Sofia Branco, in Jornal Público
Educação no centro do debate das jornadas parlamentares do PS, com algumas vozes a pedirem um novo rumo para a reforma
O ministro do Trabalho, Vieira da Silva, rejeitou ontem, num discurso proferido nas jornadas parlamentares do PS, que decorrem até amanhã na Guarda, os críticos que, dentro do Partido Socialista, têm acusado o Governo de "insensibilidade social".
Em nome do Governo (que ontem também se fez representar pelo ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva), Vieira da Silva insistiu que a reforma do modelo social proposta pelo executivo é "de esquerda" e "progressista", numa alusão às recentes críticas do deputado Manuel Alegre. Mas ontem, ao que o PÚBLICO apurou, as críticas de Alegre foram secundadas por um número significativo de deputados socialistas, principalmente no que toca ao programa Novas Oportunidades.
No seu discurso perante os deputados do PS, Vieira da Silva explicou que o Governo tem procurado conciliar "políticas sociais sustentáveis" com a necessidade de "consolidação das contas públicas". O PS, corroborou o líder parlamentar, Alberto Martins, "é o único partido capaz de casar o rigor e a disciplina das contas públicas com uma nova geração de políticas sociais e de reformas". Porém, recordando algumas propostas socialistas em discussão, como a extensão da licença de paternidade para dez dias úteis e o reforço da protecção dos trabalhadores em caso de acidentes ou doenças profissionais, Alberto Martins reconheceu que as medidas sociais adoptadas "são ainda insuficientes" e é necessária "uma atenção constante à pobreza e à desigualdade de rendimentos".
O debate interno entre os socialistas centrou-se ontem no tema da educação. Algumas vozes apontaram ao Governo a necessidade de um novo rumo político, que recentre a reforma da educação nos professores como agentes da mudança e que não os transforme em bodes expiatórios. Qualificar os portugueses foi outro dos desafios identificados pelos deputados presentes nas jornadas que defendem uma maior aposta nas políticas sociais - o tema das jornadas que decorrem na Guarda.
O líder do PSD, Luís Filipe Menezes, acabou por ser o único político da oposição a ser nomeado directamente pelos socialistas. Primeiro por Alberto Martins, que criticou a sua "agenda política estreita, autárquica e populista" e o acusou de "romper acordos assinados", referindo-se ao compromisso PS-PSD face à lei eleitoral autárquica.
E, depois, com o ministro Santos Silva a reagir às declarações de Luís Filipe Menezes a propósito da manifestação marcada para dia 7 de Março - que inicia a Semana de Luta da Frente Comum -, classificando-a como "o ponto de viragem irreversível na popularidade do Governo e na construção de uma mudança".
Santos Silva disse que Menezes "não tem agenda, não tem iniciativa" e a desafia Menezes a apresentar "propostas e alternativas" e a "fazer oposição ao Governo".