Patrícia Viegas, in Diário de Notícias
2,5 milhões de seres humanos são traficados em todo o mundo
Os governos mundiais têm de abandonar a forma negligente como tratam o tráfico de direitos humanos e passar à acção para combater o monstro da escravatura moderna.
Esta mensagem foi ontem deixada, em Viena, pelo director da agência da ONU contra a Droga e o Crime, Antonio Maria Costa, na abertura da primeira grande conferência da organização dedicada a este tema.
O evento, que termina amanhã, reúne 1 200 delgados mundiais, desde responsáveis políticos a organizações não governamentais, passando por especialistas e vítimas. O debate vai centrar-se num problema que rende, por ano, 21 mil milhões de euros (31 mil milhões de dólares) aos traficantes de seres humanos.
A ONU estima que este tipo de tráfico atinja 2,5 milhões de pessoas em todo o mundo - cerca de 80% delas são mulheres e crianças. O seu destino é normalmente a exploração sexual, o trabalho forçado, o tráfico de órgãos ou de partes do corpo. Acredita-se que pessoas de 127 países tenham sido traficadas para 137 países para serem exploradas.
Na abertura desta conferência estiveram estrelas como o cantor latino Ricky Martin ou a actriz inglesa Emma Thompson. "Eu próprio testemunhei os horrores do tráfico de pessoas durante uma viagem que fiz à Índia e na qual consegui salvar das ruas de Calcutá três raparigas", contou, citado pela AFP, o cantor porto-riquenho que depois criou uma fundação para crianças. "Esta é a terceira maior economia negra depois da droga e das armas", lembrou a conceituada actriz, que é presidente do grupo de direitos humanos Helen Bamber Foundation.
Mas numa altura em que as discussões sobre o tráfico de pessoas anda muito à volta da prostituição, Steve Chalke, da Stop the Traffik, lembrou que comer chocolates feitos a partir de cacau apanhado por crianças africanas escravas é como "ter sangue nos dentes". E lembrou que na Costa do Marfim há 12 mil destas crianças que foram trazidas à força do Mali.