Avida política nacional perde-se em querelas sem fim. As infindáveis lutas partidárias, de fraco conteúdo, retiram espaço à discussão profunda sobre os problemas do país, as razões do nosso atraso, bem como ao debate sobre o que há a fazer para o ultrapassar. Não se vislumbra estratégia que nos retire da pobreza em que nos encontramos e que reduza a condições dificílimas de existência de quase metade dos portugueses. Nem se vislumbram as condições políticas para que essa discussão venha a ter lugar, com vista à construção de pactos políticos firmes e duradouros, que deem um rumo ao país e garantam aos cidadãos segurança na governação. Parece que queremos ser pobres. Não admira que muitos dos jovens qualificados, sentindo que Portugal deles desistiu, desistam de Portugal.
Esta situação impede a solução dos problemas do país. A título de exemplo, retiro três, da esfera da Educação, a saber:
1. Luís Cabral, professor na New York University, veio às Conferências do Estoril dizer, entre outras coisas, que a Educação de Infância é possivelmente o nível com maior retorno potencial para o desenvolvimento económico das nações e para a construção de sociedades justas e sustentáveis. Constatou, por exemplo, as enormes diferenças de desenvolvimento que é possível identificar aos 2 ou 3 anos de idade, em crianças expostas a diferentes ambientes e estímulos. Há muito que Portugal já deveria ter uma rede universal e gratuita de educação para a infância, paralelamente a uma forte política de incentivo à natalidade e apoio às famílias.
2. A instabilidade da Educação Básica e Secundária mantém-se. Já foram anunciadas greves para o primeiro dia de aulas e ao longo do mês de setembro. Continua a contenda sobre o tempo de serviço congelado e não-devolvido aos docentes. Conhecidos os resultados da colocação de professores, restaram 858 horários por atribuir. Não há docentes suficientes para preencher as necessidades, o que se vai agravar com as aposentações e determinar que muitos alunos fiquem sem todos os professores (pelo menos profissionalizados). Retirados os créditos horários para a recuperação das aprendizagens, haverá menos condições de apoio aos mais penalizados pela turbulência escolar. A burocracia, que asfixia as escolas e os professores, orienta todos para a transição de ano. A avaliação externa, cada vez menos exigente, vai traduzindo os pobres resultados nas várias disciplinas.
3. Publicados os resultados da primeira fase do acesso ao Ensino Superior, ficámos a saber que foram colocados 49 438 estudantes. Quantos ficarão pelo caminho porque não conseguem alugar um quarto, ter acesso a uma residência ou suportar os custos da frequência universitária? As bolsas não são suficientes nem resolvem tudo. Os portugueses têm rendimentos baixíssimos face ao custo de vida, que continua a aumentar. Em 2022 foram 10,8% os estudantes que abandonaram as suas licenciaturas no 1.º ano. O sistema produz anualmente cerca de 94 000 diplomados. Mas, paradoxalmente, em apenas um ano abandonaram o país cerca de 128 000 trabalhadores com Ensino Superior, muitos deles jovens. Que sentido faz tudo isto?
Professor do Ensino Superior