in Jornal de Notícias
O director do centro de acolhimento de crianças e jovens Refúgio Aboím Ascensão defende que a criação de um serviço nacional de emergência infantil ajudaria a travar o aumento da delinquência juvenil e do absentismo escolar em Portugal.
Luís Villas-Boas considera que a criação de uma rede nacional de instituições análogas à que dirige - tuteladas pela Segurança Social e com relações com os tribunais e hospitais -, tem sido "bem acolhida" pelo Governo. "Se houvesse um conjunto de instituições análogas ao Refúgio Aboím Ascensão, baseadas num modelo preventivo do desvio comportamental, em poucos anos haveria muito menos delinquência juvenil".
De acordo com o psicólogo, se as crianças em situação de risco fossem "agarradas" mais cedo "em poucos anos deixaria de haver delinquência aos 12 ou 13 anos", já que, por vezes, quando chegam às instituições "já é tarde demais".
O director daquela instituição afirmou à Lusa que a implementação de uma rede nacional de instituições de acolhimento temporário para crianças poderia também contribuir para aumentar o número de adopções.
Segundo dados da Segurança Social, no final de Novembro deste ano estavam registadas nas listas nacionais de adopção 561 crianças: 567 foram integradas em famílias em situação de pré-adopção e 55 estão em vias de ser integradas. Só no Algarve, em Dezembro, estavam inscritas nas listas de adopção 84 candidaturas, mas há processos que se arrastam durante anos, sobretudo porque os casais procuram na maioria das vezes crianças com pouca idade.
"Os tempos de espera variam entre cinco a seis anos para uma criança até um ano de idade, sem patologias ou deficiências", afirmou fonte do Instituto da Segurança Social. Mas os processos podem durar apenas um mês com crianças entre os 10 e os 12 anos. Se for um grupo de irmãos que não podem ser separados ou uma criança mais pequena, mas com patologias ou deficiência, o tempo de espera que os casais têm que cumprir até à adopção também diminui substancialmente.
O Refúgio Aboím Ascensão, com capacidade para acolher 95 crianças até aos cinco anos, é uma das maiores instituições de acolhimento temporário de crianças do país e foi reconhecida em 1998 como um organismo com capacidade para intervir no âmbito da adopção. "O nosso objectivo é dar à criança uma família e não dar à família uma criança", conclui Villas-Boas.