8.3.23

Obesidade. A epidemia que poderá afetar metade do mundo até 2035

Joana Raposo Santos, in RTP

Até 2035, mais de metade da população mundial deverá tornar-se obesa ou com excesso de peso. O cenário apenas poderá ser evitado se os governos tomarem mais e melhores ações para travar aquilo que é classificado pela Organização Mundial da Saúde como epidemia. As conclusões são de um relatório da Federação Mundial para a Obesidade divulgado esta quarta-feira, segundo o qual o custo global desta doença pode atingir os 4,32 biliões de dólares em pouco mais de uma década.

Neste momento, 38% da população mundial (o equivalente a 2,6 mil milhões de pessoas) já é obesa ou tem excesso de peso. E, sem mudanças substanciais, o número pode agravar-se para mais de quatro mil milhões de pessoas (51% da população) nos próximos 12 anos.

Segundo o relatório da Federação Mundial para a Obesidade, as práticas a adotar devem passar pela criação de taxas e impostos na publicidade a alimentos pouco saudáveis; restrições ao marketing pensado para alimentos com calorias, sal ou açúcar elevados; rótulos na parte da frente das embalagens ou o fornecimento de comida mais saudável nas escolas.

Se não forem tomadas mais ações deste tipo, o número de pessoas clinicamente diagnosticadas como obesas pode aumentar de uma em cada sete para uma em cada quatro até 2035.

É considerado excesso de peso um Índice de Massa Corporal acima de 25, enquanto a obesidade consiste num índice superior a 30. Vários estudos científicos demonstram que esta doença crónica aumenta o risco de cancro e doenças de coração, entre outras.

A obesidade entre crianças e jovens deverá, de acordo com os dados atuais, aumentar mais rapidamente do que entre os adultos. No mais recente relatório do Atlas Mundial da Obesidade, prevê-se que esta condição no mínimo duplique até 2035 entre os menores, em comparação com os números de 2020.

O grupo mais afetado deverá ser o das raparigas com menos de 18 anos, com um aumento previsto de 125%, significando que 175 milhões destas crianças e jovens poderão ser obesas em 2035. Os rapazes da mesma idade serão percentualmente menos afetados, com um aumento de 100% (totalizando 208 milhões).

A federação alertou ainda que muitos dos países mais pobres são também os que enfrentam maiores aumentos na obesidade, correndo riscos ainda mais graves por não estarem preparados para lidar com a doença.

Nove dos dez países com maiores subidas previstas são de baixo ou médio rendimento, localizados nos continentes africano e asiático. Já as dez nações melhor preparadas para lidar com esta epidemia são europeias e de rendimentos elevados, entre as quais Suíça, Noruega, Islândia, Finlândia ou Suécia.

O impacto económico da obesidade

Louise Baur, presidente da Federação Mundial para a Obesidade, considera as conclusões do relatório “um aviso claro de que, ao falharmos em responder à obesidade hoje, estamos a arriscar sérias repercussões no futuro”.

“É particularmente preocupante ver os níveis de obesidade a aumentarem mais velozmente entre crianças e adolescentes”, referiu, citada pela própria Federação. “Os governos e legisladores por todo o mundo precisam de fazer tudo o que está ao seu alcance para evitarem que os custos de saúde, sociais e económicos passem para a geração mais jovem”.

Segundo o Atlas Mundial da Obesidade deste ano, o impacto económico global do excesso de peso e obesidade pode alcançar os 4,32 biliões de dólares anuais até 2035, caso não sejam tomadas medidas. O custo representará quase 3% do Produto Interno Bruto global, aumento apenas comparável com o do impacto da pandemia de covid-19 no ano 2020.

Evitar este cenário “implica olhar urgentemente para os sistemas e fatores que contribuem para a obesidade e envolver ativamente os jovens nas soluções”, acrescentou Baur. “Se agirmos de forma unida agora, teremos a oportunidade de ajudar milhares de milhões de pessoas no futuro”.

A Federação Mundial para a Obesidade é uma aliança entre entidades das áreas da saúde, ciência e investigação que trabalha com várias agências internacionais, incluindo a OMS. Um dos seus membros é a Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO).