridos e ex-mulheres, namorados, actuais e antigos) representou 58,4% das situações com as quais a associação lidou. Mas também há cada vez mais relatos em que os filhos são apontados como agressores: 687 em 2013; 706 em 2014 e, como já se viu, 819 em 2015. Aliás, as situações em que os pais são agressores (1104) baixaram ligeiramente (7%), enquanto o número de agressores filhos subiu (16%).
João Lázaro, da direcção da APAV, admite que o grande factor que explica isto é a crescente sensibilização das pessoas — as campanhas a alertar para a violência contra os mais velhos, nomeadamente por parte de filhos e outros parentes próximos, estarão a surtir algum efeito e há mais gente a procurar apoio.
Bullying sobe 45%
Todos os anos, a APAV — uma instituição particular de solidariedade social, sem fins lucrativos — faz um relatório com o balanço da sua actividade, que se centra muito, mas não só, no apoio directo a quem é vítima de qualquer tipo de crime. Os números globais de 2015 são estes: foram apoiadas 9612 vítimas directas e contabilizados um total de 23.326 crimes (uma vítima pode ser ou ter sido alvo de vários crimes) ou outras formas de violência (o bullying, por exemplo, não está tipificado enquanto crime, mas é uma forma de violência).
Algumas médias calculadas no relatório: por dia, quase três pessoas com 65 ou mais anos, três crianças e jovens e mais de 14 mulheres, entre os 18 e os 64 anos, são vítimas de crime ou outra forma de violência. Isto tendo em conta apenas o número das que procuraram apoio na associação. Homens, são uma média de 2,1 por dia.
“De 2013 para 2015, registou-se um aumento superior a 8% no número de processos, crimes e outras formas de violência e vítimas”, prossegue o documento.
Alguns tipos de violência ganharam terreno: a chamada violência doméstica, de longe a mais frequente, subiu 10,6%, num ano. São quase 19 mil os crimes contabilizados. Os casos de stalking (445) subiram 30,5% — as vítimas de "assédio persistente", o termo português mais comum para stalking, são em geral mulheres, têm à volta dos 40 anos e um diploma superior. E os relatos de bullying (134) cresceram ainda mais: 46%. O perfil da vítima de bullying desenhado pela APAV é este: uma idade média de 18 anos, com predomínio das raparigas (52% dos casos), que apontam um colega de escola (em 60% dos casos) como autor das agressões.
Já os crimes de violação baixaram 38% (de 139 para 86) e os de abuso sexual de crianças sofreram pouca oscilação (de 106 para 102).
Relações gay
O relatório de 2015 contém algumas novidades. Uma delas é traçar, pela primeira vez, o perfil das vítimas de violência doméstica em casais de pessoas do mesmo sexo. A APAV atendeu 131 casos deste tipo — 57 vítimas-homens e 74 vítimas-mulheres.
O perfil dos homens que foram vítimas numa relação gay e que recorreram à associação é este: tem, em média, 46 anos (é um pouco mais jovem do que os 388 homens-vítimas em relações heterossexuais); em 36% dos casos tem o ensino superior; em 41% dos casos é casado ou vive em união de facto e uma minoria (38%) está inserido numa família nuclear com filhos (o que não se passa nas relações heterossexuais, onde a maioria relata viver em agregados com filhos).
Quanto à mulher que é vítima numa relação gay tem, em média, 44 anos (um pouco mais velha do que a média das mulheres-vítimas em relações heterossexuais), em 52% dos casos é casada, seis em cada dez estão inseridas num agregado com filhos, 42% têm o ensino superior.
“A violência assume formas muito diversas e tem actores muito diversos”, explica João Lázaro. Os perfis das vítimas mostram isso mesmo. Atente-se, ainda, a mais dois tipos de vítimas muito distintos: as crianças acompanhadas são em geral do sexo feminino (54,6%) e têm uma idade média de 9,9 anos; os idosos são também, na sua maioria (80,5%), mulheres, têm em média 75,4 anos e quase sempre (mais de 90%) estão reformados.
Muitas vítimas contactam a APAV apenas uma vez, para pedir informações. O telefone é escolhido em 60% dos casos (a linha de apoio 116 006 funciona gratuitamente das 9h da manhã às sete da tarde). Mas muitas são acompanhadas ao longo do tempo (ver texto "O caso mais antigo que Maria acompanha é de um miúdo com 13 anos"), nomeadamente para receber o apoio de um psicólogo habilitado. A associação fez um total de 34.372 atendimentos em 2015.
De resto, na maior parte das vezes o que as pessoas têm para relatar são casos de violência continuada (75%). E, no entanto, apenas 39% das vítimas declararam ter apresentado queixa às autoridades — uma percentagem que se mantém baixa, tal como no ano passado.
24.3.16
Carrinha móvel vai prestar apoio médico a prostitutas e sem-abrigo em Viseu
Sandra Rodrigues, in "Público"
A organização não-governamental (ONG) Saúde em Português vai avançar, em Viseu, com consultas médicas na rua para pessoas sem abrigo e prostitutas. O projecto “Saúde na Esquina” pretende chegar a uma população vulnerável que vive à margem do Sistema Nacional de Saúde. Uma unidade móvel de saúde começa a percorrer as estradas do concelho a partir de Agosto.
“Além das consultas, vamos dar conselhos de promoção de saúde e apoio social”, explica Inês Figueiredo, delegada em Viseu da ONG que foi criada em ? nais do ano passado (2015).
A equipa responsável pela iniciativa já identi? cou os locais por onde a carrinha médica vai passar. “Esta população terá, simultaneamente, acesso a apoio psicossocial tanto em ambiente de consulta como em ambiente informal de rua”, nomeadamente com a realização de testes rápidos no local, como, por exemplo, os do VIH/Sida.
Segunda a porta-voz da ONG, este é “um projecto inovador” e que pode ser replicado em qualquer zona do país onde exista “população marginalizada”. “Está também prevista a realização de um trabalho de investigação nesta temática, com a construção de uma base de dados, identi? cação dos principais Carrinha móvel vai prestar apoio médico a prostitutas e sem-abrigo em Viseu factores de risco, avaliação das mudanças de comportamento de risco e aferição do impacto do projecto na população-alvo. No ? nal, será feita a apresentação dos resultados, nomeadamente o número de pessoas alcançadas”, a? rma Inês Figueiredo.
Além do “Saúde na Esquina”, a organização não-governamental conta avançar com a iniciativa “Saúde na Prisão”, à semelhança do projecto que foi desenvolvido pela organização “mãe” com a comunidade prisional em Coimbra.
“Estes são projectos que vão arrancar brevemente, mas para este ano a Saúde em Português quer ainda colocar no terreno a “Saúde Rural” que tem como missão levar médicos de família a freguesias com carências”, salienta a porta-voz.
Criada em 12 de Dezembro do ano passado, a delegação para a Região Centro da Saúde em Português decidiu colocar em Viseu a sua sede, com o objectivo de promover o desenvolvimento regional e estimular melhores condições sociais. A organização existe há 22 anos e está sediada em Coimbra. Trabalha com bolsas de exclusão e tem sido reconhecida pelo seu trabalho voluntário nas comunidades dos países de língua portuguesa e em territórios de con? ito, guerra e catástrofes.
“Apesar de o nosso trabalho ser mais reconhecido a nível internacional, continuamos a desenvolver a nossa missão na promoção da igualdade de oportunidades”, sublinha Hernâni Caniço, presidente da ONG.
A inovação do “Saúde na Esquina” foi um dos projectos distinguidos pelo Movimento Mais para Todos, lançado pela SIC Esperança e pela cadeia de distribuição alimentar Lidl.
Saúde Sandra Rodrigues Projecto “Saúde na Esquina” quer abranger população que vive à margem do Sistema Nacional de Saúde ADRIANO MIRANDA Serão feitos testes rápidos no local, como, por exemplo, os do VIH
A organização não-governamental (ONG) Saúde em Português vai avançar, em Viseu, com consultas médicas na rua para pessoas sem abrigo e prostitutas. O projecto “Saúde na Esquina” pretende chegar a uma população vulnerável que vive à margem do Sistema Nacional de Saúde. Uma unidade móvel de saúde começa a percorrer as estradas do concelho a partir de Agosto.
“Além das consultas, vamos dar conselhos de promoção de saúde e apoio social”, explica Inês Figueiredo, delegada em Viseu da ONG que foi criada em ? nais do ano passado (2015).
A equipa responsável pela iniciativa já identi? cou os locais por onde a carrinha médica vai passar. “Esta população terá, simultaneamente, acesso a apoio psicossocial tanto em ambiente de consulta como em ambiente informal de rua”, nomeadamente com a realização de testes rápidos no local, como, por exemplo, os do VIH/Sida.
Segunda a porta-voz da ONG, este é “um projecto inovador” e que pode ser replicado em qualquer zona do país onde exista “população marginalizada”. “Está também prevista a realização de um trabalho de investigação nesta temática, com a construção de uma base de dados, identi? cação dos principais Carrinha móvel vai prestar apoio médico a prostitutas e sem-abrigo em Viseu factores de risco, avaliação das mudanças de comportamento de risco e aferição do impacto do projecto na população-alvo. No ? nal, será feita a apresentação dos resultados, nomeadamente o número de pessoas alcançadas”, a? rma Inês Figueiredo.
Além do “Saúde na Esquina”, a organização não-governamental conta avançar com a iniciativa “Saúde na Prisão”, à semelhança do projecto que foi desenvolvido pela organização “mãe” com a comunidade prisional em Coimbra.
“Estes são projectos que vão arrancar brevemente, mas para este ano a Saúde em Português quer ainda colocar no terreno a “Saúde Rural” que tem como missão levar médicos de família a freguesias com carências”, salienta a porta-voz.
Criada em 12 de Dezembro do ano passado, a delegação para a Região Centro da Saúde em Português decidiu colocar em Viseu a sua sede, com o objectivo de promover o desenvolvimento regional e estimular melhores condições sociais. A organização existe há 22 anos e está sediada em Coimbra. Trabalha com bolsas de exclusão e tem sido reconhecida pelo seu trabalho voluntário nas comunidades dos países de língua portuguesa e em territórios de con? ito, guerra e catástrofes.
“Apesar de o nosso trabalho ser mais reconhecido a nível internacional, continuamos a desenvolver a nossa missão na promoção da igualdade de oportunidades”, sublinha Hernâni Caniço, presidente da ONG.
A inovação do “Saúde na Esquina” foi um dos projectos distinguidos pelo Movimento Mais para Todos, lançado pela SIC Esperança e pela cadeia de distribuição alimentar Lidl.
Saúde Sandra Rodrigues Projecto “Saúde na Esquina” quer abranger população que vive à margem do Sistema Nacional de Saúde ADRIANO MIRANDA Serão feitos testes rápidos no local, como, por exemplo, os do VIH
23.3.16
"Quando se é refugiado significa que já não se aguenta mais”
Raquel Abecasis, In "Renascença"
Em entrevista à Renascença, a irmã Irene Guia não tem dúvidas de que, por mais que a Europa faça, não vai conseguir travar o caminho a estas pessoas. "Quem é refugiado é como a água, quando há um furo num cano a água encontra maneira de chegar onde quer", diz a missionária portuguesa.
Quando se é refugiado significa que já não se aguenta mais”. O testemunho é da irmã Irene Guia, missionária da Congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus, em entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença.
A missionária portuguesa tem uma longa obra junto de refugiados nas mais diversas latitudes. Faz parte da direcção da plataforma de apoio aos refugiados e esteve recentemente na Grécia, no campo de Idomeni.
A irmã Irene diz que o acolhimento aos milhares de refugiados que procuram um lugar na Europa é a primeira obrigação para os que querem seguir o apelo do Papa Francisco de viver o Ano Santo da Misericórdia.
“Depois deste acordo entre a União Europeia e a Turquia, de repente, durante a noite de ontem [segunda-feira], o campo de Moria que tinha 10 mil pessoas, desapareceram todas. Foram levadas e evacuadas para outro sítio. Tudo isto, para mim, revela que estamos a necessitar mais do que nunca de falar da misericórdia e sobre o que é que significa misericórdia”, afirma.
Aos que têm dúvidas sobre a motivação destas pessoas, a Irmã Irene explica: "Quando se é refugiado significa que já não se aguenta mais, porque senão eu não me vinha embora. Por isso, faz-me um bocado de complicação quando se fala de migrantes e a União Europeia continua a insistir em falar de migrantes. Qual é a diferença? A diferença é que a maior parte dos refugiados não seriam migrantes, esta é a diferença. Foram obrigados, são obrigados para salvar a vida.”
A missionária portuguesa defende que “quem foge não tem liberdade de escolha”. “É instintivo, eu não fico à espera que me matem. Quando fujo é porque não tenho mesmo alternativa, já vi demais e não me organizo, são aquelas pessoas que não se organizam”, sublinha.
Um refugiado é como a água, encontra sempre caminho
Numa entrevista em que testemunhou a sua experiência de vida em campos de refugiados em Timor-Leste, Ruanda e Congo, esta religiosa diz não ter dúvidas de que, por mais que a Europa faça, não vai conseguir travar o caminho a estas pessoas.
"Quem é refugiado é como a água, quando há um furo num cano a água encontra maneira de chegar onde quer, não é por pormos aqui um tampão que aquilo vai resultar, não vai. Pela parede vai encontrar outra brecha, a água encontra sempre um caminho por onde passar quando não tem canal adequado. Com a Europa vai acontecer o mesmo, enquanto não houver um canal adequado este fecha-se e eles vão encontrar outro. Agora estão a tentar atravessar um rio que tem uma corrente incrível e já nos podemos vangloriar que já morreram pessoas nessa travessia.”
A irmã Irene Guia alerta para os riscos de impedir a reunificação familiar e explica que “a palavra foi: Venham depressa porque isto está a ficar cada vez mais complicado”. Esta é a razão, adianta, porque agora são principalmente mulheres e crianças que estão a chegar à Grécia.
Num alerta final esta missionária recorda o aviso feito pelas mulheres prémio Nobel da Paz. “Isto vai fazer com que as mulheres vão salvar os filhos mas, para isso, vão por-se nas redes de prostituição. Se tiverem que vender o corpo, vão vender o corpo. Se tiverem que alimentar os filhos, vão alimentá-los. A mulher faz isto", conclui a irmã Irene Guia.
Em entrevista à Renascença, a irmã Irene Guia não tem dúvidas de que, por mais que a Europa faça, não vai conseguir travar o caminho a estas pessoas. "Quem é refugiado é como a água, quando há um furo num cano a água encontra maneira de chegar onde quer", diz a missionária portuguesa.
Quando se é refugiado significa que já não se aguenta mais”. O testemunho é da irmã Irene Guia, missionária da Congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus, em entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença.
A missionária portuguesa tem uma longa obra junto de refugiados nas mais diversas latitudes. Faz parte da direcção da plataforma de apoio aos refugiados e esteve recentemente na Grécia, no campo de Idomeni.
A irmã Irene diz que o acolhimento aos milhares de refugiados que procuram um lugar na Europa é a primeira obrigação para os que querem seguir o apelo do Papa Francisco de viver o Ano Santo da Misericórdia.
“Depois deste acordo entre a União Europeia e a Turquia, de repente, durante a noite de ontem [segunda-feira], o campo de Moria que tinha 10 mil pessoas, desapareceram todas. Foram levadas e evacuadas para outro sítio. Tudo isto, para mim, revela que estamos a necessitar mais do que nunca de falar da misericórdia e sobre o que é que significa misericórdia”, afirma.
Aos que têm dúvidas sobre a motivação destas pessoas, a Irmã Irene explica: "Quando se é refugiado significa que já não se aguenta mais, porque senão eu não me vinha embora. Por isso, faz-me um bocado de complicação quando se fala de migrantes e a União Europeia continua a insistir em falar de migrantes. Qual é a diferença? A diferença é que a maior parte dos refugiados não seriam migrantes, esta é a diferença. Foram obrigados, são obrigados para salvar a vida.”
A missionária portuguesa defende que “quem foge não tem liberdade de escolha”. “É instintivo, eu não fico à espera que me matem. Quando fujo é porque não tenho mesmo alternativa, já vi demais e não me organizo, são aquelas pessoas que não se organizam”, sublinha.
Um refugiado é como a água, encontra sempre caminho
Numa entrevista em que testemunhou a sua experiência de vida em campos de refugiados em Timor-Leste, Ruanda e Congo, esta religiosa diz não ter dúvidas de que, por mais que a Europa faça, não vai conseguir travar o caminho a estas pessoas.
"Quem é refugiado é como a água, quando há um furo num cano a água encontra maneira de chegar onde quer, não é por pormos aqui um tampão que aquilo vai resultar, não vai. Pela parede vai encontrar outra brecha, a água encontra sempre um caminho por onde passar quando não tem canal adequado. Com a Europa vai acontecer o mesmo, enquanto não houver um canal adequado este fecha-se e eles vão encontrar outro. Agora estão a tentar atravessar um rio que tem uma corrente incrível e já nos podemos vangloriar que já morreram pessoas nessa travessia.”
A irmã Irene Guia alerta para os riscos de impedir a reunificação familiar e explica que “a palavra foi: Venham depressa porque isto está a ficar cada vez mais complicado”. Esta é a razão, adianta, porque agora são principalmente mulheres e crianças que estão a chegar à Grécia.
Num alerta final esta missionária recorda o aviso feito pelas mulheres prémio Nobel da Paz. “Isto vai fazer com que as mulheres vão salvar os filhos mas, para isso, vão por-se nas redes de prostituição. Se tiverem que vender o corpo, vão vender o corpo. Se tiverem que alimentar os filhos, vão alimentá-los. A mulher faz isto", conclui a irmã Irene Guia.
Crise dos refugiados e economia social em destaque nas jornadas da Misericórdia
Fátima Ferreira, in "Gazela das Causas"
O papel das organizações na crise dos refugiados e a economia social foram temas debatidos nas Jornadas Técnicas da Santa Casa da Misericórdia das Caldas da Rainha, que se realizaram entre os dias 2 e 4 de Março no Inatel da Foz do Arelho.
Com uma participação de 214 pessoas, esta sexta edição deu também destaque às questões da infância e juventude e envelhecimento, com as quais a instituição trabalha directamente.
As instituições portuguesas estão prontas para os acolher, mas os refugiados tardam em chegar. Mónica Frechaut, do Conselho Português para os Refugiados, reconhece que o processo de recolocação demorou muito tempo, mas considera que este está a “ficar mais oleado” e que no futuro será mais rápido e que as organizações sociais vão ser chamadas a trabalhar com mais frequência.
Já na passada segunda-feira chegaram a Lisboa mais 64 refugiados, maioritariamente oriundos da Síria e do Iraque. Mónica Frechaut acredita que a população irá voltar a mobilizar-se para dar o apoio a esta população tão vulnerável.
Destaca que está prevista a vinda de mais de 5000 pessoas para o nosso país e que quase “todas as regiões serão de acolhimento de refugiados”.
A responsável realça a boa integração dos perto de 70 cidadãos que já cá estão, dando o exemplo de um profissional de uma arte marcial que já está a treinar num clube. “Rapidamente se encontram voluntários que ensinam português e organizações que estão dispostas a acolher os refugiados, desde as escolas, os ATL e outras instituições sociais e empresas”, disse.
Mónica Frechaut lembrou que foi o enorme naufrágio, de cerca de 800 pessoas ocorrido em Lampedusa (Itália), em Abril do ano passado, que veio alertar a sociedade e governantes europeus para a crise que se estava a passar no Mediterrâneo. Esta já vinha detrás pois desde 2013 que as organizações que trabalham na área estavam a “adivinhar” que isto iria acontecer porque os conflitos no Médio Oriente que forçavam os movimentos migratórios não cessavam.
No início o que acontecia era que as pessoas concentravam-se nas proximidades dos países de origem, (Síria e Iraque) permanecendo no Líbano, Jordânia e Turquia, mas o “corte brutal” no programa alimentar mundial em 2014 e 2015 criou grandes dificuldades nos campos de refugiados e as pessoas começaram a dirigir-se para a Europa. Também o facto de não haver canais legais de migração que permitissem a viagem directa para um território seguro fez com que as pessoas tivessem que atravessar o Mediterrâneo.
Nas Caldas as instituições também estão envolvidas num processo coordenado pela autarquia.
Margarida Lalanda Ribeiro, directora técnica do gabinete de recursos e inovação social da Santa Casa da Misericórdia caldense, explica que esta instituição, com a sua horta, cantina e loja sociais, tem várias soluções que podem facilitar este acolhimento dos refugiados.
Também a economia social e a necessidade de encontrar formas para resolver os problemas da sociedade foram abordados nestas jornadas. Margarida Lalanda Ribeiro destaca que os problemas financeiros são um lugar comum nestas instituições, dependentes dos acordos de cooperação com o Estado, e que o grande desafio que se lhes coloca é conseguirem ser autónomas.
De acordo com a responsável, a Misericórdia caldense, que actualmente presta apoio directo e indirecto a cerca de 3000 pessoas, “precisa de consolidar o trabalho feito, ao nível da gestão de recursos, sustentabilidade financeira e interacção social e, no futuro, crescer”.
As jornadas técnicas terão continuidade, com a organização a ter já temas para trabalhar em 2017, como o facto das instituições presentes trazerem dados sobre elas próprias para depois serem trabalhados em conjunto pelos participantes no encontro, e assim partilharem experiências.
As jornadas técnicas contempla uma parte teórica, com a presença de especialistas em várias áreas sociais “Envelhecimento Ativo: Um Baile de Diferentes Papéis”, intitulou uma das oficinas
O papel das organizações na crise dos refugiados e a economia social foram temas debatidos nas Jornadas Técnicas da Santa Casa da Misericórdia das Caldas da Rainha, que se realizaram entre os dias 2 e 4 de Março no Inatel da Foz do Arelho.
Com uma participação de 214 pessoas, esta sexta edição deu também destaque às questões da infância e juventude e envelhecimento, com as quais a instituição trabalha directamente.
As instituições portuguesas estão prontas para os acolher, mas os refugiados tardam em chegar. Mónica Frechaut, do Conselho Português para os Refugiados, reconhece que o processo de recolocação demorou muito tempo, mas considera que este está a “ficar mais oleado” e que no futuro será mais rápido e que as organizações sociais vão ser chamadas a trabalhar com mais frequência.
Já na passada segunda-feira chegaram a Lisboa mais 64 refugiados, maioritariamente oriundos da Síria e do Iraque. Mónica Frechaut acredita que a população irá voltar a mobilizar-se para dar o apoio a esta população tão vulnerável.
Destaca que está prevista a vinda de mais de 5000 pessoas para o nosso país e que quase “todas as regiões serão de acolhimento de refugiados”.
A responsável realça a boa integração dos perto de 70 cidadãos que já cá estão, dando o exemplo de um profissional de uma arte marcial que já está a treinar num clube. “Rapidamente se encontram voluntários que ensinam português e organizações que estão dispostas a acolher os refugiados, desde as escolas, os ATL e outras instituições sociais e empresas”, disse.
Mónica Frechaut lembrou que foi o enorme naufrágio, de cerca de 800 pessoas ocorrido em Lampedusa (Itália), em Abril do ano passado, que veio alertar a sociedade e governantes europeus para a crise que se estava a passar no Mediterrâneo. Esta já vinha detrás pois desde 2013 que as organizações que trabalham na área estavam a “adivinhar” que isto iria acontecer porque os conflitos no Médio Oriente que forçavam os movimentos migratórios não cessavam.
No início o que acontecia era que as pessoas concentravam-se nas proximidades dos países de origem, (Síria e Iraque) permanecendo no Líbano, Jordânia e Turquia, mas o “corte brutal” no programa alimentar mundial em 2014 e 2015 criou grandes dificuldades nos campos de refugiados e as pessoas começaram a dirigir-se para a Europa. Também o facto de não haver canais legais de migração que permitissem a viagem directa para um território seguro fez com que as pessoas tivessem que atravessar o Mediterrâneo.
Nas Caldas as instituições também estão envolvidas num processo coordenado pela autarquia.
Margarida Lalanda Ribeiro, directora técnica do gabinete de recursos e inovação social da Santa Casa da Misericórdia caldense, explica que esta instituição, com a sua horta, cantina e loja sociais, tem várias soluções que podem facilitar este acolhimento dos refugiados.
Também a economia social e a necessidade de encontrar formas para resolver os problemas da sociedade foram abordados nestas jornadas. Margarida Lalanda Ribeiro destaca que os problemas financeiros são um lugar comum nestas instituições, dependentes dos acordos de cooperação com o Estado, e que o grande desafio que se lhes coloca é conseguirem ser autónomas.
De acordo com a responsável, a Misericórdia caldense, que actualmente presta apoio directo e indirecto a cerca de 3000 pessoas, “precisa de consolidar o trabalho feito, ao nível da gestão de recursos, sustentabilidade financeira e interacção social e, no futuro, crescer”.
As jornadas técnicas terão continuidade, com a organização a ter já temas para trabalhar em 2017, como o facto das instituições presentes trazerem dados sobre elas próprias para depois serem trabalhados em conjunto pelos participantes no encontro, e assim partilharem experiências.
As jornadas técnicas contempla uma parte teórica, com a presença de especialistas em várias áreas sociais “Envelhecimento Ativo: Um Baile de Diferentes Papéis”, intitulou uma das oficinas
«A violência doméstica não se confina aos que são casados»
In "O Almonda"
Na quarta-feira, dia 9, no auditório da Nersant, decorreu uma palestra sobre violência doméstica e maus tratos, dirigida aos alunos da Escola Profissional de Torres Novas, no âmbito do trabalho da Prova de Aptidão Profissional da aluna Daniela Rosário, do 3º ano do curso de Comunicação.
Para a palestra foram convidados representantes da APAV, Associação de Apoio à Vítima, da GNR de Santarém, através do núcleo especializado de apoio à vítima, e do Instituto Nacional de Medicina Legal.
Depois do representante do Instituto de Medicina Legal falar sobre o papel da instituição na observação da vítima, pormenorizando o trabalho e a sua importância para a recolha de provas, foi a vez da APAV dar a conhecer a forma como se distribui pelo país, com 15 gabinetes, estando na região localizado em Santarém.
«A violência doméstica não se confina aos que são casados», explicou Gustavo Duarte ao jovem auditório. Pode também ocorrer entre namorados ou ex-namorados.
Se nessa situação existir violência, física ou psicológica, configura num crime de violência doméstica, esclareceu. E como se trata de um crime público, «qualquer pessoa pode denunciá-lo». E todos seremos importantes para «mudar mentalidades e salvar pessoas». Também os idosos são um grupo em que, nos últimos anos, têm aumentado os crimes de violência doméstica que são denunciados. Aí, os mais comuns, são os crimes de negligência ou de violência económica.
A Guarda Principal Catarina Maurício, da GNR e investigadora na área há 12 anos, dinamizou a sessão, interpelando os jovens e chamando-os a participar no debate.
Com um estilo interventivo deu exemplos de relações desequilibradas, dando conselhos aos mais novos sobre os abusos que são cometidos e que configuram em crimes de violência doméstica. Contou também que mesmo sendo contra a vontade da vítima, que muitas das vezes se encontra numa situação fragilizada, a investigação pode ocorrer.
Puxou a velha máxima de que “entre marido e mulher ninguém mete a colher”, para a classificar como «Mentira!». Deu exemplos dos trabalhos desenvolvidos em 2015, onde o núcleo com que trabalha fez 5 detenções no distrito, sendo que 4 das situações eram de violência sobre idosos.
Em declarações a “O Almonda” a aluna Daniela Rosário explicou que escolheu o tema por o considerar «importante», pois «assola a sociedade» e espera que a apresentação pública tenha contribuído para ajudar a mudar mentalidades e também comportamentos. Foi um tema a que quis «juntar a voz», disse. A Prova de Aptidão Profissional é uma prova final, onde o aluno tem de demonstrar o conjunto de conhecimentos e competências adquiridos e Daniela com a ajuda da professora orientadora, Célia Maurício, realizou todo o trabalho de organização da conferência.
Na quarta-feira, dia 9, no auditório da Nersant, decorreu uma palestra sobre violência doméstica e maus tratos, dirigida aos alunos da Escola Profissional de Torres Novas, no âmbito do trabalho da Prova de Aptidão Profissional da aluna Daniela Rosário, do 3º ano do curso de Comunicação.
Para a palestra foram convidados representantes da APAV, Associação de Apoio à Vítima, da GNR de Santarém, através do núcleo especializado de apoio à vítima, e do Instituto Nacional de Medicina Legal.
Depois do representante do Instituto de Medicina Legal falar sobre o papel da instituição na observação da vítima, pormenorizando o trabalho e a sua importância para a recolha de provas, foi a vez da APAV dar a conhecer a forma como se distribui pelo país, com 15 gabinetes, estando na região localizado em Santarém.
«A violência doméstica não se confina aos que são casados», explicou Gustavo Duarte ao jovem auditório. Pode também ocorrer entre namorados ou ex-namorados.
Se nessa situação existir violência, física ou psicológica, configura num crime de violência doméstica, esclareceu. E como se trata de um crime público, «qualquer pessoa pode denunciá-lo». E todos seremos importantes para «mudar mentalidades e salvar pessoas». Também os idosos são um grupo em que, nos últimos anos, têm aumentado os crimes de violência doméstica que são denunciados. Aí, os mais comuns, são os crimes de negligência ou de violência económica.
A Guarda Principal Catarina Maurício, da GNR e investigadora na área há 12 anos, dinamizou a sessão, interpelando os jovens e chamando-os a participar no debate.
Com um estilo interventivo deu exemplos de relações desequilibradas, dando conselhos aos mais novos sobre os abusos que são cometidos e que configuram em crimes de violência doméstica. Contou também que mesmo sendo contra a vontade da vítima, que muitas das vezes se encontra numa situação fragilizada, a investigação pode ocorrer.
Puxou a velha máxima de que “entre marido e mulher ninguém mete a colher”, para a classificar como «Mentira!». Deu exemplos dos trabalhos desenvolvidos em 2015, onde o núcleo com que trabalha fez 5 detenções no distrito, sendo que 4 das situações eram de violência sobre idosos.
Em declarações a “O Almonda” a aluna Daniela Rosário explicou que escolheu o tema por o considerar «importante», pois «assola a sociedade» e espera que a apresentação pública tenha contribuído para ajudar a mudar mentalidades e também comportamentos. Foi um tema a que quis «juntar a voz», disse. A Prova de Aptidão Profissional é uma prova final, onde o aluno tem de demonstrar o conjunto de conhecimentos e competências adquiridos e Daniela com a ajuda da professora orientadora, Célia Maurício, realizou todo o trabalho de organização da conferência.
Casa dos Pobres recebe voluntários
In "Diário das Beiras"
Casa dos Pobres recebe a partir de hoje um grupo de jovens voluntários da associação “Rosto Solidário”, de Santa Maria da Feira. O grupo vem acompanhado pelo padre Brino Dinis, dos missionários passionistas, entidade parceira da associação. Com esta passagem pela Casa dos Pobres, alguns voluntários preparam-se para uma missão de voluntariado que irão fazer em Angola.
Casa dos Pobres recebe a partir de hoje um grupo de jovens voluntários da associação “Rosto Solidário”, de Santa Maria da Feira. O grupo vem acompanhado pelo padre Brino Dinis, dos missionários passionistas, entidade parceira da associação. Com esta passagem pela Casa dos Pobres, alguns voluntários preparam-se para uma missão de voluntariado que irão fazer em Angola.
22.3.16
Resposta do país não está pensada para homem-vítima e mulher-agressora
Ana Cristina Pereira, in Público on-line
Casas-abrigo são só para mulheres e crianças vítimas de violência doméstica e programa público de tratamento de agressores é só para homens. Mulheres ainda protagonizam 80% das denúncias.
O sistema nacional de combate à violência doméstica tem por base o pressuposto de que a vítima é sempre mulher e o agressor é sempre homem. E se um homem tem de fugir? E se uma mulher precisa de tratamento para agressores de violência doméstica? E se as vítimas são idosas?
“Continuamos a ter muito mais mulheres vítimas, mas começam a aparecer mais denúncias apresentadas por homens”, diz, para início de conversa, Teresa Morais, do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) do Porto. “Se as mulheres têm vergonha, os homens muito mais. É muito mais complicado.”
Não é só a tristeza, a vergonha ou o medo. É também a ideia do que é uma mulher e do que é um homem. “Os homens, às vezes, são vítimas de violência psicológica e nem têm ideia”, refere Vieira Pinto, chefe do Núcleo de Investigação e de Apoio a Vítimas Específicas da GNR no Porto. Têm dificuldade em ver-se no papel de vítimas.
A estatística dos últimos anos vai mostrando a subida, ainda que tímida, de denúncias. No Relatório Anual de Segurança Interna vê-se 18,1% de vítimas do sexo masculino em 2012; 18,6% em 2013; 19,2% em 2014 – o referente ao ano passado só deverá ser entregue na Assembleia da República no final deste mês.
“O paradigma está a mudar”, corrobora Teresa Magalhães, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Até porque “alguns começam a usar a denúncia como estratégia. Há uma cena de violência, alguém chama a polícia. ‘Ai é. Então também apresento queixa! Ela também me bateu!’ Isto reduz o grau de culpa. Eles estão a fazer-se espertos, a perceber que podem seguir essa estratégia.”
A investigação internacional, feita com base em inquéritos de vitimação e perpetração, “revela que a maioria da violência entre parceiros, na intimidade, é mútua ou bidireccional”¸ observa Marlene Matos, investigadora da Universidade do Minho. Ainda há pouco, participou num estudo feito a partir de uma amostra de 1556 homens, maiores de 18 anos, envolvidos em relações heterossexuais, e encontrou “uma taxa de prevalência, quer de vitimação quer de perpetração, elevada: superior a 75% ao longo da vida.”
O estudo reforça a ideia de que as agressões praticadas por mulheres nas relações de intimidade são, na maior parte dos casos, moderadas e de natureza psicológica. Um dos seus maiores contributos, porém, “é avançar dados sobre o duplo envolvimento, que tem sido pouco estudado em Portugal”. “O duplo envolvimento foi reportado por 73,7% dos participantes. A violência unidirecional representou menos de 10%”, esclarece. Na sua opinião, isto “evidencia a necessidade de se ultrapassar leituras simplistas e porventura dicotómicas”.
Parâmero da violência de género
“A legislação foi feita de acordo com o parâmetro da violência de género”, comenta Teresa Morais, numa alusão à lei n.º 112/2009, que estabelece o regime jurídico aplicável à prevenção da violência doméstica, à protecção e à assistência das suas vítimas. Os programas para agressores de violência doméstica, aplicados pela Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, destinam-se apenas a homens, com processo em tribunal, exemplifica a procuradora. “As mulheres não podem frequentar. Não está previsto.”
A rede nacional de casas-abrigo destina-se apenas a mulheres e crianças vítimas de violência doméstica. “Quando queremos transpor esta lei para violência contra idosos, que em muitos casos é violência doméstica, temos dificuldade porque a lei não está pensada para idosos”, sublinha Teresa Morais. Não são só os homens vítimas de violência doméstica que não têm resposta específica. As mulheres também podem sentir-se limitadas pela falta de flexibilidade das estruturas existentes. “Basta que tenha um filho que é maior de idade, que é deficiente ou que é estudante universitário e que está dependente dela, já não pode ir para uma casa-abrigo”, exemplifica o 1.º sargento Vieira Pinto.
“Há uma razão bastante clara para que exista uma maior preocupação com as mulheres”, enfatiza a secretária de Estado da Igualdade, Catarina Marcelino. “Como qualquer política pública, esta procura responder ao maior número de situações”, clarifica. E as mulheres ainda protagonizam 80% das denúncias.
Portugal dispõe de 39 casas-abrigo destinadas a mulheres e crianças vítimas de violência doméstica e, sublinha, “estão todas cheias”. “Uma casa-abrigo tem custos elevados. O Estado tem recursos limitados. Os recursos têm de ser alocados ao que é o problema maior e o problema maior é a violência contra as mulheres.”
Para Catarina Marcelino, não se pode dizer que o país não tem uma resposta de alojamento de emergência para homens vítimas de violência doméstica. Em caso de necessidade, podem ser alojados pela emergência social “numa residencial ou pensão ou num centro de acolhimento para sem-abrigo”. Há respostas específicas para menores de idade, no âmbito do sistema de promoção e protecção de crianças e jovens. Falta, reconhece a secretária de Estado da Igualdade, encontrar com o Ministério do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social, uma resposta específica para idosos. “É uma preocupação do Governo.”
A violência doméstica na intimidade não ocorre apenas em famílias heterossexuais. A esse respeito, adianta, está a ser pensada, com a Ilga-Portugal, a criação do primeiro centro de apoio para um núcleo de apoio à violência doméstica em relações homossexuais. “É uma realidade muito escondida.”
Debate extremado
Em encontros temáticos e nas redes socias, o debate por vezes sobe de tom. “O discurso sobre a violência doméstica está inflamado com questões ideológicas extremadas, está polarizado”, entende a psicóloga forense Catarina Ribeiro, professora da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica. “De um lado, a ideia da agressão acontecer sempre do masculino para o feminino. Do outro, a ideia de que a maior parte das mulheres que se queixam dos companheiros estão a inventar para obter benefícios secundários.”
Ninguém nega a existência de falsas queixas – por despeito, para conseguir um bom acordo de divórcio ou de regulação das responsabilidades parentais. “Isso existe e há-de existir em todos os tipos de crime, mas não deve criar ruído, não nos pode desviar a atenção das verdadeiras situações”, achega Teresa Morais.
O preconceito, aponta Catarina Ribeiro, é “um obstáculo à intervenção mais sustentada e mais justa é o preconceito”. “Não conseguimos batalhar contra isto enquanto não percebermos que há mulheres que agridem, homens que são vítimas, casais que se agridem, que não é necessário as pessoas terem dependência económica para se manterem numa relação abusiva.”
“Não se pensa que a vítima de violência doméstica pode ser um homem, uma pessoa formada, com emprego”, enfatiza a psicóloga forense. “Ficar numa relação abusiva muitas vezes não tem nada a ver com questões logísticas, tem a ver com questões afectivas e relacionais, com dependências emocionais que não se explicam só através do dinheiro ou dos filhos, nem do poder físico.”
Casas-abrigo são só para mulheres e crianças vítimas de violência doméstica e programa público de tratamento de agressores é só para homens. Mulheres ainda protagonizam 80% das denúncias.
O sistema nacional de combate à violência doméstica tem por base o pressuposto de que a vítima é sempre mulher e o agressor é sempre homem. E se um homem tem de fugir? E se uma mulher precisa de tratamento para agressores de violência doméstica? E se as vítimas são idosas?
“Continuamos a ter muito mais mulheres vítimas, mas começam a aparecer mais denúncias apresentadas por homens”, diz, para início de conversa, Teresa Morais, do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) do Porto. “Se as mulheres têm vergonha, os homens muito mais. É muito mais complicado.”
Não é só a tristeza, a vergonha ou o medo. É também a ideia do que é uma mulher e do que é um homem. “Os homens, às vezes, são vítimas de violência psicológica e nem têm ideia”, refere Vieira Pinto, chefe do Núcleo de Investigação e de Apoio a Vítimas Específicas da GNR no Porto. Têm dificuldade em ver-se no papel de vítimas.
A estatística dos últimos anos vai mostrando a subida, ainda que tímida, de denúncias. No Relatório Anual de Segurança Interna vê-se 18,1% de vítimas do sexo masculino em 2012; 18,6% em 2013; 19,2% em 2014 – o referente ao ano passado só deverá ser entregue na Assembleia da República no final deste mês.
“O paradigma está a mudar”, corrobora Teresa Magalhães, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Até porque “alguns começam a usar a denúncia como estratégia. Há uma cena de violência, alguém chama a polícia. ‘Ai é. Então também apresento queixa! Ela também me bateu!’ Isto reduz o grau de culpa. Eles estão a fazer-se espertos, a perceber que podem seguir essa estratégia.”
A investigação internacional, feita com base em inquéritos de vitimação e perpetração, “revela que a maioria da violência entre parceiros, na intimidade, é mútua ou bidireccional”¸ observa Marlene Matos, investigadora da Universidade do Minho. Ainda há pouco, participou num estudo feito a partir de uma amostra de 1556 homens, maiores de 18 anos, envolvidos em relações heterossexuais, e encontrou “uma taxa de prevalência, quer de vitimação quer de perpetração, elevada: superior a 75% ao longo da vida.”
O estudo reforça a ideia de que as agressões praticadas por mulheres nas relações de intimidade são, na maior parte dos casos, moderadas e de natureza psicológica. Um dos seus maiores contributos, porém, “é avançar dados sobre o duplo envolvimento, que tem sido pouco estudado em Portugal”. “O duplo envolvimento foi reportado por 73,7% dos participantes. A violência unidirecional representou menos de 10%”, esclarece. Na sua opinião, isto “evidencia a necessidade de se ultrapassar leituras simplistas e porventura dicotómicas”.
Parâmero da violência de género
“A legislação foi feita de acordo com o parâmetro da violência de género”, comenta Teresa Morais, numa alusão à lei n.º 112/2009, que estabelece o regime jurídico aplicável à prevenção da violência doméstica, à protecção e à assistência das suas vítimas. Os programas para agressores de violência doméstica, aplicados pela Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, destinam-se apenas a homens, com processo em tribunal, exemplifica a procuradora. “As mulheres não podem frequentar. Não está previsto.”
A rede nacional de casas-abrigo destina-se apenas a mulheres e crianças vítimas de violência doméstica. “Quando queremos transpor esta lei para violência contra idosos, que em muitos casos é violência doméstica, temos dificuldade porque a lei não está pensada para idosos”, sublinha Teresa Morais. Não são só os homens vítimas de violência doméstica que não têm resposta específica. As mulheres também podem sentir-se limitadas pela falta de flexibilidade das estruturas existentes. “Basta que tenha um filho que é maior de idade, que é deficiente ou que é estudante universitário e que está dependente dela, já não pode ir para uma casa-abrigo”, exemplifica o 1.º sargento Vieira Pinto.
“Há uma razão bastante clara para que exista uma maior preocupação com as mulheres”, enfatiza a secretária de Estado da Igualdade, Catarina Marcelino. “Como qualquer política pública, esta procura responder ao maior número de situações”, clarifica. E as mulheres ainda protagonizam 80% das denúncias.
Portugal dispõe de 39 casas-abrigo destinadas a mulheres e crianças vítimas de violência doméstica e, sublinha, “estão todas cheias”. “Uma casa-abrigo tem custos elevados. O Estado tem recursos limitados. Os recursos têm de ser alocados ao que é o problema maior e o problema maior é a violência contra as mulheres.”
Para Catarina Marcelino, não se pode dizer que o país não tem uma resposta de alojamento de emergência para homens vítimas de violência doméstica. Em caso de necessidade, podem ser alojados pela emergência social “numa residencial ou pensão ou num centro de acolhimento para sem-abrigo”. Há respostas específicas para menores de idade, no âmbito do sistema de promoção e protecção de crianças e jovens. Falta, reconhece a secretária de Estado da Igualdade, encontrar com o Ministério do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social, uma resposta específica para idosos. “É uma preocupação do Governo.”
A violência doméstica na intimidade não ocorre apenas em famílias heterossexuais. A esse respeito, adianta, está a ser pensada, com a Ilga-Portugal, a criação do primeiro centro de apoio para um núcleo de apoio à violência doméstica em relações homossexuais. “É uma realidade muito escondida.”
Debate extremado
Em encontros temáticos e nas redes socias, o debate por vezes sobe de tom. “O discurso sobre a violência doméstica está inflamado com questões ideológicas extremadas, está polarizado”, entende a psicóloga forense Catarina Ribeiro, professora da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica. “De um lado, a ideia da agressão acontecer sempre do masculino para o feminino. Do outro, a ideia de que a maior parte das mulheres que se queixam dos companheiros estão a inventar para obter benefícios secundários.”
Ninguém nega a existência de falsas queixas – por despeito, para conseguir um bom acordo de divórcio ou de regulação das responsabilidades parentais. “Isso existe e há-de existir em todos os tipos de crime, mas não deve criar ruído, não nos pode desviar a atenção das verdadeiras situações”, achega Teresa Morais.
O preconceito, aponta Catarina Ribeiro, é “um obstáculo à intervenção mais sustentada e mais justa é o preconceito”. “Não conseguimos batalhar contra isto enquanto não percebermos que há mulheres que agridem, homens que são vítimas, casais que se agridem, que não é necessário as pessoas terem dependência económica para se manterem numa relação abusiva.”
“Não se pensa que a vítima de violência doméstica pode ser um homem, uma pessoa formada, com emprego”, enfatiza a psicóloga forense. “Ficar numa relação abusiva muitas vezes não tem nada a ver com questões logísticas, tem a ver com questões afectivas e relacionais, com dependências emocionais que não se explicam só através do dinheiro ou dos filhos, nem do poder físico.”
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