Por Vítor Costa, in Jornal Público
As novas previsões do Fundo Monetário Internacional apontam para uma taxa de desempregode 11 por cento no próximo ano
A economia portuguesa vai recomeçar a crescer no próximo ano e deverá mesmo ultrapassar o crescimento previsto para a zona euro, voltando assim à convergência com os seus parceiros da moeda única. As boas notícias foram dadas ontem pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que reviu em alta as previsões que havia feito em Abril deste ano, tanto para Portugal como para a generalidade das economias mundiais.
As previsões divulgadas a partir de Istambul, onde o FMI esteve reunido e onde se deparou com fortes protestos na rua, não escondem, no entanto, a actual realidade da economia nacional. Este ano a actividade económica ainda deverá recuar três por cento e o crescimento previsto para 2010 não deverá ultrapassar os 0,4 por cento. Perante estas notícias, ontem, o ministro das Finanças reagiu com prudência. "Temos de ser muito prudentes e cautelosos e só quando tivermos sinais firmes e seguros de que o crescimento é sustentado e que as coisas começam a melhorar no mercado de trabalho [é que] devemos tirar os apoios que estão no terreno na economia e fazê-lo de forma faseada", referiu em declarações citadas pela agência Lusa.
Desemprego dispara
As cautelas de Teixeira dos Santos devem-se aos próprios avisos do FMI, no sentido de que não há segurança quando à robustez da retoma e quanto ao tempo que será necessário para que as economias retomem os níveis de crescimento anteriores à crise financeira internacional.
Mas os principais receios prendem-se com outra realidade. Com um ritmo de crescimento débil, a economia portuguesa não será capaz de criar empregos que anulem a destruição de postos de trabalho e, como tal, a taxa de desemprego irá crescer para cerca de 11 por cento da população activa. E aqui, o Fundo não alterou a sua estimativa face às projecções que havia feito em Abril, quando previa que a economia portuguesa recuasse 4,1 por cento este ano e 0,5 por cento no próximo. Ou seja, os melhores dados para a economia nacional não terão efeito sobre o mercado de trabalho, e a confirmar-se esta taxa de desemprego, será a maior em Portugal no último meio século (a mais alta é de 8,7 por cento em 1985), e passarão a existir mais de 600 mil desempregados.
A estes receios há a somar ainda um outro, não só para Portugal, mas para o mundo. A actual melhoria das condições económicas deve-se, em grande parte, aos apoios estatais que têm sido dados pelos Governos um pouco por toda a parte e, quando estes apoios terminarem, a economia corre o risco de voltar a mergulhar numa recessão. Ontem, o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, deu, no entanto, alguma tranquilidade em relação a estes receios ao garantir que os países da zona euro apenas deverão voltar a reduzir os seus défices orçamentais, ou seja, as ajudas à economia, a partir de 2011.