Cristina Santos, in Fátima Missionária
Alfredo Bruto da Costa esteve presente na Assembleia Regional dos Missionários da Consolata. Aos sacerdotes falou sobre o tema anual, pobreza e exclusão social
A questão da pobreza só pode ser entendida de forma clara se tivermos em conta a rede de relações em que ela se insere. O homem relaciona-se com Deus, com o outro e com os «bens-natureza-dinheiro». Três dimensões que estão interligadas. A relação dos homens com os bens não é facultativa. «Na medida em que nós somos corpo temos uma relação obrigatória com os bens materiais», explica o presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz. Eles são, portanto, necessários à subsistência do ser humano.
Mas, a relação do homem com os bens também depende da relação que o outro tem com os mesmos. «O meu acesso aos bens tem a ver com a medida em que os outros homens lhes acede». Também depende da relação com Deus. «É na medida em que eu for mais ou menos desprendido das coisas materiais que vou ter a equação da minha relação com os bens materiais».
Questiona seriamente uma afirmação comum: «Não há mal em ser rico. O problema está no apego às coisas». Pergunta então: «Num mundo em que morrem pessoas à fome, todos os dias, será possível ser-se rico sem apego à riqueza?». O problema está na omissão, considera. A relação com os bens pode ser «viciosa», independentemente da forma como são adquiridos.
O estudioso da questão ‘pobreza’, lembra palavras de Santo Ambrósio: «Quando dás ao pobre não lhe dás do teu, restituis-lhe o que lhe pertence». Em causa está o sétimo mandamento da Lei de Deus: «Não roubar». João Paulo II dizia, também, numa mensagem quaresmal: «partilhar é no fim de contas fazer chegar ao outro aquilo que lhe está destinado».
O direito à propriedade privada é um direito universal. «É um direito de todos os homens e não só de quem tem propriedade», recorda Bruto da Costa. Este não pode contrariar o princípio universal dos bens da terra. O que os cristãos e as sociedades ocidentais têm feito é defender o direito à propriedade daqueles que têm propriedade e não daqueles que não a têm, constata. Ora, «é com estes últimos que nós devemos estar mais preocupados. Os que tem propriedade sabem como defender-se», considera.