Clara Viana, in Público
Mais um bispo que pede desculpa por declarações prestadas sobre os abusadores de menores na Igreja Católica. Depois de o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. José Ornelas, o ter feito na semana passada, foi agora a vez do bispo de Beja, D. João Marcos, que neste sábado pediu “perdão” por ter admitido que os padres abusadores possam ser perdoados.
Num comunicado enviado à agência Ecclesia, D. João Marcos retracta-se pelas declarações prestadas à SIC no passado dia 7: “Todos somos pecadores, todos somos limitados, todos temos falhas. Esta maneira de abordar não é muito católica. Na Igreja Católica, existe o perdão", disse então, numa entrevista que gerou uma acesa polémica e que, refere agora D. João Marcos, deu a entender que subestima “a enorme gravidade dos abusos sexuais de menores e que o perdão de Deus permite ao abusador retomar a sua vida normal”.
“De nenhum modo é esse o meu pensamento. Compreendo a decepção que provoquei dentro e fora da Igreja e a todos peço perdão”, assume no comunicado divulgado neste sábado. Onde assume também que “os abusos de menores são da máxima gravidade”.
Os seus efeitos são devastadores. Se praticados por homens dedicados a Deus, são ainda mais graves e são blasfémias”, acrescentou. D. João Marcos defendeu, a este respeito, que “não há lugar para os abusadores no sacerdócio” e que “as suspeitas verosímeis” obrigam a tomar medidas que evitem todo o perigo sobre menores, “incluindo o afastamento das tarefas pastorais”. “As pessoas que passaram por uma situação de abuso têm de ser uma prioridade. As suas necessidades de apoio e reparação devem nortear o nosso acompanhamento.”
Na lista que a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja entregou à CEP, a 3 de Março, constarão “nove situações” envolvendo suspeitas de abusos em Beja. Na entrevista à SIC, D. João Marcos disse ainda não ter os nomes porque saiu mais cedo da reunião. Até este sábado, 16 das 20 dioceses existentes já divulgaram publicamente o número de nomes de padres suspeitos de abusos que lhes foram entregues: receberam os nomes de 90 sacerdotes e dois leigos. Destes, já morreram 35. Até agora, só cinco dos padres suspeitos foram afastados de funções.
Numa entrevista ao Expresso, publicada nesta sexta-feira, o presidente da CEP, D. José Ornelas, assumiu que a conferência de imprensa do passado dia 3, em que os bispos portugueses analisaram o relatório final da comissão independente que investigou os casos de abuso sexual de menores no seio da Igreja Católica nacional, “não correu bem”. “Não foi fácil, não foi adequado.” “E eu também não fui feliz”, acrescenta.
Na ocasião, a hierarquia da Igreja não anunciou nenhuma das medidas que eram exigidas por vários sectores católicos: nem afastamento imediato dos padres abusadores e dos bispos que os tenham encoberto nem predisposição para indemnizar financeiramente as vítimas.