Porque é que elas - na velhice - são mais abandonadas do que eles nos hospitais? Será pela mesma razão que leva muitas mulheres com cancro a serem abandonadas pelos maridos? Será pela mesma razão que leva a maternidade a prejudicar a carreira delas enquanto a paternidade não prejudica a carreira deles? A questão é que os homens continuam a ser uns meninos, continuam a fugir das responsabilidades enquanto cuidadores de crianças e de velhos
Vale a pena voltarmos àquela notícia que nos define, mas que não é tratada, não é destacada pelas narrativas, porque é um excesso de realidade difícil de arrumar: chegamos a ter 1000 velhos abandonados nos hospitais, sobretudo nos períodos de férias; estamos a falar de pessoas que não têm qualquer doença ou que já tiveram alta, mas que não têm para onde ir, a família desapareceu em definitivo ou temporariamente. Este abandono atinge o pico nos períodos de férias, verão e Natal, mas é uma constante ao longo do ano.
Quando começamos a peneirar estes dados, recolhemos mais informação, que, apesar de triste, não é surpreendente: a maioria das pessoas abandonadas são mulheres, e não homens. Porquê? Porque há mais viúvas do que viúvos. Talvez. Mas eu gostava de testar outra hipótese que está relacionada com outros indicadores. Porque é que elas - na velhice - são mais abandonadas do que eles nos hospitais? Será pela mesma razão que leva muitas mulheres com cancro a serem abandonadas pelos maridos? Será pela mesma razão que leva a maternidade a prejudicar a carreira delas enquanto a paternidade não prejudica a carreira deles?
A questão é que os homens continuam a ser uns meninos, continuam a fugir das responsabilidades enquanto cuidadores de crianças e de velhos, neste caso de mulheres idosas. São elas que não fogem desta dificuldade. Elas podem dizer com toda a autoridade que os homens são uns meninos.
Se muitos homens abandonam as mulheres em contexto oncológico (o inverso é raríssimo), então não surpreende vermos que a maioria dos idosos abandonados nos hospitais é do sexo feminino. Porque se é verossímil imaginarmos um homem a abandonar a mulher debaixo do pretexto que "não tem feitio" para cuidar, o inverso é altamente improvável. Para mim, como homem, isto é intolerável; revela que o meu sexo é mais cobarde na hora h. E esta cobardia está a provocar uma grave crise social e demográfica.
No passado, com as mulheres em casa, as coisas resolviam-se. Mas, hoje em dia, as coisas não se resolvem da mesma maneira e, não por acaso, a crise da natalidade e a crise da velhice estão relacionadas com este tema: as mulheres já não conseguem fazer tudo sozinhas, pois também saem de casa para trabalhar. O problema é que os homens não querem entrar em casa.
Vale a pena voltarmos àquela notícia que nos define, mas que não é tratada, não é destacada pelas narrativas, porque é um excesso de realidade difícil de arrumar: chegamos a ter 1000 velhos abandonados nos hospitais, sobretudo nos períodos de férias; estamos a falar de pessoas que não têm qualquer doença ou que já tiveram alta, mas que não têm para onde ir, a família desapareceu em definitivo ou temporariamente. Este abandono atinge o pico nos períodos de férias, verão e Natal, mas é uma constante ao longo do ano.
Quando começamos a peneirar estes dados, recolhemos mais informação, que, apesar de triste, não é surpreendente: a maioria das pessoas abandonadas são mulheres, e não homens. Porquê? Porque há mais viúvas do que viúvos. Talvez. Mas eu gostava de testar outra hipótese que está relacionada com outros indicadores. Porque é que elas - na velhice - são mais abandonadas do que eles nos hospitais? Será pela mesma razão que leva muitas mulheres com cancro a serem abandonadas pelos maridos? Será pela mesma razão que leva a maternidade a prejudicar a carreira delas enquanto a paternidade não prejudica a carreira deles?
A questão é que os homens continuam a ser uns meninos, continuam a fugir das responsabilidades enquanto cuidadores de crianças e de velhos, neste caso de mulheres idosas. São elas que não fogem desta dificuldade. Elas podem dizer com toda a autoridade que os homens são uns meninos.
Se muitos homens abandonam as mulheres em contexto oncológico (o inverso é raríssimo), então não surpreende vermos que a maioria dos idosos abandonados nos hospitais é do sexo feminino. Porque se é verossímil imaginarmos um homem a abandonar a mulher debaixo do pretexto que "não tem feitio" para cuidar, o inverso é altamente improvável. Para mim, como homem, isto é intolerável; revela que o meu sexo é mais cobarde na hora h. E esta cobardia está a provocar uma grave crise social e demográfica.
No passado, com as mulheres em casa, as coisas resolviam-se. Mas, hoje em dia, as coisas não se resolvem da mesma maneira e, não por acaso, a crise da natalidade e a crise da velhice estão relacionadas com este tema: as mulheres já não conseguem fazer tudo sozinhas, pois também saem de casa para trabalhar. O problema é que os homens não querem entrar em casa.