Isabel Leiria, in Jornal Público
Os quase 40 mil licenciados que estavam inscritos no ano passado em centros de emprego são sobretudo mulheres, jovens e da área das Ciências Sociais
A situação varia de escola para escola, mas, olhando para os cursos que mais estão a contribuir para o desemprego, surgem à cabeça formações como Psicologia, Serviço Social, Economia, Educação e até áreas menos previsíveis, como Enfermagem.
Só em Psicologia, existiam, em Dezembro de 2007, cerca de mil licenciados inscritos em centros de emprego. Enfermeiros eram para cima de duas centenas. No caso do Instituto Superior de Saúde do Vale do Ave, 49 dos 66 diplomados em Enfermagem no último ano lectivo estavam nesta situação. Os cursos de Direito nas prestigiadas universidades de Lisboa e de Coimbra também não conseguem dar vazão a todas as centenas de jovens que formam anualmente e contribuíram para este universo com mais de 100 desempregados cada.
Estes são apenas alguns dos muitos dados que se podem retirar do estudo A procura de emprego dos diplomados com habilitação superior, divulgado ontem pelo Ministério da Ciência e Ensino Superior. Trata-se do primeiro levantamento de inscritos nos centros de emprego do continente com a indicação (para a maioria da população) do curso e escola que frequentaram.
Globalmente, em Dezembro de 2007, estavam registados nos centros de emprego 39.627 diplomados do ensino superior, o equivalente a 4,5 por cento da população entre os 15 e os 64 anos que tem esta formação. O número de desempregados deste nível será, no entanto superior, já que nem todos se inscrevem nos centros. As últimas estimativas do INE apontavam para um valor próximo dos 60 mil.
Outras características desta população: são jovens (75 por cento têm menos de 35 anos), inscreveram-se há menos de um ano (75 por cento), estão particularmente concentrados na Região Norte (41 por cento) e são maioritariamente mulheres. Elas já estão em maioria na população geral desempregada, mas a dificuldade em encontrar trabalho parece agravar-se com o aumento das habilitações: a taxa passa de 59 por cento de inscritas sem habilitação superior para 71 por cento entre as que têm esse nível de ensino.
Mas, mais do que traçar o perfil geral do desemprego qualificado, o estudo (que será actualizado e divulgado de seis em seis meses) permite perceber quais as instituições e cursos com mais dificuldades de empregabilidade, pelo menos no que respeita a uma inserção rápida.
As Ciências Sociais e do Comportamento são as mais representadas: constituem oito por cento do total de pessoas formadas e 13 por cento dos inscritos nos centros de emprego. As licenciaturas em Psicologia contribuem muito para esta situa-
ção, encontrando-se no topo da tabela com maior número de desempregados instituições públicas e privadas, do litoral e do interior. Humanidades e Serviços Sociais destacam-se também pela negativa. A Formação de Professores é a área com mais inscritos há um ano (20 por cento).
De resto, o estudo também mostra que o desemprego atinge de igual forma os jovens formados no ensino público e no privado, atendendo mais uma vez ao peso relativo de cada subsistema. Já o mesmo não acontece quando se olha para o tipo de ensino, com uma contribuição relativa superior do ensino universitário para as inscrições em centros de emprego, face aos politécnicos.
Os licenciados são os mais atingidos pelo desemprego, mas existem ainda 457 mestres e 66 doutorados (0,2 por cento) inscritos em centros de emprego.
Apesar da dimensão dos números, o estudo também mostra que a situa-ção para os jovens licenciados não tem piorado. O número de inscritos em centros de emprego em Dezembro de 2007 diminuiu 6,5 por cento em relação ao mesmo mês de 2006. E manteve-se praticamente igual ao valor de Dezembro de 2003. Com uma diferença: ao longo deste período, a população com habilitação superior aumentou 20 por cento, o que "revela a capacidade do mercado de trabalho para absorver os novos diplomados".
A dificuldade em encontrar trabalho parece agravar-se para as mulheres quando aumentam as habilitações 75% dos inscritos nos centros de emprego são jovens com menos de 35 anos e 41 por cento são oriundos do Norte.