Miguel A.Lopes, Lusa, in RTP
Criada em 1992, a acção do Banco Alimentar não dá resposta a todos os pedidos de apoio
Mais de 28 mil voluntários participam numa nova campanha de recolha de alimentos, distribuídos por 1388 estabelecimentos comerciais de todo o país. Um dos coordenadores da iniciativa avança, numa primeira estimativa, que as pessoas estão a contribuir com mais alimentos, apesar da crise por que o país está a passar.Banco Alimentar contra a Fome promove campanha nacional
0 twitter"Quem costuma ajudar ajuda sempre e então agora ainda mais. Esta manhã uma senhora apareceu aqui com um carro cheio e ofereceu-nos os sacos todos", descreveu Carlos Rebelo, responsável pela recolha de bens alimentares em Loures.
Nos supermercados de todo o país, os voluntários do Banco Alimentar solicitam o contributo de um saco de bens alimentares, que vão direccionados para contentores. Posteriormente, estes contentores são encaminhados para os Bancos Alimentares Contra a Fome da região do supermercado. São 17 os bancos alimentares em todo o país. Depois, os alimentos são distribuídos por 1700 instituições de solidariedade já seleccionadas.
O Banco Alimentar distribuiu diariamente cerca de 90 toneladas de alimentos no ano passado. A instituição ajuda cerca de 275 mil pessoas, entre desempregados, idosos, crianças e famílias desestruturadas, mas também trabalhadores que não conseguem pagar os empréstimos.
"No último ano multiplicou-se o número de pessoas que tinham dois empregos e perderam um deles. Estas pessoas não contam para as estatísticas do desemprego, porque efectivamente não estão desempregadas, ainda têm um emprego. Mas têm muitas dificuldades em sobreviver, em fazer esticar o mês", disse Isabel Jonet. A directora da organização sublinha que estamos perante "um novo rosto da pobreza em Portugal".
"Estas campanhas têm essa particularidade: aproximam quem dá de quem recebe. Tudo aquilo que é recolhido em Lisboa é distribuído em Lisboa e tudo aquilo que é recolhido no Porto é distribuído no Porto", acrescentou. Para sublinhar a clareza do processo, Isabel Jonet nota que "se uma pessoa quiser seguir um pacote de leite até à mesa da pessoa pobre pode fazê-lo".
Além da campanha nacional de recolha, são disponibilizados vales de produtos seleccionados com o objectivo de "conseguir chegar á quase totalidade das localidades do país". A campanha "Ajuda Vale" decorre até 6 de Junho, em todas as lojas das cadeias Dia/Minipreço, El Corte Inglês, Jumbo/Pão de Açúcar, Lidl, Modelo/Continente, Pingo Doce e Feira Nova.
Ajuda não chega para todos os pedidos
Os pedidos de auxílio das famílias portuguesas aumentaram exponencialmente nos últimos meses, contam os responsáveis de instituições de solidariedade social. Estes têm, agora, de escolher os que consideram ser "os mais pobres".
"Há muita gente a necessitar que nós temos de excluir", conta um dos elementos da Conferência Vicentina de Nossa Senhora das Graças. Segundo Maria Odete, só na sua organização 20 famílias do Estoril que precisam de ajuda mas que "ficam de fora".
As Vicentinas passaram a socorrer mais 50 famílias nos últimos meses, o que corresponde a um aumento da procura de 120 para 170 famílias. Em consequência, o apoio do Banco Alimentar não chega para todos. "Dentro da pobreza temos pobres-pobres e pessoas apenas pobres", contou Maria Odete. Ao longo do mês, os produtos começam a escassear e as pessoas "sabem que se não estiverem cedo, a hortaliça não chega para todos".
Também na Conferência de S. Francisco de Assis de Massamá, a maior procura levou a novas regras. "Damos prioridade às famílias com filhos e aos idosos" e "já acontece ter de deixar de dar a uma família para dar a outra", lamenta o presidente da conferência de vicentinos.
Uma situação semelhante regista-se na Conferência de Nossa Senhora de Fátima, onde se assistiu a "um aumento de cerca de 60 por cento de novas famílias só nos últimos oito meses". "Nós gostaríamos de dar mais, mas não temos", lamenta António Feliz, cuja organização suporta cerca de duas mil pessoas (470 famílias).