Miguel Monjardino, in Expresso
O ano de 2010 será importante para África tentar recuperar importância e visibilidade nos debates sobre a evolução da política e economia internacional.
Os últimos 18 meses foram cruéis para as capitais africanas. Se olharmos para trás, vemos que desde o Verão de 2008 a maior parte das notícias internacionais se tem concentrado em acontecimentos no Médio Oriente/Golfo Pérsico, Ásia do Sul e China. (A campanha eleitoral e a eleição de Barack Obama é a grande excepção a esta tendência).
Pelo caminho, África e os seus problemas tornaram-se menos visíveis e também menos importantes para o resto do mundo. Em 2007, a promessa de acabar com a pobreza em África em 2015. Hoje, a promessa de travar o aquecimento global até 2020.
O ano que aí vem dará aos líderes africanos e aos seus parceiros internacionais a oportunidade de conceder muito mais visibilidade aos problemas e às promessas de África - a avaliação do Painel sobre o Progresso de África, as cimeiras do G-8 e do G-20 e, finalmente, a reunião das Nações Unidas onde será feita a revisão dos progressos ao nível da concretização dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.
A África do Sul quer aproveitar esta oportunidade. Pretória não deseja ser apenas um símbolo de reconciliação política ou continuar a viver à sombra da história e exemplo de Nelson Mandela. O país tem a geografia, o talento, os recursos, as infra-estruturas e os serviços necessários para desempenhar um papel regional e internacional mais importante. Além disso, terá em Junho e Julho do ano que vem o privilégio político de organizar o Mundial de futebol, um acontecimento que é visto pelos decisores sul-africanos como uma ponte para o futuro.
A grande dúvida é saber se, em Junho e Julho do ano que vem, a África do Sul vai desiludir ou surpreender.
Às áreas em que a África do Sul tem desiludido são basicamente três - educação, desemprego e violência. Tal como acontece em muitos outros países, o poder excessivo dos sindicatos dos professores do ensino primário e secundário tornou-se o principal obstáculo às reformas e à aprendizagem dos alunos mais pobres. Ao fim de 12 longos anos de "educação", o futuro da esmagadora maioria dos alunos é a ignorância e o desemprego que já aflige mais de 20% da população.
No que toca à violência nas cidades sul-africanas, os números falam por si. Em 2008 a polícia sul-africana matou 556 pessoas a tiro. Em 1976, um dos anos mais violentos no regime de apartheid, a polícia matou à volta de 653 pessoas. A crescente militarização da polícia é o sinal mais visível da dificuldade das autoridades em controlar o que se passa nas ruas do país. A evolução da violência urbana em termos internacionais complica ainda mais a tarefa daqueles que terão de manter a segurança durante o Campeonato do Mundo de Futebol.
Tudo isto mostra que há coisas que podem correr mal nas cidades e no acesso aos estádios sul-africanos.
Mas também há muitas coisas que podem correr bem. A África do Sul tem uma forte cultura desportiva e as suas infra-estruturas são de grande qualidade. Tal como acontece no resto do continente, os mais pobres adoram o futebol e fazem dos jogos um grande espectáculo de som, cor e energia.
Os decisores políticos, a sociedade e os jogadores farão tudo o que estiver ao seu alcance para surpreender e impressionar em termos internos e externos. O Mundial de futebol é uma enorme janela política para a África do Sul e para o seu Presidente, Jacob Zuma.
Pela parte que me toca, acho que os sul-africanos serão bem sucedidos. E também acho que o sucesso da África do Sul será benéfico em termos políticos para o resto continente. Mesmo assim, tenho várias dúvidas. O que acontecerá à África do Sul e aos países africanos depois de o Mundial de futebol acabar? O que é que vai acontecer a todo aquele talento e energia?
MEO e Piñera
No Chile, ao contrário de Portugal, MEO é sinónimo de Marco Enríquez-Ominami.
É um caloiro político com 36 anos, oriundo de uma família revolucionária chilena. MEO iluminou e baralhou a campanha eleitoral para as eleições presidenciais que se realizam, amanhã, no Chile.
As últimas sondagens sugerem que Sebastián Piñera, o candidato conservador, ganhará a primeira volta das eleições.
MEO está a disputar com Eduardo Frei, o candidato do centro-esquerda que tem governado o Chile nos últimos 20 anos - foi Presidente entre 1994 e 2000 e actualmente é senador -, a passagem à segunda volta das presidenciais.
O Chile está a mudar.
Número
15 anos depois do fim do apartheid, o Mundial de futebol é uma grande oportunidade política para a África do Sul e para o resto do continente. A grande questão é saber o que acontecerá depois de o Mundial acabar.
Barómetro
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A cidade inglesa de Todmorden (15 mil habitantes) está a tentar tornar-se autónoma do ponto de vista alimentar
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As finanças públicas na Grécia são um teste para a moeda única e um aviso a países fiscalmente irresponsáveis como Portugal
Texto publicado na edição do Expresso de 12 de Dezembro de 2009