16.2.08

As dimensões da pobreza

Dora Loureiro, in As Beiras on-Line

Crise à parte, a pobreza é um dos problemas graves, em Portugal. A taxa de pobreza da população portuguesa baixou dois por cento, entre 2004 e 2006, situando-se em 18 por cento, segundo o INE. Mas o país continua, ainda assim, a ter o mais elevado nível de pobreza da União Europeia, uma realidade que obriga ainda a muitos cuidados com as políticas sociais, na protecção da família e dos mais desfavorecidos. Até porque o índice apontado se refere à situação após distribuição dos subsídios sociais, uma vez que, antes da entrega dessas verbas, a taxa de pobreza situa-se nos 25 por cento.

São, portanto, muitos os portugueses que vivem abaixo do limiar da pobreza. Enquanto a desigualdade na distribuição de rendimentos se agrava também em Portugal: enquanto 300 mil famílias têm falta de rendimentos, as 100 maiores fortunas cresceram 36 por cento em 2007.

Com a pobreza avolumam-se os problemas sociais, é mais difícil o combate ao analfabetismo e ao abandono e insucesso escolar e tende a aumentar o número de famílias e crianças em risco. Dificuldades que o desemprego elevado (apesar da ligeiríssima diminuição para 7,8 por cento) tornam ainda mais complicadas de resolver.

A este cenário não será alheio o aumento da criminalidade, em cerca de 10 por cento entre 2000 e 2006. Mau grado o ministro da tutela continue a defender que a criminalidade estabilizou nos últimos anos e que Portugal está entre os dez países mais seguros do mundo, a avaliar pelos dados de uma tabela elaborada por uma organização independente internacional.

Mas pobre é o que se oferece dizer também da prestação da oposição parlamentar à maioria socialista. Pelo menos em parte, a oposição parece estar menos preocupada com as acções do primeiro-ministro no presente, algumas a exigir séria atenção, e mais interessada em encontrar algum passado de má fama no currículo de José Sócrates.

Afinal, num momento a que se assistem a medidas que implicam muitas e profundas alterações em áreas vitais da sociedade – saúde, ensino e justiça – torna-se exigível termos uma oposição mais empenhada em apresentar alternativas sérias e viáveis, do que em perder-se em episódios mais ou menos rocambolescos.
Mais que olhar para o passado, é aconselhável que estejam atentos ao presente do líder do governo e, quiçá, também ao futuro.