2.10.09

OMS destaca Portugal em matéria de VIH/sida

Por Ana Cristina Pereira, in Jornal Público

O coordenador nacional para a Infecção VIH/sida, Henrique Barros, não esconde o seu agrado. Se não é inédito é, pelo menos, "muito invulgar algum organismo internacional reconhecer uma política de resposta à infecção VIH/sida em Portugal". E a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Programa das Nações Unidas para o VIH/sida (Unaids) e o Unicef fazem-no no relatório anual que traça a evolução em direcção ao Acesso Universal.

"Portugal ilustra em simultâneo o desafio de aumentar os testes e a assistência na Europa e de dar as respostas possíveis à epidemia", assinala o documento, num texto sombreado, a destacar a experiência do país. Até há pouco, teste e assistência estavam circunscritos às estruturas formais da saúde. Faziam-se, sobretudo, como parte dos procedimentos de segurança do sangue, no diagnóstico de pessoas suspeitas de estar infectadas ou na avaliação de risco a pedido do paciente. O aumento da consciência de que se estava a perder a oportunidade de diagnosticar e de cuidar de infectados "conduziu a uma rápida expansão do teste".

"A cada ano, aproximadamente um milhão de testes são executados gratuitamente, a maioria como parte integrante da oferta universal do teste às grávidas", especifica o dossier ontem divulgado na página electrónica da OMS. Também é feito entre consumidores de drogas e em centros de tuberculose, o que "ajudou a duplicar o número de pessoas que entre 2006 e 2008 o fizeram, atingindo 85 por cento dos que recebem cuidados médicos". O número escalou desde que, em 2007, apareceram os testes rápidos nos centros de Aconselhamento e Detecção VIH.

"Apesar destes esforços", o relatório indica a permanência de "múltiplos problemas". Refere-se a "barreiras do acesso, horários inconvenientes, atitudes hostis com os grupos mais vulneráveis". A proporção de doentes diagnosticados já numa fase avançada continua "elevada": 60 por cento.

"São belíssimas notícias", reage Henrique Barros. A percentagem de pessoas detectadas numa fase avançada é alta, mas "está próxima da de outros países europeus". O epidemiologista julga estar perante "o resultado do aumento de testes: daqui a um ano, os valores serão mais baixos". A rede expandiu-se no sentido de se "começar a fazer testes onde estavam as pessoas que não iam aos serviços de saúde, como toxicodependentes, imigrantes clandestinos, trabalhadores do sexo", explica. Se o país "anda intensamente à procura de infectados", aparecem-lhe as infecções antigas. Os testes triplicaram em quatro anos nos centros de diagnóstico anónimos.

"Neste momento, Portugal é agora o oitavo país da UE em matéria de casos diagnosticados. O ideal era ser o último, mas já foi o primeiro. A Inglaterra triplicou o número de novos casos", exemplifica. Em Portugal, o número de infectados anda nos 20 mil. De acordo com o relatório, em Dezembro de 2008 havia 12.366 a receber anti-retrovirais. Henrique Barros diz que são mais. "Nem todos os hospitais enviaram a informação a tempo. São cerca de 15 mil."