Por António Marujo, in Jornal Público
Estratégia de acção conjunta está a ser debatida em encontro que decorre em Fátima até quinta-feira. Processo estará concluído daqui a um ano
Os bispos portugueses estão até quinta-feira reunidos em Fátima para decidir formas de trabalhar mais em conjunto. Nas jornadas de estudo, que ontem se iniciaram, está a ser debatido o documento Repensar juntos a pastoral da Igreja em Portugal. Trata-se de um processo de reflexão, que esta semana tem a conclusão da sua primeira etapa.
Na tarde de amanhã e na manhã de quinta-feira, já em assembleia plenária formal, os bispos poderão tomar decisões concretas sobre a continuação do processo, que deverá estar terminado daqui a pouco mais de um ano, em Novembro de 2011.
Em causa está sobretudo a forma de trabalhar mais em conjunto, de "juntar sinergias e não andarmos tão isolados", diz ao PÚBLICO o padre Manuel Morujão, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP). Sem que cada diocese, movimento ou instituição perca identidade ou autonomia, os bispos querem dotar a Igreja em Portugal de algumas linhas de força em comum, uma ideia que há mais de três décadas é perseguida pela CEP. O documento que serve de base a este processo acentua duas áreas de actuação concreta: a iniciação cristã e a missão da Igreja na sociedade. Trata-se, no fundo, de levar mais longe a questão da transmissão da fé, que a CEP discutiu nos últimos anos, e de responder às interpelações do discurso do Papa Bento XVI quando os bispos portugueses fizeram a visita ad limina ao Vaticano, há dois anos e meio.
Há, no entanto, questões como a mudança de estruturas nacionais ou a reorganização territorial das dioceses - um tema "tabu", como diz outro responsável da Igreja ouvido pelo PÚBLICO - há muito sugerida por várias pessoas dentro da Igreja, que deverão estar afastadas das decisões a tomar daqui a um ano. Para a reflexão, até amanhã de manhã, os bispos contarão com a colaboração de delegados das dioceses e as congregações religiosas, e com quatro convidados especiais: o presidente do Tribunal de Contas, Guilherme de Oliveira Martins, o reitor da Universidade Católica, Manuel Braga da Cruz, a jornalista Helena Matos e o advogado António Pinto Leite.
No processo de debate dos bispos, temas com o aborto ou o casamento homossexual não fazem parte da agenda. A não ser que apareçam referidos lateralmente, como elementos do diagnóstico da realidade que está a ser feito. A este propósito, o porta-voz da CEP faz questão de desmentir a notícia do DN de sábado passado: "Não tem nenhum fundamento nem consistência" a informação segundo a qual existiria um "guião" para as homilias dos padres criticando a decisão do Presidente Cavaco Silva de promulgar a lei sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
"Posso, pela minha cabeça, divulgar com as actuais tecnologias, uma posição que me pareça que vai salvar a humanidade. Mas não nenhum documento, com autoridade de nenhum bispo ou da CEP, a falar do assunto", garantiu o porta-voz.

