2.2.10

Crianças podem mentir para chamar atenção

Alexandra Serôdio, in Jornal de Notícias

"As crianças têm uma capacidade fértil" para inventar histórias, contudo "não se deve considerar que elas mentem sempre ou dizem sempre a verdade". É desta forma que o psicólogo forense Carlos Poiares comenta o caso da menina de seis anos que terá inventado abusos sexuais por parte de amigos da mãe e com a conivência desta.

O caso data de 2005 e foi arquivado em Dezembro último pelo Ministério Público de Caldas da Rainha. Segundo o despacho do MP, "não existem indícios suficientes quer da ocorrência (abusos) quer da responsabilidade da arguida (mãe da menor)".

A menina, actualmente com 11 anos, acusava alguns amigos da mãe de a despirem e colocar "cenouras e cebolas no pipi, para depois fotografarem" e que "a mãe sabia o que se estava a passar e ficava a fumar à janela" de casa. No depoimento que prestou, a menor foi mudando os nomes dos alegados envolvidos.

O caso foi investigado pela Polícia Judiciária e a menor chegou mesmo a ter um auxiliar da escola a vigiá-la durante um ano.

Carlos Poiares alerta para o facto de alguns abusos sexuais inventados por menores "serem apenas chamadas de atenção", ou reflexos "de ruptura familiar mal resolvida". Segundo o professor de psicologia forense, os psicólogos forenses têm já formas de "espoletar situações" através de entrevistas específicas para menores.

O importante, ressalva, "é agilizar procedimentos para se perceber se há ou não contaminação do discurso" que pode ser feito através de adultos ou mesmo das notícias de televisão.

Para a pedopsiquiatra Ana Vasconcelos, estas situações "não são normais", mas alerta para a capacidade das crianças em fabularem. "Com este discurso tão estranho, a criança poderá querer chamar a atenção" refere, garantindo que os menores "têm muita capacidade para mentir".

Segundo a médica, "esta é uma questão da psicologia e não da lei", pelo que a menor deve ser acompanhada.