4.9.23

Subida das taxas Euribor está (tudo o indica) a terminar

Sónia M. Lourenço, in Expresso

Em agosto, taxa a 12 meses caiu pela primeira vez desde final de 2021, taxa a seis meses estabilizou e a três meses ainda subiu


Depois de ano e meio sempre a aumentar, a subida das taxas Euribor está, tudo o indica, a terminar. Em agosto, a média mensal da taxa a 12 meses recuou pela primeira vez desde dezembro de 2021, e estabilizou no caso da taxa a seis meses. Na Euribor a três meses ainda subiu, mas os contratos de futuros sinalizam que os aumentos terminam até dezembro e serão residuais. São boas notícias para as famílias portuguesas com empréstimos para comprar casa, com fim à vista no agravamento das prestações. Mas podem demorar alguns meses a fazer-se sentir.

Depois de anos em território negativo, com mínimos históricos em dezembro de 2021, as taxas Euribor começaram a subir no início de 2022, numa escalada contínua até este verão, que as levou a atingir os níveis mais altos desde novembro de 2008. Muito por causa do endurecimento da política monetária do Banco Central Europeu (BCE), para combater a inflação.

Mas, essa trajetória estará a terminar. Na taxa a 12 meses, agosto marca mesmo a primeira queda da média mensal desde o final de 2021. A 30 de agosto (data de fecho desta edição), essa média estava nos 4,072%, o que compara com uma média mensal de 4,149% em julho. Ao mesmo tempo, regista-se uma estabilização na taxa a seis meses. De novo a 30 de agosto, a média mensal estava nos 3,943%, quase inalterada face aos 3,942% de julho. Só na taxa a três meses a média mensal continuou a subir em agosto, estando a dia 30 nos 3,78%, quando em julho ficou nos 3,672%.

As taxas Euribor estão ainda longe dos máximos de 2008, quando ultrapassaram os 5%. E assim devem permanecer

Os contratos de futuros sobre a Euribor a três meses — que traduzem as expectativas dos mercados financeiros para a evolução desta taxa — indicam que os aumentos estão quase a chegar ao fim. A Euribor a três meses deverá subir para 3,855% em setembro, chegando aos 3,92% em dezembro, mês em que será atingido o pico. Isto significa que os aumentos até lá serão residuais. São valores longe dos máximos atingidos em 2008, quando as taxas Euribor ultrapassaram os 5%.

BCE SOBE MAIS?

O que explica o fim da subida das Euribor? A resposta está, mais uma vez, na política monetária do BCE. Após nove aumentos consecutivos das taxas de juro de referência no espaço de cerca de um ano, é grande a expectativa sobre qual será a decisão do Conselho do BCE na próxima reunião, agendada para 14 de setembro. “Podemos subir ou podemos fazer uma pausa”, apontou Christine Lagarde, presidente da instituição, na conferência de imprensa onde explicou o aumento dos juros decidido no final de julho. E frisou que a decisão será “dependente dos dados”, tanto para setembro como para as reuniões seguintes.

Ainda assim, no final da semana passada, no simpósio de Jackson Hole, nos Estados Unidos, Lagarde frisou que a “guerra” contra a inflação ainda “não está ganha”, apesar “dos progressos que têm sido feitos”. Declarações que parecem apontar no sentido de as taxas de referência do BCE poderem ainda subir, seja já em setembro ou não.

Os mercados financeiros antecipam, contudo, que o aumento dos juros pelo BCE está perto do fim, expectativa que está incorporada no preço dos ativos. Nomeadamente nos contratos de futuros sobre a Euribor a três meses, que esperam que esta taxa desça a partir de janeiro de 2024.

É por esse momento que aguardam ansiosamente as muitas famílias portuguesas com empréstimos para comprar casa, que viram a prestação mensal disparar desde o início de 2022. Segundo os dados do Banco de Portugal, há 1,5 milhões contratos de crédito à habitação em pagamento no país, sendo que 93% têm taxa de juro variável indexada às Euribor nalgum dos seus prazos (a maior fatia cabe à taxa a seis meses, seguindo-se a taxa a 12 meses, e, por fim, a taxa a três meses). Como resultado, a prestação sobe (ou desce) com o aumento (recuo) destas taxas.

A descida das taxas deverá ser lenta. Os contratos de futuros sinalizam que a Euribor a três meses ainda estará nos 3,69% em junho de 2024. É um valor abaixo dos 3,78% da média de agosto (até dia 30) deste ano, mas acima dos 3,536% de junho também deste ano. Como a frequência da atualização das prestações depende do indexante do contrato — trimestralmente na Euribor a três meses, semestralmente na taxa a seis meses, e anualmente na taxa a 12 meses — isto significa que, em muitos casos, ainda podem subir antes de baixar.