1.9.23

O "desequilíbrio" no Ensino Superior: do "esvaziamento" nas engenharias ao "recorde" na Educação Básica

Por Dora Pires com Carolina Quaresma, in TSF


Há, por um lado, quase 30 cursos ligados às engenharias que não tiveram candidatos, mas, por outro, os cursos relacionados com a Educação Básica preencheram a quase totalidade das vagas. A TSF falou com o bastonário da Ordem dos Advogados e com o presidente do Conselho de Escolas para perceber o que pode explicar estas diferenças no acesso ao Ensino Superior.


Os cursos de engenharia conseguiram ter as médias mais altas na primeira fase de acesso ao Ensino Superior, mas há também quase três dezenas de cursos desta área que ficaram sem alunos. Ouvido pela TSF, o bastonário da Ordem dos Engenheiros não vê qualquer problema nos cursos. Fernando Almeida Santos olha para a lista de colocações conhecida este domingo e garante que a questão não está na oferta.


"Quando o segundo curso ou o terceiro ou pelo menos nos 10 primeiros é Bioengenharia, com a melhor nota em Lisboa, e quando um dos cursos que não tem colocação é biotecnologia ligado às engenharias, nós temos que pensar que a questão não é o curso em si, porque esse teve procura até um determinado limite em determinado tipo de áreas geográficas, portanto, não pode ser essa a dimensão", afirma, sublinhando que "há qualquer coisa que está desequilibrada em Portugal".


O problema não é a qualidade de alguns cursos de engenharia que ficaram desertos. Na opinião do bastonário da Ordem dos Engenheiros, o que falta é tornar o interior do país mais atrativo.


"Portugal tem cerca de 11 milhões de habitantes, nem tanto, e vivem, essencialmente, na faixa litoral e as pessoas procuram na sua área de residência mais do que noutras partes. Eu penso que é uma questão geográfica e de algum descuido na forma como se faz a coesão territorial em Portugal, do ponto de vista daquilo que são as responsabilidades públicas, porquanto estão a potenciar este esvaziamento das escolas do ensino superior no interior", considera.


Fernando Almeida Santos afirma que, "provavelmente, também existe excesso de vagas de engenharia em escolas no litoral".


"Isso tem a ver com a autonomia das universidades e dos politécnicos e, portanto, desse ponto de vista, não há muito a fazer a não ser que haja imposição governamental. Há escolas a fecharem e cursos a fecharem porque se calhar, por exemplo, em Lisboa um determinado curso de engenharia tem mais de 150 vagas e um curso de 30 vagas na Covilhã ou em Viseu não são preenchidos", acrescenta.

Por outro lado, este ano, há um "recorde" na colocação de alunos que querem ser professores do Ensino Básico. António Castel Branco, presidente do Conselho de Escolas, entende que este é o resultado de um período em que não havia vagas, o que levou muitos jovens a procurar outros caminhos, que agora percebem que podem cumprir o sonho de dar aulas.


"Ao aumentar as vagas e aumentaram o número de candidatos número de colocações. Em Lisboa, o Instituto de Educação, em parceria com o IGOT, oferece um mestrado em Ensino de Geografia. Este ano, abriram as vagas novamente. Entretanto, todas as outras ofertas fecharam em Lisboa, porque não havia procura. Este ano, houve cerca de 100 candidatos para 15 vagas, salvo erro, portanto, ficaram muitos candidatos de fora à procura do mestrado em Ensino. Ou seja, neste momento, o que aconteceu é que houve um desinvestimento também das universidades na formação em ensino, motivado por ter havido uma série de anos com falta de candidatos. Começaram a fechar a oferta, mas agora que há candidatos, porque já há falta de professores e as pessoas já optam novamente pelo ensino, não há oferta que chegue", explica.