Mário Cruz e André Pereira com Lusa, in Correio da Manhã
Marvila e Castelo mais vulneráveis à pobreza
A Junta de Freguesia de Marvila acusa os serviços centrais de apoio do Ministério da Segurança Social e da Câmara Municipal de Lisboa de inércia para resolver os problemas da pobreza e do envelhecimento.
A reacção de Belarmino Silva, presidente da Junta, surge na sequência do relatório apresentado ontem pelo Observatório de Luta Contra a Pobreza na Cidade de Lisboa, no qual Marvila e Castelo são apontadas como as localidades mais vulneráveis à pobreza.
Além da falta de dinheiro e de recursos humanos, comum à maioria das freguesias da Capital, Belarmino Silva aponta o dedo a outras lacunas preocupantes, como a inércia dos serviços centrais de apoio e Câmara “que ficam sentados e fechados nos gabinetes”. Para o presidente da Junta, os serviços centrais do Ministério da Segurança Social e a Câmara de Lisboa “não vão ao terreno para perceber como as coisas funcionam”.
Esta situação é, aliás, sublinhada no relatório elaborado pelo Observatório, no qual se constata que “a natureza, distribuição e localização dos equipamentos demonstram algumas incoerências entre as respostas e as necessidades das populações”. “A lista de planos, programas e medidas que actuam neste território é enorme”, porém, “só 10,9% afirmam objectivos directos no combate à pobreza”, pode ler-se no relatório.
Embora reconheça que “30% da população da freguesia é realmente pobre”, Belarmino Silva não poupa críticas a uma faixa significativa de cidadãos que “não quer trabalhar”. “Pior do que a pobreza de dinheiro, é a do espírito. Recebem o rendimento mínimo e não querem fazer mais nada”, acrescentou o autarca de Marvila. De acordo com o relatório ontem divulgado, Marvila é a freguesia com “maior número de alojamentos pertencentes à autarquia”, sendo mesmo a zona da Capital com “mais áreas de realojamento social” e com mais população, sendo a segunda com alojamentos superlotados.
FREGUESIA SOFRE COM VERGONHA
A Junta de Freguesia do Castelo é igualmente referida no relatório do Observatório de Luta Contra a Pobreza na Cidade de Lisboa, como sendo a mais vulnerável à pobreza a par de Marvila. Carlos Lima, presidente da Junta, defende que “não existem fenómenos de pobreza extrema”, mas reconhece que “começam a aparecer casos de pobreza encoberta”. Esse é, segundo o próprio, um dos maiores problemas dos cidadãos que “têm vergonha de o dizer ou assumir a sua condição”. O autarca refere que a média de idades dos habitantes da freguesia que dirige é próxima dos 65 anos. Quase 70% da população está aposentada, mas “os valores de reforma são baixos”. Para Carlos Lima, mais do que a pobreza, a principal preocupação está relacionada com “a solidão a que os idosos da freguesia estão sujeitos”. Os problemas financeiros pelos quais a freguesia atravessa não ajudam na resolução destas questões, mas, mesmo assim, Carlos Lima garante que “alguns medicamentos têm sido pagos a idosos necessitados”. A Misericórdia de Lisboa tem uma assistente social na freguesia, para acompanhar os idosos e outros casos de carácter social.
MAIORES PROBLEMAS DA CAPITAL
IDOSOS
Agostinho Jardim Moreira, presidente da Rede Europeia Antipobreza Portugal, realça a importância de existir “uma cultura de atenção para com os idosos” em detrimento de “armazéns de recolha e depósito da população envelhecida”.
CRIANÇAS
Também as crianças de rua são apontadas como um grande problema da Capital. Para Jardim Moreira “é importante saber quais as causas que provocam este fenómeno. Se existem é porque há famílias sem capacidade para as educar”.
IMIGRANTES
Os imigrantes são outro problema, pois necessitam de apoio para uma melhor integração na sociedade. “É necessário que estejamos preparados para fomentar uma sociedade multicultural baseada no amo”, refere Jardim Moreira.