21.4.10

"Ou se entendem ou isto acaba mal"

in Diário de Notícias

O economista Daniel Bessa apelou a um acordo político que permita implementar o PEC


"Se o Governo chegar ao Parlamento com as propostas do PEC e elas não passarem, as taxas de juro sobem 2% num dia", antecipou o economista que falava em Portalegre durante a 16ª edição dos Encontros Millennium, uma iniciativa do banco, do DN, TSF e JN. "O PEC é um exercício muito sensato e sério", defendeu, considerando que os partidos que já passaram pelo Governo (PS, PSD e CDS-PP) "têm obrigação de se entender" num momento crítico para o país. "Entendam-se, por favor. Caso contrário, isto acaba mal".

Para o director-geral da Cotec Portugal, só há duas formas para colocar as contas públicas em ordem: "Ou se cobram mais impostos, ou se gasta menos". Na sua opinião, este ainda não é o momento para falar em crescimento. E por uma razão simples: "Os credores não deixam". "Isso era quando tínhamos crédito e poderíamos ter gasto o dinheiro em coisas que fizessem crescer a economia. Agora temos é de equilibrar as contas".

"Quando se chega ao ponto a que chegámos acaba em PEC", sintetizou Daniel Bessa, recordando não ser a primeira vez que o país se vê confrontado com a necessidade de equilibrar as contas públicas - foi assim em 77/78 e em 83/84, quando as pastas das Finanças foram ocupadas, respectivamente, por Vítor Constâncio e por Ernâni Lopes.

O economista confessou ter ficado surpreendido quando o primeiro-ministro prometeu não aumentar impostos, nem cortar na despesa, corrigindo o défice anual de 17 mil milhões de euros com a obtenção de mais receita em resultado do crescimento do PIB. "Sou um homem de contas e convivo mal com a ideia de enganar as pessoas. Para resolver o problema dessa forma era preciso que o PIB crescesse 6% ao ano até 2013". O que não irá acontecer. Tal como dificilmente se cumprirá a previsão de crescimento, bastante mais modesta, de 1,3% incluída no PEC.

De acordo com Daniel Bessa, a economia nacional "não vai crescer" nos próximos anos. Uma das razões é a estagnação do mercado nacional. Outra é a dificuldade em que também se encontra o principal parceiro português: "O ano passado, as nossas exportações para Espanha caíram mais de três mil milhões de euros, que correspondem a 2% do PIB".

Para ajudar a economia, o conferencista defendeu que os governos europeus deveriam discutir medidas concretas, entre as quais "encarecer" a moeda chinesa para que "comprem mais e exportem menos. É isso que espero do meu primeiro-ministro".