Rui Martins, in Agência Ecclesia
Em Peniche, o apoio às necessidades sociais já não passa sem a colaboração de voluntários que perderam as suas fontes de rendimento
O Centro de Solidariedade e Cultura de Peniche encontrou uma forma de valorizar as aptidões dos desempregados e, simultaneamente, contribuir para as necessidades das instituições de solidariedade da paróquia.
O projecto de voluntariado «Vinde e Vede» conseguiu que quase 50 pessoas saíssem do isolamento e da esterilidade dos seus dias, colocando as suas capacidades ao serviço dos vários sectores da “Pastoral da Fraternidade”: acolhimento temporário para crianças em risco, lar de idosos, creche, jardim-de-infância, Rendimento Social de Inserção, Programa de Ajuda Alimentar a Carenciados, entre outros.
“Penso que esta é uma resposta muito importante para a crise que estamos a atravessar: as pessoas, quando perdem o trabalho, tendem a ficar em casa, desanimadas e deprimidas”, explica à Agência ECCLESIA o director de serviços do Centro, Jofre Pereira.
Ainda que a principal finalidade da iniciativa seja valorizar e aproveitar as competências dos desempregados em favor da comunidade, um dos efeitos mais importantes do projecto traduz-se na ajuda que os voluntários recebem dos paroquianos, nomeadamente em alimentos e vestuário.
“A Pastoral da Fraternidade tem uma coisa muito boa: os pobres trabalham para os pobres”, resume Jofre Pereira. A desocupação e o desânimo dão lugar à possibilidade de os desempregados “trabalharem por um mundo melhor”. É que as valências do Centro “envolvem muita gente”, pelo que a colaboração dos voluntários é essencial.
Durante o Advento, os inscritos neste projecto empenharam-se na montagem de alguns presépios paroquiais: “É uma forma de integração”, observa o director. “Em vez de ficarem voltados para a sua solidão e para os seus problemas, criam um espaço comunitário de partilha”, acrescenta.
“As situações que mais me tocam o coração – revela Jofre Pereira – são de pessoas que tinham a sua vida já estabilizada e que, de repente, ficaram sem trabalho e vêm aqui pedir comida e emprego.”
Em Abril deste ano, o Centro abriu uma «Loja Solidária», cuja principal finalidade consiste em ter sempre uma reserva de alimentos para socorrer os casos de pobreza extrema.
O financiamento deste projecto é assegurado pela venda, “a preços simbólicos”, dos bens doados por fábricas, grandes superfícies comerciais e lojistas da cidade, embora parte dos artigos seja oferecida às pessoas mais carenciadas.
O número de famílias beneficiadas com a Loja Solidária – aproximadamente duas centenas – cresceu após o Verão, quando cessaram os trabalhos sazonais relacionados com o turismo e a indústria da pesca.
A educação é outra das apostas sociais do Centro de Solidariedade e Cultura. Actualmente está prestes a terminar uma formação que qualificou 16 adultos com o 12.º Ano, através do curso de ajudante de acção educativa.
Na semana passada arrancou um programa dirigido a jovens com insucesso escolar ou que abandonaram o sistema de ensino. Se forem aprovados, os 16 alunos ficarão com uma certificação profissional e escolar ao nível do 9.º Ano. A partir de Janeiro procurar-se-á abrir outro curso nos mesmos moldes, duplicando o número de estudantes.
Para Jofre Pereira, esta é uma oportunidade para desenvolver os talentos pessoais. E sintetiza: "evangelizar é também promover a dignidade humana”.