Filomena Fontes, in Jornal Público
Alerta da Sedes recebido com críticas pelo ministro do Trabalho, que se insurge contra "dramatismo"
Directamente interpelado a agir perante "a espiral descendente em que o regime parece ter mergulhado" para o qual a Sedes (Associação para o Desenvolvimento Económico e Social) alertou, o Presidente da República convocou o país a ter confiança em si próprio para não se deixar submergir pelo desalento. "Não nos podemos resignar perante as dificuldades. É preciso mobilizar os portugueses para as vencer", declarou. "Convido os portugueses a trabalhar para vencer as dificuldades", apelou ainda Cavaco Silva, escusando-se a tecer comentários sobre as questões concretas que o documento da Sedes suscita, por não o conhecer, e que ontem levantou um clamor de reacções, desde a Igreja a todas as forças partidárias.
Num diagnóstico sombrio sobre os bloqueios que o país enfrenta, a Sedes constatou "um mal-estar-difuso", que "alastra e mina a confiança à coesão nacional" e alertou para "a emergência de uma crise social de contornos difíceis de prever, se a espiral decadente continuar".
"Não conheço quais as razões, os estudos ou indicadores que permitam uma afirmação com esse dramatismo", reagiu o ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, lembrando que "o investimento voltou, as contas do Estado estão hoje a caminho de estarem na ordem, e mesmo a criação de emprego registou os melhores sinais desde 2000". Insurgindo-se contra quem "cria um clima de desânimo", Vieira da Silva sustentava ser "tão prejudicial para o país esquecer os problemas, como dar-lhes uma dimensão que aparece aos portugueses como inultrapassável".
"Importante" foi como o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga, recebeu o alerta da Sedes, mas sobre o qual entende dever reflectir-se "sem alarmismo". "Deve ser acolhido por todos e em particular pelos responsáveis do país para prevenir que essa crise aconteça", afirmou.
Para o padre Lino Maia, que preside às IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social), o mal-estar deve-se a um "Estado que abafa as iniciativas da comunidade e das instituições de solidariedade".
Visados, também directamente, no documento da Sedes, os partidos com assento parlamentar reagiam, entre um comedido "diagnóstico correcto" pelo líder parlamentar do PSD, Santana Lopes, e a responsabilização do Governo socialista pela iminência de uma crise social de proporções imprevistas. "É um facto que existe na sociedade portuguesa um enorme mal-estar em resultado das políticas de cerceamento de direitos sociais, laborais e até políticos", avaliava Rui Fernandes, da comissão política do PCP, para quem é ao PSD e ao PS que se deve pedir responsabilidades. E criticando, por isso, que a Sedes tratasse os partidos por igual.
Para João Semedo, do BE, é no "crescimento económico medíocre" e no "desequilíbrio estrutural dos rendimentos" que se fundam as razões da crise , para a qual, diz, contribuiu" a redução significativa das despesas sociais do Estado" a que se assistiu nos últimos anos. Preocupado manifestou-se o deputado Nuno Melo, do CDS, não só pelo desconfiança no sistema político, mas também na justiça. "Devemos estar atentos a estes sinais", reagiu. Admitindo que as reformas lançadas pelo Governo "têm impacto" na vida das pessoas, o porta-voz do PS, Vitalino Canas, garantia que há também "resultados".
"Não nos podemos resignar perante as dificuldades. É preciso mobilizar os portugueses para as vencer"