in Jornal de Notícias
Vítimas deixam países sem documentos para não serem repatriadas
São 2,5 milhões as pessoas que, segundo estimativas das Nações Unidas (ONU), são anualmente vítimas de tráfico humano e das suas várias formas de exploração. Sem documentos, são muitas as dificuldades que passam para se conseguirem legalizar nos países onde são depositados por quem os traficou. Em Portugal, reclama-se a aplicação efectiva da legislação que confere a essas vítimas o direito de regularizar a sua situação (ver caixa ao lado).
Exemplo desse drama é Sekou Oumar Balde, um jovem senegalês que foi levado pelas redes de tráfico humano para Espanha com a promessa de uma vida melhor. Detido nas Canárias foi "empurrado para Portugal, onde enfrenta dificuldades para regularizar-se, apesar de a legislação prever a protecção dessas vítimas.
Oriundo de uma família humilde, aos 25 anos, Sekou confiou na palavra de um homem que, por 1500 euros, prometeu que o levaria legalmente para a Europa, onde lhe arranjaria trabalho e documentação legal.
Depois de deixar o Senegal a em Dezembro de 2003, o jovem, agora com 29 anos, passou por Mali, Argélia e Marrocos. Em Junho de 2004, chegou às Canárias, sem documentos para não ser repatriado. Foi deixado, então, numa cidade "algures no Sul" de Espanha. Após dois meses a pedir "esmola para comer" e a dormir nas ruas, Sekou veio para Portugal trabalhar na construção civil. Sem documentos, os patrões não "fizeram contrato de trabalho" nem descontaram para a Segurança Social.
Foi só em 2007 que encontrou um trabalho nas obras com contrato temporário. Agora está inserido no mercado de trabalho, faz descontos, tem habitação, protecção de saúde e cumpre todos os requisitos fixados na lei para prorrogar a sua permanência para efeitos de trabalho.
Através da Associação Solidariedade Imigrante, entregou um pedido ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, ao abrigo da nova Lei de Imigração, que prevê que às "vítimas de tráfico humano e acções de auxílio à imigração ilegal lhes seja concedido o direito de regularizar a estada em Portugal, sem apresentar prova de entrada legal". Porém, Sekou ainda está sem visto.